quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Tempos/ Marcas/ Recordes mundias no remo

A Matemática das melhores marcas



Voltando um pouco atrás, o ano de 2012 (ano de jogos olimpicos) foi coroado com sete melhores marcas mundiais, seis melhores marcas olímpicas e três melhores marcas do remo paralímpico. 

Em geral, nos anos olímpicos muitas marcas são batidas. 
É o momento onde os atletas alcançam o pico da forma no ciclo olímpico e o nível das competições chega no auge. Adicionemos a tudo isto um vento de ré e o cenário está pronto para a quebra maciça de melhores marcas.

O Dr. Valery Kleshnev, um cientista do remo e fundador da Biorow Ltd. (http://www.biorow.com/), fez uma extensa análise dos tempos obtidos nas regatas internacionais, pesquisando tendências do passado nas velocidades dos barcos e estimando a provável velocidade futura.

Depois de cada olimpíada, Kleshnev analisa a velocidade dos barcos e prediz a velocidade que esses mesmos barcos irão alcançar quatro anos depois nos jogos olimpicos seguintes.

Em 2012, seis das sete melhores marcas batidos foram conseguidas no mesmo dia, nas eliminatórias da segunda etapa da copa do mundo disputada em Lucerna na Suiça. 


O primeiro foi no quatro-sem masculino da seleção inglesa. O tempo de 5:37.86 foi quatro segundos mais rápido que a melhor marca anterior, estabelecida dez anos antes. Isso significa, segundo Kleshnev, que essa melhor marca no quatro prevalecerá até o ano de 2029.

No quadri scull a nova melhor marca foi estabelecida pela Rússia que bateu a marca da Croácia que havia sido estabelecida uma regata antes. O tempo do barco russo foi de 5:33.15.

quadri scull alemão feminino conseguiu a melhor marca baixando em um segundo e meio o tempo anterior que havia sido estabelecido há 16 anos.

O crescimento geral na velocidade do quadri scull masculino avaliada por Kleshnev foi de 1,84% por ano. 

Kleshnev apurou esse crescimento através do melhor tempo registrado (BTY em inglês, Best Time of the Year). Ele usou os tempos nos últimos 20 anos e a partir daí fez projeções de quando a melhor marca mundial seria batida. No caso do quadri scull masculino isso ocorrerá em 2019. No quadri scull feminino a velocidade está crescendo a uma taxa menor levando a uma previsão de possível queda da melhor marca para 2024.

A melhor marca no oito feminino foi quebrada pelos EUA. Os EUA quebraram a própria marca estabelecida em 2006. 

O novo tempo de 5:54.17 foi quase um segundo e meio mais rápido. No oito masculino o barco canadiano quebrou a marca anterior dos EUA de 2004 com o tempo de 5:19.35.

Kleshnev constatou um crescimento na velocidade de ambos os oitos, masculno e feminino, em mais de 1,5% por ano usando o BTY e ele prediz que esses tempos devem cair novamente dentro de quatro ou cinco anos.

A única melhor marca batida em 2012 na categoria peso ligeiro foi no double feminino. A Nova Zelândia bateu a marca anterior, que vigorou por seis anos, em menos de meio segundo, com um tempo de 6:49.43.

Kleshnev constatou que nos barcos peso ligeiro há uma tendência de um maior aumento nas velocidades. Ele mediu uma tendência de 1% a 2% por ano de aumento na velocidade dos barcos peso ligeiros contra 0,2% nos skiffs masculino e feminino e no dois sem feminino.

Kleshnev explica: “O tamanho médio da maioria da população em muitos dos países onde o remo é mais desenvolvido é mais próximo da categoria peso ligeiro. A percentagem de homens maiores que 1,90m e com mais de 90kg e mulheres maiores que 1,80m e 78kg não é significativa levando a um número pequeno de atletas com o biotipo ideal para este desporto. O que vemos hoje é que alguns países vencem nas categorias peso ligeiro e aberta, enquanto que os países menos desenvolvidos no remo não conseguem bons resultados em ambas”



Kleshnev prevê que os três eventos peso ligeiro terão suas melhores marcas atuais batidas nos próximos jogos do Rio em 2016.

Somente uma marca não foi batida naquele 25 de maio de 2012 em Lucerna. A melhor marca no dois-sem ficou para a tripulaçao de Eton Dorney nos jogos de Londres. 


Os neozelandeses baixaram a melhor marca anterior em seis segundos com o tempo de 6:08.50. Kleshnev credita essa espetacular marca à intensa rivalidade que surgiu nos últimos três anos entre a Inglaterra e a Nova Zelândia. 
“Essa rivalidade fez com que o tempo padrão nesse barco baixasse seis segundos em um espaço de tempo muito curto e essa melhor marca não deverá cair antes de 2024”, diz Kleshnev. Essa marca no dois-sem foi quebrada numa prova eliminatória e não havia nenhuma grande pressão sobre o barco neozelandês nos metros finais da prova. Outro fato curioso e atípico é que a guarnição kiwi foi a única a quebrar uma melhor marca naquele dia.


A dupla neozelandesa Hamish Bond e Eric Murray, os "intocáveis" no dois-sem masculino, baixaram a melhor marca em seis segundos e venceram tudo na escalada para Londres 2012, em 2014 seguiram para o dois-com masculino e foram igualmente campeoes do mundo.

Com as melhores marcas sendo batidas continuamente Kleshnev pensa no limite da velocidade dos barcos a remo. “Podemos especular sobre os limites das modalidades que possuem uma qualidade física dominante. Porém, o remo é muito complexo. Velocidade na ponta final, resistência no percurso, força no levantamento de pesos, coordenação na ginástica. Todos esses atributos são necessários no remo além da coordenação da equipa. Ademais, trata-se de um desporto muito técnico com um equipamento muito sofisticado. 



Apesar disso tudo, é possível melhorar os tempos com uma melhor combinação das qualidades para casar as especificidades do atleta. Por exemplo, se olharmos os vencedores em Londres 2012 vamos nos deparar com grandes atletas (skiff masculino) e atletas menores (double masculino), assim é necessário escolher entre distintas combinações de tamanho de remada, voga e aplicação de força”.

Em relação aos fatores que podem levar um barco a andar mais rápido, Kleshnev vê uma série deles: 

“O principal ponto é a disputa nas provas e isso não para de crescer. Os melhores países no remo estão conseguindo evoluir cada vez mais adotando os mais eficientes métodos na identificação de talentos. Treinando esses talentos e levando-os ao nível mais alto possível. O uso da ciência do desporto, gestao competente e dinheiro são muito importantes. Além disso, o equipamento pode ser melhorado e melhor adaptado às características do remador. Nós estamos trabalhando no desenvolvimento de equipamentos revolucionários que irão aumentar de forma significativa a velocidade dos barcos”.

Vale relembrar que o remo é o único desporto onde não se usa o termo “recorde mundial” e sim “melhores tempos mundiais”. Isso se deve ao fato do clima e da condição da regata influenciarem diretamente na performance sendo muito difícil criar um padrão de disputa nas distintas regatas. 


Von Werner Kollmann calcula que o vento contra ideal é de três a sete metros por segundo com a temperatura da água variando de 19 a 20 graus Celsius ou superior (Rudersport, Outubro 2006).

Em termos dos melhores tempos olímpicos ou paralímpicos que foram estabelecidos em 2012, a relevância é menor em relação à tendência pois os jogos olímpicos acontecem a cada quatro anos ficando assim mais limitada a possibilidade de estabelecer uma nova "melhor marca olímpica". 




Normalmente os tempos olímpicos são piores que os tempos nos mundiais que acontecem todo ano. 

No caso do remo paralímpico, como as provas de nível internacional começaram a ser disputadas há apenas dez anos e ocorreram mudanças nos tipos de barcos, a quantidade de dados acumulados para mostrar uma tendência ainda é relativamente restrita.

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