quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Momentos críticos em competição

Como combater os momentos críticos em competição


 

Todos os atletas já viveram momentos críticos em competição. Seja por maus momentos de forma física, por imprevistos, por incapacidade de gerir a pressão, por instabilidade emocional, por falta de confiança ou por não conseguir a concentração necessária para se superar. Estes atletas viram a sua performance afectada e ficaram aquém dos resultados. Quando isto acontece de forma repetida, o problema vai aumentado até chegar a ser crítico, destruindo a confiança, eficácia e a esperança de voltar a recuperar o seu nível ótimo de competição. Uma boa preparação mental por parte do atleta, torna-se numa vantagem competitiva, evitando percalços e aumentando a capacidade de gerir a pressão e tensão negativa nos momentos críticos.
 

DA INCONSISTÊNCIA AO PROBLEMA CRÍTICO

Quando a inconsistência competitiva começa a ser a regra, quando o atleta faz todos os esforços ao seu alcance para tentar combater os maus resultados e não é bem sucedido, o problema cresce até ao ponto de deixar marcas profundas de descredibilização da capacidade do atleta. Gera-se um ciclo negativo de crença sobre a capacidade de ultrapassar o problema, gerando como que um “trauma” à competição.
 
As estratégias psicológicas e a tenacidade mental são fatores cruciais durante períodos competitivos específicos e explicam porque razão a incapacidade de gerir estas estratégias mentais têm um impacto negativo na performance. Conhecer o perfil psicológico esportivo do atleta é uma mais valia para perceber como é que este funciona em situações em que a aplicação das capacidades esportivas mais contam. Isto quer dizer que a performance esportiva deve ser vista no contexto da interacção entre significação da personalidade, comportamentos e as variáveis psicofisiológicas, levando ainda em consideração os resultados esportivos derivados da análise dos momentos críticos em competição.

O QUE SÃO MOMENTOS CRÍTICOS

Momentos críticos podem ser definidos como casos ou situações que são fundamentais para o sucesso de uma competição. Estes momentos testem a habilidade dos atletas para terem o melhor desempenho quando é mais importante, exigindo um controlo extraordinário sobre os processos que ocorrem entre o corpo e a mente. Num jogo de ténis, um momento crítico pode ser uma oportunidade de quebra de serviço contra um jogador com um excelente serviço. No golfe, um momento crítico pode envolver a execução de uma tacada para atingir o green e ter a hipótese de fazer um birdie.

TRAÇOS PSICOLÓGICOS

Alguns atletas apresentam um constelação de traços de perfil psicológico em competição, que podemos chamar de constelação de fatores de risco. No Modelo de Elevado Risco de Percepção de Ameaça (MERPA) desenvolvido pelo Professor Dr. Roland A. Carlstedt. Este modelo tem por objectivo prever os riscos específicos das interacções entre corpo e mente que contribuem para o desenvolvimento dos sintomas físicos e psicológicos. Ele isolou alguns comportamentos primários de 1ª ordem:
  • Habilidade hipnótica, baixa ou elevada
  • Neuroticismo elevado/efeito negativo
  • Coping repressivo, baixo ou elevado.
De acordo com cada constelação particular derivada destas três variáveis de traços, assim também será proposta uma intervenção especifica para cada atleta de acordo com o seu perfil psicológico e dos comportamentos apresentados em competição.
A abordagem do MERPA, veio trazer um importante contributo no campo da intervenção e elaboração de Programas de Preparação Mental específicos para atletas. Este protocolo não assume que todos os atletas beneficiam necessariamente do mesmo tipo de intervenção e demonstrou que uma abordagem baseada na individualização para a melhoria é mais efectiva que uma aplicação de intervenção em massa. Erradamente, existe a tendência para se pensar que todos os atletas beneficiam da mesma abordagem, mas uma aplicação de um possível programa de preparação mental específico como a abordagem MERPA, irá trazer mais vantagens a atletas e treinadores.
 


AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO

Para a avaliação da problemática observada em competição e diagnóstico do perfil psicológico competitivo do atleta, podem ser utilizados vários instrumentos de medida, como por exemplo:
  • Inventário Psicológico de Execução Desportiva
  • POMS (Questionário do Perfil dos Estados de Humor)
  • Escala de Ansiedade de Zung
  • Escala Beck de Auto-avaliação da Depressão
  • Avaliações psicofisiológicas com aparelho de Biofeedback
  • Entrevista Estruturada de Diagnóstico
Será com base na triangulação das várias avaliações que se construirá o programa de preparação mental individual para o atleta.

PASSOS PARA A ACÇÃO

O que apresento em seguida e de acordo com o esclarecimento anterior não pretende ser a solução para todos os atletas que se encontrem numa situação problemática face aos resultados em competição. Descrevo um conjunto de passos que visam exemplificar algumas das estratégias mentais, que poderiam estar presentes para combater os momentos críticos que possam estar a impedir o atleta de expressar todo o seu potencial em competição. São passos generalistas que visam a exemplificação, ainda assim, pode ser útil para os atletas que se identifiquem com o exposto:
Passo 1: Percepção de receio/incapacidade, sempre que o atleta sentir receio ou incómodo face a uma competição futura, um sentimento de que não irá conseguir algo que espera alcançar, esse mesmo sentimento deverá funcionar como um alerta (ou seja esse mesmo receio irá funcionar como um marcador que lembrará o atleta para accionar as estratégias mentais aprendidas).
 

 
Passo 2: Alteração de crenças, o atleta deve ser informado acerca da alteração de algumas crenças inadequadas e mudá-las: vejamos, as limitações ou os sentimentos de incapacidade são temporários, ou seja, não duram para sempre – desta forma depende do atleta o tempo que irá permanecer com essa percepção de receio. Pode sempre transformar o receio em capacidade. Se pegarmos na palavra transformar e a levarmos à letra para o campo esportivo, é exatamente isso que acontece, o atleta pode conseguir transformar o seu estado de “incapacidade” para um estado de capacidade através da aprendizagem do treino de auto-regulação.
Esclarecimento: Cientistas Americanos e soviéticos ligados à psicologia esportiva demonstraram que os “humanos poderiam utilizar processos mentais para exercitar um grau de controlo sobre as suas funções autónomas.” É o denominado “treino de auto-regulação”.
A capacidade que o ser humano possui para controlar até um determinado grau o seu Sistema Nervoso Autónomo, permite que os atletas consigam controlar e reverter alguns sintomas fisiológicos associados ao medo e à instabilidade emocional. Podemos constatar que, por acção da força de vontade é possível aos atletas colocarem-se num estado facilitador de máximo rendimento, accionando os mecanismos fisiológicos e motores necessários para a realização dos movimentos utilizados para uma boa execução esportiva. Na verdade, o corpo transforma as suas estruturas internas de forma a que constituam um “estado de ser” compatível com a exigência competitiva.
O atleta que se encontra num estado de inconsistência competitiva beneficiará de um processo de aprendizagem de controlo das estratégias que irão conduzi-lo ao sucesso, e que este processo é como o treino, temos de experimentar e ir melhorando até alcançar o êxito. Na atualidade as vantagens da auto-hipnose nos esportes são inúmeras, pelo que apresentam-se como mais uma ferramenta ao dispor de atletas e treinadores para reprogramar atitudes, comportamentos e pensamentos capacitadores para a melhoria do máximo rendimento.
Passo 3: Alteração de comportamentos e pensamentos, Ao identificar algumas sensações que impediram o atleta de ter uma boa prestação (isso é construtivo se aprender com a situação) deverá fazer o seguinte:
  • imaginar a situação de competição como se estivesse lá, depois disso fechar os olhos e imaginar-se a alterar alguns comportamentos e/ou pensamentos que acha que lhe iriam servir para ter um melhor desempenho. E depois disso deverá “gravar” o que disse para si próprio e como isso o fez sentir-se.
  • Em seguida o atleta deverá descrever as situações, sensações, estados de humor, tais como energia/confiança/respiração/postura: Exemplo, “senti confiança nas minhas capacidades.”
  • Depois o atleta deverá comparar com aquilo que aconteceu exactamente na competição. Analisar as diferenças encontradas entre a situação imaginada e a real e reestruturar as estratégias de intervenção para a competição futura (aplicar isto no passo 5).
Passo 4: Constatação dos acontecimentos: Provavelmente aconteceu exactamente aquilo que receava…vejamos o paradoxo…ao pensar num receio ele materializa-se, isto é caricato, ao pensar no que se receia o corpo transforma o seu estado interno para dar a resposta de medo e incapacidade. O atleta sente perda de energia, perda de concentração, perda de confiança, confusão, irritabilidade, entre outros. Tudo aquilo que o atleta sente é o resultado da transformação interna do seu organismo por acção do pensamento.
Passo 5: Reestruturação da atitude, para reestruturar o processo mental o atleta deverá fazer o seguinte:
  • Sempre que se sinta receoso face a algo em competição, o atleta deverá colocar em acção o seguinte exercício: de forma imaginada deverá pensar na consequência daquilo que receia, depois para eliminar o receio e transformá-lo em algo construtivo, deverá pensar naquilo que é importante para a competição (estratégia competitiva, bom aquecimento, regulação do estado de humor, visualização da técnica, mobilização da energia) e dizer para si próprio que se continuar a pensar da forma inicial está a fazer sabotagem aos seus resultados – a partir daqui o atleta pode conseguir assumir o controlo e mudar para um estado de capacidade e facilitador (estás em controlo), alcançar a sua Zona ótima de Funcionamento.
 
ESCLARECIMENTO
Todos os atletas passam por momentos críticos em competição, só que uns conseguem controlar isso e sair desse estado, outros não. O receio não é o problema, o que se torna no problema é a incapacidade de alterar os estados do atleta. É aqui que o atleta tem de tomar consciência e investir algum do seu tempo e dedicação. Investir num programa de treino mental é importante para uma eficaz reprogramação mental para o êxito.
A reter: “ O corpo está à escuta da mente.”
É preciso ir aperfeiçoando a forma como o atleta comunica consigo próprio. O atleta deverá aprender a identificar algumas das coisas que o prejudicavam, e é a partir delas que tem de ir ganhando confiança (ou seja, tem de ir ajustando e aferindo as estratégias, até que estas funcionem) sem que se sinta diminuído, quando por vezes ainda não são suficientemente eficazes. Este é um trabalho continuo que acredito dar frutos quando aplicado de uma forma sistematizada.

PORQUE É QUE O ATLETA FICA RECEOSO

Aquilo que o atleta pensa e faz a seguir a ter identificado uma situação critica ou um receio, é exactamente aquilo que o faz evitar ou não esse próprio receio ou a sua consequência (que por vezes são exactamente a mesma coisa). A sensação de receio irá funcionar como um marcador/identificador que dá um alerta. Se a percepção lida for de ameaça, a partir deste alerta, irá activar o perfil psicológico competitivo do atleta, irá accionar o conjunto de traços que fazem o atleta ficar fora da sua Zona de Ótimo Funcionamento. Se o atleta pensa que não irá conseguir um bom desempenho porque se está a sentir receoso ou com falta de confiança (porque no passado assim aconteceu) e diz para si, que provavelmente desta vez também se irá sair mal, então sair-se-á mal mesmo.
Analogia: O seu corpo irá encolher os ombros e dirá: “Quem sou eu para argumentar os pensamentos e mensagens que tu estás a transmitir para mim.” Isto é a descrição perfeita da sabotagem! – isto é o que o atleta não deverá mais deixar acontecer.

DESMITIFICANDO O PROCESSO

O passado é isso mesmo, passado, o atleta deverá encarar o futuro com uma nova visão das suas capacidades – a capacidade para tomar na sua mão aquilo que quer fazer, pois estará a treinar o processo para chegar onde acredita que chegará. Porque o atleta quer, e não porque alguém acha que deverá. Os insucessos consecutivos em competição, vão pouco a pouco diminuindo a eficácia do atleta. Relacionado com esta situação acontece um fenómeno, que é a percepção de incapacidade face à tarefa que pretende realizar (por exemplo: nadar rápido; um melhor serviço no ténis).
Na grande maioria das vezes os atletas têm uma boa atitude, têm uma atitude positiva face à situação que se encontram. Tentam por todos os meios voltar a ser eficazes em competição, no entanto se não conseguem alterar a situação, muito provavelmente é porque a estratégia que estão a utilizar não é a mais correta e adequada às circunstancias e à sua forma de ser. Existe sempre uma grande probabilidade do atleta conseguir resolver o seu problema de baixo rendimento competitivo, através da aplicação de um programa de preparação mental individualizado e adequado às suas características, tal como tenho vindo a referenciar. É importante que o atleta entenda que o seu problema não é fixo e estático. O atleta deve tentar não se confundir com o seu problema, e entender, que tal como necessita de desenvolver alguns aspetos da sua preparação física, também necessita de desenvolver e treinar alguns aspetos psicológicos da sua preparação mental.
 
 


O PROCESSO DE COMBATE AOS MOMENTOS CRÍTICOS:


  • Acreditar que não consegue. Ao Acreditar que não consegue controlar a situação, o atleta faz uma antecipação de consequências negativas geradoras de ansiedade, ao que liga também o medo de não conseguir mais uma vez vir a ser bem sucedido. Tal como já referenciei, quando accionamos o medo, ao mesmo tempo no corpo sente-se um conjunto de sensações (batimento cardíaco acelerado, aumento da frequência respiratória, transpiração, tensão muscular, mau estar no estômago) ao interpretarmos estes sintomas como incapacitantes, accionamos uma reacção no corpo – MEDO: “eu estou com medo de falhar.” Diminuímos assim a percepção de eficácia. Quando o atleta se percepciona como pouco eficaz, o seu corpo vai reagir a esses pensamentos e desmobiliza-se, ou seja perde energia e diminui a confiança. Um atleta sem confiança diminui drasticamente a sua probabilidade de ser bem sucedido. O atleta entra num ciclo negativo que gera insucesso.
  • Reverter a situação. É possível reverter isto se o atleta aprender as estratégias mentais para ajudar a reestruturar os pensamentos e passar a construir um ciclo positivo que o levará ao sucesso (Ciclo de Sucesso).
  • Orientar os pensamentos. Ao aprender a orientar os pensamentos através de auto-verbalizações (é aquilo que o atleta diz ou pensas para si próprio). Isto é muito simples – Já sabemos que podemos controlar aquilo que queremos pensar e o que pensar (normalmente devemos pensar aquilo que queremos, nos processos que nos conduzam ao êxito – como por exemplo, pensar na técnica, em palavras de incentivo, visualização de boas execução. O atleta não deverá pensar naquilo que não quer que aconteça, mesmo que pontualmente alguns pensamentos incapacitantes lhe passem na cabeça. Uma estratégia facilitadora é o atleta relembrar-se daquilo que é importante pensar para que aumente a probabilidade de ser bem sucedido. O atleta tem sempre opção de escolha, e deverá escolher os pensamentos que lhe servem para vir a ser bem sucedido. É claro que também isto requer algum treino.
  • Passo a passo. O atleta deverá começar com pequenas tentativas durante o treino (como por exemplo, algumas palavras de incentivo a si próprio – “Vou conseguir, sou capaz, para ser capaz foco-me mais na minha técnica, imagino-me a nadar mais rápido, consigo nadar em esforço.”
  • Mudança de crenças. O atleta deverá mudar algumas crenças negativas (crenças é aquilo em que se acredita. Por exemplo o atleta poderá dizer para si:
“O facto de até agora não ter melhorado não quer dizer que não venha a melhorar. Afinal não existe nada de errado comigo, apenas não estava a utilizar as melhores estratégias.”
“A minha falta de confiança não tem a ver com o facto de não ter capacidade, mas sim porque tenho interpretado mal algumas coisas que se têm passado.”
“Com esforço e dedicação vou conseguir obter bons resultados. Eu consigo motivar-me através de palavras de incentivo.
“Eu consigo orientar os meus pensamentos e fazer aquilo que estou a pensar.”
“Vou tentar até conseguir.”
O atleta deverá começar a reparar em coisas que consegue fazer e como as conseguiu alcançar. Tem de tentar perceber como se sente quando faz algumas coisas bem. No fundo tem de tentar perceber que sensações, imagens, pensamentos e comportamentos acontecem quando fica no seu melhor estado de recursos (facilidade em fazer as coisas). Estas estratégias mentais para potenciar o treino esportivo devem ser implementadas nas rotinas pré-competitivas. Deverão ser aplicadas durante o treino como forma de treino mental. As estratégias mentais de êxito funcionam como uma boneca russa matrioska (esquema 1) onde encaixamos os conceitos uns nos outros.
 
 
A Vontade está relacionada com muitos factores, quando os resultados competitivos não são os desejados, o atleta pode perder alguma da sua vontade e ímpeto para treinar. No entanto o atleta deve relembrar-se que a implementação do treino mental é um processo que funciona como o treino físico – é preciso praticar, por isso é necessária paciência e persistência.
A vontade ou a perda desta, está directamente relacionado com 3 factores importantes:
  • 1- Percepção de capacidade face à tarefa ou situação (resultados satisfatórios em competição). O que face a um atleta que apresente inconsistência competitiva, podemos dizer que a sua percepção de capacidade é reduzida, certo? Mas não está relacionada com as suas habilidades físicas, do género, “Eu não consigo nadar rápido.” Aquilo que acontece é que o atleta percepciona-se como incapaz de expressar o seu potencial em competição (existe algo, uma barreira que lhe afecta o resultado). Ainda assim, a grande maioria dos atletas nesta situação, acredita ter potencial.
  • 2- Expectativa de resultado. ” Consigo realizar uma boa competição e ser bem sucedido.” O atleta que não consegue gerir os momentos críticos em competição e não consegue pensar desta forma, tem uma percepção que a sua expectativa de resultado é baixa. isto verifica-se porque ao avaliar as ultimas competições, a percepção daí retirada é a de que não pode esperar grande coisa, dado que apesar de tentar não tem conseguido ser bem sucedido. A expectativa de resultado influência o próprio resultado.
  • 3- Significação da prática do desporto e da competição. Ou seja, se treinar é significativo para o atleta, o acto de esforçar-se para atingir um resultado que o faça sentir-se bem, orgulhoso e realizado é algo de muito positivo. Apesar de o atleta não estar a atingir o que pretende, sentindo-se afectado, ainda assim continua a ter um grau de significação elevado face à importância de continuar a competir.
Se algumas de destas áreas estiverem afectadas, muito provavelmente o atleta percepciona-se como tendo pouca força de vontade . Então como vamos trabalhar isto?
Em relação ao 1ª ponto (Percepção de capacidade face à tarefa ou situação), o atleta deverá tentar conseguir separar a percepção que tem das suas habilidades físicas, das emoções negativas que tem face à sua percepção de incapacidade, pois esta refere-se às competições e resultados e não às suas capacidades, pelo que deve continuar a treinar os aspectos físicos e mentais no treino. Deverá deixar de pensar de forma depreciativa acerca de si (que gera emoções negativas) – como: “Eu não vou conseguir, eu não valho nada, os outros é que são bons, o melhor é desistir.” Aqui está a ser sabotar, relembro que o objectivo é o atleta transformar-se em facilitador. Tem de começar em treino a reverter isto e a dizer para si próprio palavras de motivação e capacidade. O atleta deverá orientar o seu pensamento para aquilo que pretende alcançar e não para aquilo que receia.
A tarefa a desenvolver é arranjar uma palavra que dê motivação e capacidade, e ao verbalizar a palavra deverá sentir energia no corpo e confiança (o atleta deverá experimentar algumas palavras, até perceber qual é que funciona melhor para si). A palavra funcionará como uma âncora ou gatilho que acciona o estado ótimo de performance.
Em relação ao 2º ponto (expectativa de resultado), nas próximas competições esta situação deve ser remetida para segundo plano, ou seja, o principal objectivo é colocar em prática na competição aquilo que vai aprendendo, e não estar centrado no resultado. Deverá centrar-te no processo e não no resultado. O processo é tudo aquilo que se aprende em treino. O que aconteceu no passado não tem necessariamente de acontecer no futuro.
“Eu tenho capacidade para mudar as coisas, desta vez vou conseguir pois estou empenhado.”
Em relação 3º ponto (significação da prática do desporto e da competição), o atleta deverá acreditar que com esforço, trabalho e dedicação conseguirá atingir aquilo que pretende. Uma estratégia que pode ajudar é estar centrado neste facto, relembrando-se que o corpo está à escuta da mente, pelo que deverá praticar a disciplina mental através da concentração e das auto-verbalizações, dar indicações ao corpo e a si próprio (tal como se o treinador desse indicações para determinada técnica). É como se imaginasse outra pessoa a falar para si.
Dica: O corpo está à escuta da mente, pelo que o atleta deverá escolher bem aquilo que diz para si, deverá escolher aquilo que lhe transmite capacidade e abandonar tudo o que o coloca em baixo.
A concentração tem conteúdo, o atleta deverá intencionalmente dirigir a sua atenção para aquilo que acha importante para atingir o objectivo. Por exemplo, se tiver a ficar nervoso, deverá dirigir a atenção para a respiração e relaxamento muscular. Se começar a ficar com medo, deverá dirigir a sua atenção para palavras de incentivo e motivação.
 


Apresento em seguida alguns exemplos das estratégias mentais a usar nas rotinas pré-competitivas :

  • Respiração (inspirações e expirações profundas) o facto de dirigir a atenção para a respiração e para o ritmo da respiração, permite ganhar percepção de controlo sobre si próprio , o que é bom pois desta forma evita que os estímulos aleatórios vindos do exterior (ambiente competitivo) perturbem ou incomodem.
  • Dirigir a atenção:
    - Nesta técnica deverás dirigir a atenção para estímulos ou situações que percepcione como benéficas para si. Ou pode dirigir a atenção para si próprio, para o seu corpo ou partes do corpo (induzindo sensações de relaxamento de tensão, energéticas, entre outras).- Pode ainda dirigir a atenção para imagens, imagens de boa execução de movimentos técnicos do seu esporte, imagens de superação, imagens de experiências positivas de outras competições bem sucedidas, imagens de eficácia, de visualização do treinador e amigos a dar os cumprimentos pelos bons resultados.- Pode ainda dirigir a atenção para os seus pensamentos, aqui os pensamentos podem tomar a forma de palavras, chama-se auto-verbalizações silencioasas, estas auto-verbalizações devem ser orientadoras face ao seu objectivo, do género: “Força, acredita, vamos lá, garra, sou capaz.”
  • Visualização e verbalização. Emparelham-se auto-verbalizações com imagens da competição: Exemplo na natação - sair rápido ao tiro, nadar descontraído, voltar e empurrar forte, respirar …., braçadas longas e rápidas, resistir à dor.
  • Concentração. A concentração tem conteúdo, ou seja, durante o aquecimento e a competição a concentração é contínua, nós estamos sempre concentrados em alguma coisa. Desta forma deveremos ser nós, de forma intencional a orientar aquilo em que nos queremos concentrar (assunto, coisa ou situação) e depois orientar o processo face ao objectivo (o que pensar, dizer, ou sentir) necessário para obter um ótimo resultado. O conteúdo é um conjunto de indicações que damos a nós próprios e que acreditamos que nos servem para facilitar a obtenção daquilo que desejamos.
  • Crenças adaptativas. O atleta deverá trabalhar as crenças que tem em si próprio. Se o atleta acredita que todos os outros atletas são melhores que ele, logo esta é uma crença negativa e incapacitante que vai sabotar tudo o que fizer para cumprir o seu objectivo. O atleta coloca-se num estado de descrença face àquilo para o qual tem treinado. Isto era apenas um exemplo, não quer dizer que aconteça com todos os atletas que passam por momentos críticos em competição. Mas se isto acontece, tem de se erradicar esta crença, pois ela não corresponde à realidade. Tal como esta crença existem outras, o atleta deverá tentar perceber que crenças tem que possam prejudicá-lo face ao seu objectivo. A sua tarefa será identificar o que acha que o pode prejudicar.
  • Confiança. O atleta deverá investir na reestruturação daquilo que pensa acerca de si, e acerca das suas habilidades. Deverá adoptar a perspectiva de que com esforço e trabalho conseguirá melhorar. Os resultados constroem-se com o treino e a dedicação, com a experiência de derrotas e vitórias. Não existem derrotas, existem resultados que nos servem, para deles retirarmos informação para melhorar. Esta informação chama-se feedback, o feedback é sempre construtivo. Mesmo perante resultados menos bons, se tivermos uma atitude positiva poderemos sempre retirar informação que nos vai servir para melhorarmos o desempenho. Se experimentamos algo que não funcionou (em termos de resultado é negativo) mas em termos de aprendizagem é sempre positivo, desde que se retire informação (porque razão não funcionou?) que nos permite ir emendar, alterar ou acrescentar alguma coisa, para que na próxima oportunidade possa funcionar e aumentar a probabilidade de ser bem sucedido.
 


CONCLUINDO

A psicologia esportiva tem contribuído com um vasto número de estudos, práticas e estratégias que devidamente aplicadas podem contribuir para o aumento de rendimento esportivo e igualmente contribuir com uma resposta eficaz para alguns dos problemas apresentados pelos atletas, que lhes diminui o seu desempenho competitivo. Eu acredito na hipótese que os mecanismos do corpo/mente que levam à hiper-reatividade fisiológica, resultando nas queixas dos atletas, prejudicam o desempenho esportivo. Os atletas que conseguem controlar alguns aspetos mentais significativos, tais como o foco atencional, atividade cognitiva, intensidade da excitação, mobilização energética e estratégias de lidar com situações desfavoráveis, são mais capazes de expressar todo o seu potencial competitivo. Os atletas que não conseguem combater os momentos críticos em competição, sabotando a sua habilidade para ter uma performance de acordo com o seu potencial, muito provavelmente são afetados pelos aspetos negativos dos sintomas fisiológicos e das cognições disfuncionais dos seus processos de raciocínio inconsciente.
 
Retirado de : Escola Psicologia

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