Erros a treinar em solitário
Treinam sem aquecer, em jejum ou sem o calçado adequado. Quem pratica
desporto sem acompanhamento comete numerosos erros. Os músculos e as
articulações protestam.
Três das cirurgias que a Unidade de Medicina Desportiva do Hospital Lusíadas Porto, teve de realizar no inverno foram a praticantes ocasionais de snowboard
– duas roturas de ligamento cruzado anterior e uma fratura de
tornozelo (como exemplo para esta prática de desporto sem un seguimento válido ou de terceiros válidos).
Deslizar pela encosta de uma montanha nevada sem qualquer
preparação prévia pode terminar na sala de operações. Mas não são apenas
os praticantes de desportos radicais que estão expostos a erros e a
lesões. Numa simples corrida ou no treino de ginásio, o incumprimento de
certas regras e pormenores pode afastar o desportista dos resultados
pretendidos e mesmo castigar os músculos e os ossos. “Todos os dias lido
com más práticas desportivas, desde o excesso de treino à hidratação
incorreta”, diz Filipe Amorim, personal trainer e fundador do Surf Builder. Eis os erros que os atletas por conta e risco cometem habitualmente ao praticar desporto.
1. Entrar a frio
Um músculo adormecido é uma presa fácil para a rotura. “É importante trabalhar as articulações, contrair e estirar os músculos antes de praticar qualquer modalidade desportiva”.
“Apesar de
muitos fisiologistas defenderem que picos de corrida, como vemos nos
aquecimentos dos futebolistas, em nada acrescentam ao desempenho
fisiológico do atleta.”
Defende-se o uso de
aquecimentos que atuem diretamente nos músculos que vão ser ativados no
treino: “É inútil correr antes de surfar porque ninguém corre dentro de
água. Deve-se aquecer a zona lombar e peitoral, por exemplo, que são
determinantes na modalidade.”
2. Se cá nevasse…
Nos meses de inverno, milhares de portugueses sem experiência nem treino rumam à montanha para experimentarem o ski e o snowboard.
Alguns regressam com lesões graves. “É preciso ter noção de que as
modalidades desportivas têm de começar a ser praticadas de um modo
crescente para fortalecer os músculos e criar defesas propriocetivas”.
“Lesões como a rotura do ligamento cruzado anterior
do joelho e a fratura do tornozelo são habituais nos desportos de
neve”, alerta.
3. Nem água a mais nem a menos
“A água deve ser ingerida em pequenas porções intervaladas ao longo
do treino”. Os que se esquecem de beber água
correm o risco de desidratar, ao passo que ao bebê-la em grandes quantidades de uma só vez,
os rins não conseguem remover o excesso de fluido do corpo e o sangue
torna-se mais diluído do que devia, com baixas concentrações de sódio.
4. Alarme: excesso de carga
O overtraining, ou excesso de treino, é um dos
comportamentos mais comuns nos desportistas dedicados. Ocorre quando a
carga e/ou o tempo de uma sessão de treino excedem a capacidade de
recuperação do atleta. “Assim deixa de progredir e começa mesmo a perder
força e rendimento”.
O overtraining na corrida é uma perigosa causa de tendinites rotulianas e
no tendão de Aquiles.
5. A força da técnica no desporto
Seja a levantar halteres ou a remar, o rigor do gesto técnico é
fundamental não só para a performance como também para evitar lesões.
Quem pratica desporto sem acompanhamento pode adotar movimentos e
posturas prejudiciais. “Há atletas de remo que desenvolvem lombalgias pela repetição de gestos técnicos deficientes“.
No ginásio, forçar o pescoço durante os abdominais,
levantar pesos do chão sem fletir os joelhos e correr na passadeira com
má postura são as falhas mais comuns.
6. Insistir até quebrar
“Ignorar a dor é como desligar o alarme quando uma casa está a ser
roubada. Elimina-se o alarme mas a casa é roubada à mesma”.
“Muitos desportistas insistem no exercício quando têm uma
dor ténue, cuja causa por vezes nem é diagnosticável no raio x. Mas se
há dor é porque existe um problema e não se deve insistir, pois pode
provocar lesões crónicas”, alertam os especialistas. Até porque, há formas de continuar a prática de forma segura: “Se a
dor se localizar no pé, nada impede o treino do tronco, por exemplo”.
7. A moda do jejum
Há cada vez mais pessoas a fazer desporto sem comer. O seu argumento é
que isso lhes permite queimar mais gordura. “Mas os hidratos de carbono
são o combustível dos músculos durante o exercício. Se não forem repostos através da alimentação,
o organismo não consegue queimar gordura e começa a usar massa muscular
(proteína) para ter energia. Isso é contraproducente”.
Quando a intensidade de treino é baixa, o jejum é sustentável.
“Mas com uma carga elevada pode conduzir à hipoglicemia ou a situações
mais graves.”
8. Correr para chegar rapidamente ao almoço
Acabar o treino e comer uma francesinha é como fazer um castelo de
areia e destrui-lo com um pontapé.
“A nutrição e o exercício físico são
indissociáveis”.
“O desporto sozinho não faz com
que ninguém emagreça, tem de ser acompanhado por boas práticas
alimentares. Longe vão os tempos em que os futebolistas comiam um bife e
bebiam vinho para ter energia.”
9. Mitos: o agasalho e a balança
Muitas pessoas chegam aos ginásios impregnadas de equívocos. “Ainda
há quem treine com duas camisolas porque pensa que perde mais peso
assim. É falso. Vai perder água, não calorias”.
Outro
erro habitual é o de controlar o peso todos os dias: “O resultado dos
treinos não se manifesta diariamente e o uso abusivo da balança só
conduz à desmotivação”.
10. Atenção aos pés
A escolha adequada de sapatilhas é fundamental para a prática de
qualquer desporto. No atletismo, ainda mais: um calçado desajustado à
corrida ou desgastado pode provocar tendinoses e fraturas de stresse.
“O tratamento de um atleta olímpico que tinha fraturas de stresse frequentes aconteceu.
Ele tinha ganho uma maratona com as sapatilhas velhas e usava-as sempre
para lhe dar sorte. Chegou-se à conclusão que o desgaste do material do
calçado era uma das causas do problema”.
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