quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Processos psicológicos e ocorrência de lesões em atletas


Introdução
Esta postagem apresenta importantes informações sobre os processos psicológicos associados à ocorrência de lesões em atletas, os tipos de suporte social encontrados pelos atletas lesionados, bem como os métodos de intervenção psicológica aplicáveis sobre estes atletas, para reduzir os seus sofrimentos psicológicos e o tempo necessário de retorno às atividades desportivas.


O desporto de rendimento, na maioria das vezes, está relacionado a execuções de movimentos rápidos e repetitivos, e à ocorrência de fortes impactos, o que submete os atletas a condições propicias a lesões como contusões, fraturas, estiramentos musculares, luxações e entorses. 

Neste contexto, as lesões são causas freqüentes de afastamento temporário, ou definitivo, de atletas das suas equipes, nas mais diferentes modalidades e níveis técnicos. 

Fatores excessos de treinos e de competições são causas primárias das lesões, que podem se desenvolver de forma progressiva, ou por condições traumáticas .


Durante muito tempo, as lesões eram tratadas exclusivamente do ponto de vista biomédico, no entanto, dadas as mudanças que ocorreram nos últimos anos no meio desportivo, a lesão passou a ser ponto de estudo de outros campos do conhecimento. 


Há fatores psicológicos fortemente associados à predisposição a lesões, ao tempo de reabilitação e retorno às atividades desportivas, e ao nível de sucesso dos processos de reabilitação.

As habilidades do atleta para evitar as lesões e enfrentá-las adequadamente são fundamentais para sua longevidade no desporto, e para o desenvolvimento do seu potencial desportivo.


Além disso, o suporte social dado ao atleta, suas possibilidades reais e percebidas de controle sobre a ocorrência e recuperação das lesões, assim como as experiências importantes de vida fora do desporto, são fatores que podem influenciar os riscos de ocorrência de lesão e a reabilitação. Por extensão, a incidência repetitiva de lesões parece ser um fator indicativo da existência de necessidade de intervenção psicológica sobre o atleta. 

Neste mesmo sentido, praticantes e não praticantes de atividade física apontaram que os fatores psicológicos e a intervenção do psicólogo são grandes potencializadores do processo de reabilitação.

Em síntese, o acompanhamento de atletas lesionados é uma atividade do psicólogo do desporto, incluindo-se as intervenções desenvolvidas para se diminuir seus sofrimentos emocionais, para se aprimorar as cognições relacionadas ao enfrentamento do problema, e para se estabelecer, ou reforçar, seus hábitos potencializadores dos processos de reabilitação.


De entre os fatores psicológicos que intervém desde a predisposição a lesões até a reabilitação, podem ser citadas as características de personalidade dos atletas, o nível de motivação para a manutenção do engajamento no desporto, a prévia existência de quadros de depressão ou ansiedade, o gênero, o nível atual de estresse, o humor e o status social, além de suas concepções pré-existentes sobre as possibilidades de desenvolvimento de lesões.


Atletas podem desenvolver a percepção de que seu valor social é diretamente vinculado ao seu desempenho desportivo, sendo esperado que estes, ao se lesionarem, mostrem-se muito mais afetados psicologicamente do que outros que não possuem esta percepção. 

De outro lado, se o atleta tem a compreensão de que a atividade desportiva de rendimento, pelas suas próprias características, leva ocasionalmente a lesões, ao se lesionar, tenderá a estar mais pronto para adotar estratégias funcionais de reabilitação do que outros atletas que não têm esta compreensão.


Eventos estressantes da vida extra-desportiva também interferem sobre o risco de ocorrência de lesões. O aumento dos eventos negativos de vida, geradores de decepções, tristezas e desapontamentos, parece estar associado a ocorrências mais freqüentes de lesões, enquanto o aumento dos eventos positivos de vida, a menor ocorrência. 

Por extensão, atletas mais extrovertidos registraram menores taxas de lesão e reabilitações mais eficazes. Provavelmente a extroversão está relacionada a habilidades mais desenvolvidas para enfrentamento - coping - de diversos tipos de situações estressantes.



Da lesão à reabilitação


Para fins de compreensão dos fatores psicológicos, o processo de lesão/reabilitação foi dividido, em três fases, que podem sobrepor-se: a) a primeira vai desde a ocorrência da lesão, com o conhecimento de seus sintomas, até o momento da decisão de obtenção de tratamento; b) a segunda ocorre no período entre as tomadas de decisões quanto aos tratamentos a serem realizados, interrupção da atuação no desporto e o desenvolvimento dos procedimentos terapêuticos; c) a terceira abrange o retorno às atividades desportivas.



Assim


Devemos consider que há uma grande variabilidade de estilos individuais de enfrentamento de lesões entre atletas, de modo que podem surgir diferentes padrões de respostas.




Parece ser importante o desenvolvimento de intervenções psicológicas e educacionais anteriormente à ocorrência de lesões. Diversas habilidades psicológicas devem ser desenvolvidas no processo de formação de atletas, para facilitar a prevenção e a recuperação de futuras lesões, como habilidades de resolução de problemas e tomada de decisões, autocontrole, relaxamento, formação de vínculos sociais e visualização mental, cujos desenvolvimentos fazem parte das metas de intervenção de psicólogos do desporto.


Entre as tarefas educacionais, parece ser importante o estabelecimento da compreensão, já entre atletas de categorias de iniciação desportiva, de que as lesões são inerentes ao contexto desportivo, mas que podem ser minimizadas com ações preventivas e ações curativas corretas de reabilitação, sendo que estas ações precisam ser conhecidas.


Outra importante habilidade a ser desenvolvida em atletas jovens é a de reconhecer as sensações proprioceptivas relevantes. 

Isto é, saber reconhecer quando estão realizando movimentos tecnicamente corretos e seguros, e diferenciar as características de uma sensação de dor derivada das exigências de treino, porém sem maiores riscos se os procedimentos preventivos quotidianos forem devidamente conduzidos, daquelas sensações de dor indicativas do início de uma lesão derivada do excesso de treinamento, ou de algum acidente, cuja manutenção do atleta em atividades de treinos e competição pode prejudicar consideravelmente o seu desempenho desportivo. De qualquer modo, a dor não deve ser subestimada. 

No processo de formação de atletas, estes devem ser instruídos sobre como proceder em cada caso, dadas as conseqüências prováveis das diversas opções de decisão e ação.