terça-feira, 29 de setembro de 2015

Correr - Actividade viciante

Corrida - outro complemento ao remo


Já comentada numa postagem anterior, mas retomei-a, pois depois de um periodo largo de treino em agua, aproxima-se outro periodo que só podemos remar ao final de semana, ou de manha muito cedo (quem o pode fazer, claro).

Assim, como boa opçao, podemos correr, treinando eventualmente para uma "competiçao" saudavel em corridas de 10 kms ou mais. Corridas que estao muito em foco, actualmente.

Podemos chamar o vício de correr.
O que nos leva em dias de muito calor, frio ou chuva a sairmos de casa e a ir correr? Não é apenas a vontade de atingir metas de tempos ou provas, parece que há explicação química para a questão.

Os adeptos das actividades físicas conhecem bem a sensação de, a certa altura do exercício, ter o cansaço e a dor muscular substituídos por uma sensação de bem estar, uma mistura de euforia e prazer.
Conhecida por alguns como “runner’s high”, esta experiência, que pode proporcionar uma impressão de paz e tranquilidade, muito provavelmente tem ligação com a libertação de endorfina pelo sistema nervoso central.

Benefícios para o organismo

Descoberta nos anos 70, quando foram identificados cerca de 20 tipos diferentes de endorfinas, a substância ainda não foi suficientemente estudada.

A endorfina é um assunto controverso por ainda causar muitas discussões e apresentar poucas provas científicas, afirmam vários médicos.
Acredita-se, porém, que a endorfina traga uma série de benefícios ao organismo, ajudando a melhorar a memória e o estado de espírito, além de aliviar as dores e aumentar a resistência dos praticantes dos mais variados desportos. Parece ser tão benéfica à saúde que muitos médicos costumam receitar ginástica para quem sofre de depressão ou de insónias.

Efeito de curta duração
Para usufruir dos efeitos da endorfina, não é preciso matar-se a treinar.

Pedalar meia hora por dia já é suficiente para o indivíduo se sentir melhor.

Agora, o que não se tem a certeza é se esta sensação de bem-estar está ligada à parte fisiológica – dos efeitos da endorfina -, à psicológica, à eficácia do exercício ou à interacção social, dizem os estudos sobre este tema. 
 
O mais provável é que o bom humor que se sente logo após os exercícios físicos seja mesmo causado pela liberação da endorfina.

Mas não dá para estabelecer o momento exacto em que acontece essa liberação muito menos a quantidade libertada, já que as substâncias que, como a endorfina, agem na corrente sanguínea, o fazem de maneira diferente em cada indivíduo.

Flutuações de glicemia, dor periférica e necessidade do ajuste do tonus muscular são algumas das consequências do stress físico que colaboram directamente para a libertação da endorfina. Segundo o mesmo médico, a duração dos efeitos é curta, de apenas alguns minutos.

Endorfina é uma droga?
Voltando ao começo deste texto, temos algumas descrições – “…bem-estar… mistura de euforia, prazer e satisfação… impressão de paz e tranquilidade…” – que em muito se assemelham a um relato sobre o uso de drogas. Não é coincidência. 


Define-se a endorfina como uma droga opióide, ou seja, uma substância, sintética ou não, que age como o ópio, mas não deriva dele.

A semelhança com estas drogas, ela funciona como uma substância inibitória, que promove as sensações de calma, tranquilidade e relaxamento.

Etimologicamente, a palavra é uma junção de “endo” e “morfina”.

Vem daí a diferença fundamental entre a endorfina e as drogas cultivadas ou fabricadas pelo homem: ela é endógena, produzida pelo nosso próprio organismo, mais especificamente, dentro do sistema nervoso central de pessoas de todas as idades e ambos os sexos.

Endorfinomanos
Actividades físicas muito leves ou muito intensas não ajudam a melhorar o humor.

O ideal é a prática de uma actividade moderada e regular.


Isso significa que os chamados endorfinados, pessoas conhecidas por tornarem-se viciadas em actividades físicas com o intuito de sentir prazer, agem de forma errada e nada saudável.
Como ocorre na interrupção do uso de drogas por parte de um viciado, se um endorfinado parar de se exercitar pode sofrer a chamada crise de abstinência, em que a ausência da actividade física leva ao nervosismo e afecta o sono, entre outros sintomas.

E aí, cabe a pergunta: a endorfina causa dependência? Para uns, sim, já que a sua ausência pode causar crises entre os que estão acostumados; para outros, não, por ser produzida pelo próprio corpo e não causar lesões hepáticas ou cerebrais.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Suplementos - sim ou nao?

Suplementos: do que são feitos e para que serve cada tipo


Os suplementos nutricionais mais consumidos por quem pratica exercícios físicos são os a base de proteína, que auxiliam na reparação e crescimento dos músculos.
 
Divididos em macro e micronutrientes, também são encontrados os suplementos de aminoácidos (que formarão as proteínas), creatina, carboidratos e emagrecedores, cada um indicado a um determinado exercício físico ou necessidade:
 
Suplementos de proteínas
 
O mais conhecido é o Whey Protein, que contém normalmente os 20 aminoácidos necessários ao organismo para a construção muscular. É voltado, principal­mente, para ganho de massa muscular (reparo e crescimento dos músculos pós-exercícios físicos).
Acima de 2g por kg de peso por dia ou em pessoas sem deficiência proteica, pode se transformar em gordura, visto que o organismo não elimina o excesso. Os suplementos de proteínas não são nem melhores, nem piores do que se recebe através da alimentação. 
 
Suplementos de aminoácidos
 
Os aminoácidos são as unidades básicas formadoras das proteínas e os suplementos são voltados especialmente para os tecidos musculares. Também auxiliam na construção muscular e no fornecimento de energia para as células musculares.
Não precisam de metabolização hepática, o que facilita a oxidação diretamente no músculo. Suplementar com aminoácido evita que a reserva energética muscular de aminoácidos seja usada.
 
BCAA
 
Os chamados aminoácidos essenciais de cadeia ramificada (BCAA) são muito utilizados em academias com a proposta principal de reduzir a fadiga central ou a percepção da mesma. Espe­cialistas questionam se essa redução é de fato um benefício, por poder mascarar os limites da pes­soa e colocá-la em risco de lesões e sobrecarregar o sistema cardiovas­cular. Fazer uso do BCAA não dará um gás a mais para a pes­soa, como se propaga, apenas não mostrará o quão cansada ela de fato está.
 
Albumina e Glutamina
 
Encontrada na clara do ovo, a albumina fornece todos os ami­noácidos que o organismo neces­sita para a formação mus­cular. O excesso pode causar ganho de peso e sobrecarga renal, como no caso das proteínas. A glutamina parti­cipa na redução da fadiga e na me­lhora da imunidade, reduzida pela intensidade de exercícios físicos.
 
Creatina
 
Voltada a exercícios de explosão e curta duração, a creatina também é uma síntese de aminoácidos. Re­tarda o início da sensação de fadiga e aumenta a massa mus­cular, pois leva água para dentro do músculo. Do ponto de vista estético, o resultado da creatina é visível, mas não se trata de uma hipertrofia verdadeira e, ao parar de tomar, em poucos dias o músculo perde o volume.
A suple­mentação é recomendada apenas para atletas de eventos de grande intensidade e curta duração, sem ultrapassar três a quatro meses de uso contínuo.
 
Suplementos de carboidratos
 
Os mais conhecidos são a dextrose e a maltodextrina. O principal objetivo é otimizar a absorção de água e de bebidas esportivas – o que pode ser alcançado utilizando o soro caseiro (água, sal e açúcar), defendido por especialistas como um excelente substituto do suplemento. Não há necessidade desse tipo de suple­mentação durante sessões de treinamento que durem menos de 60 minutos, bastando recorrer apenas à água. Atividades acima de 90 minutos devem ter reposição de carboidratos e repositores eletro­líticos. Quando não é necessária, a suplementação pode gerar ganho de peso.
 
Termogênicos
 
O mecanismo de ação dos suplementos termogênicos potencializa o metabolismo do corpo e, por consequência, visa a perda de peso. Porém, alguns produtos contêm estimulantes da tireoide e do sistema nervoso, que podem afetar o metabolismo endócrino e até mesmo causar dependência química. O uso em excesso pode também desen­cadear doenças cardiovas­culares. Ainda há poucos estudos cientí­ficos que comprovem a ação dos termogênicos para a perda de gordura corporal e muitos especia­listas contraindicam para qualquer tipo de atividade e objetivo.
 
L-Carnitina
 
Dentro das substâncias conhe­cidas como fat burners, queima­doras de gordura, está a L-Carni­tina, que promove a queima de gorduras dentro da célula. No entanto, todos possuem uma quantidade suficiente da substância no organismo e suple­mentar não faz com que essa quantidade aumente ou traga mais efeito ‘queimador’. É um suplemento usado sem necessidade.
 
 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A utilizaçao da frequencia cardiaca como um mecanismo de controlo do treino





A frequencia cardiaca (FC) e um dos mecanismos de controlo de treino de entre os varios, tais como, as escalas de percepcao de esforco, a lactatemia, o VO2max e a analise de parametros sanguineos.

Estes mecanismos tem como principal objectivo aceder a resposta fisiologica do individuo a carga de treino, sendo que, os resultados poderao ser mais fiaveis de acordo com o mecanismo utilizado.
 
Os mecanismos referidos podem-se dividir em metodos invasivos e nao invasivos. Os nao invasivos sao os mais utilizados, pois sao os de mais facil acesso e os que nao se tornam dispendiosos.

E dentro destes metodos nao invasivos que se encontra a FC, pois e um metodo de facil acesso e de baixo custo, muito utilizado no controlo da intensidade do exercicio.
 

Na maioria dos desportos, a FC e o principal metodo que os treinadores utilizam para monitorizar o treino. O valor da FC pode ser utilizado quer na monitorizacao da resposta do atleta a carga de treino e avaliar as alteracoes na condicao fisica, quer na prescricao das intensidades de treino.

A FC e um mecanismo simples, mas muito informativo sobre os parametros cardiovasculares.

Uma das suas vantagens e o seu facil acesso, atraves de uma simples contagem dos batimentos cardiacos pela palpacao da arteria radial ou da carotida, no entanto, a FC pode ser influenciada por diversos factores que levam a que se cometam erros na sua medicao.
 
Frequencia Cardiaca de Repouso
 
A frequencia cardiaca de repouso para atletas situa-se entre os 28 e os 40 batimentos por minuto (bpm), no caso dos individuos nao treinados esta situa-se normalmente entre os 60 e os 80 bpm.
 
O treino causa a reducao da frequencia cardiaca de repouso, sendo mais evidente nas primeiras semanas de treino, em que se pode reduzir um batimento por semana. Esta reducao de esforcos sub maximos significa uma melhoria do volume sistolico.
 
Como o coracao passa a bombear um maior volume de sangue por batimento, isto leva a que a frequencia cardiaca diminua, pois sao necessarios menos batimentos para levar a quantidade de sangue necessaria para o organismo.

Como existem diversos factores que podem influenciar a FC, uma das formas de conseguirmos manter sempre a informacao desta fiavel e atraves da sua medicao em situacoes semelhantes todos os dias, ou seja, os atletas devem medir a sua frequencia cardiaca de repouso todos os dias sempre na mesma situacao, de preferencia de manha ao levantar, evitando assim que a frequencia cardiaca de repouso seja alterada por factores relativos ao dia a dia.
 
Frequencia Cardiaca Maxima

A frequencia cardiaca maxima para a maioria dos atletas varia entre os 175 e os 220 bpm.

Esta categoria da FC nao varia consideravelmente com o treino, no entanto esta tem uma ligeira descida apos um periodo intensivo de treino aerobio.
 
Em remadores experimentados, a frequencia cardiaca maxima frequentemente esta abaixo dos 190 bpm.
Um dos metodos mais tradicionais para determinar a frequencia cardiaca maxima e atraves da seguinte formula (FC = 220-Idade).
Esta formula tem um forte potencial de erro, contudo , uma vez que em muitos casos o valor obtido pela formula nao vai de encontro com o constatado na realidade.
 
Frequencia Cardiaca Submaxima
 
A frequencia cardiaca retirada apos um esforco submaximo e um bom metodo para determinar a intensidade de treino.
 
Atraves de um estudo realizado, conclui-se que quando os atletas realizam exercicios com baixa intensidade, nao conseguem estabilizar a frequencia cardiaca, ao contrario do que acontece quando realizam exercicios com grande intensidade, com a frequencia cardiaca perto da maxima, ai e mais facil atingir mais estabilidade no valor de frequencia cardiaca na realizacao dos exercicios.
 
Tabela de prescricao da intensidade de treino atraves da divisao da frequencia cardiaca por diferentes escalas
 
 
Uma das limitacoes desta proposta reside no facto de cada patamar ter um intervalo de 20 bpm, e os efeitos que o treino provoca nos atletas nao serem identicos quando se trabalha a 140 ou 160 bpm, ou seja, os resultados obtidos do treino nao sao as mesmas.

Outra limitacao deste metodo esta no facto de que a frequencia cardiaca maxima que nao e igual para todos os atletas, mas os patamares serem sempre iguais, quer para um atleta com uma frequencia cardiaca maxima de 190 bpm, quer para um atleta com uma frequencia cardiaca de 210 bpm.
 
O segundo metodo da prescricao da intensidade de treino atraves da frequencia cardiaca, baseia-se na utilizacao da frequencia cardiaca maxima como base para se estabelecer as diferentes intensidades de treino.
Neste metodo, a frequencia cardiaca submaxima para cada intensidade de treino e calculada atraves da percentagem da frequencia cardiaca maxima atribuida a cada “patamar” de intensidade.
 
Tabela de prescricao da intensidade de treino atraves da percentagem da frequencia cardiaca maxima
 
 
O terceiro metodo de determinacao da intensidade de treino recorrendo a frequencia cardiaca, e feito atraves do calculo da frequencia cardiaca de reserva.

Este metodo baseia-se no calculo da frequencia cardiaca de reserva atraves da analise da frequencia cardiaca maxima, da frequencia cardiaca de repouso e da intensidade de treino.
 

Esta formula torna a prescricao do treino mais individualizada no que diz respeito a utilizacao da frequencia cardiaca, pois tem em conta dois factores pessoais de cada atleta que sao a sua frequencia cardiaca maxima e a sua frequencia cardiaca de repouso.
 
Frequencia Cardiaca de Recuperaçao
 
O tempo que a frequencia cardiaca dos atletas demora a regressar a valores de repouso, apos o exercicio e um excelente metodo de medida da adaptacao dos individuos ao treino, pois, um rapido tempo de recuperacao e estabilizacao da frequencia cardiaca apos o exercicio indica um bom incremento da condicao fisica, nomeadamente da sua capacidade aerobia.

Caso contrario, num elevado tempo de recuperacao e estabilizacao da frequencia cardiaca de repouso pode supor que existam falhas na adaptacao ao treino ou a existencia de doencas.
 
Quando se usa a frequencia cardiaca de recuperacao para a monitorizacao dos efeitos do treino, ha que ter em conta alguns aspectos importantes, tais como:
 
 - Garantir que a carga de treino e suficiente para que se produz uma quantidade razoavel de fadiga;
 - Garantir que a carga de treino e sempre a mesma em cada teste de analise da frequencia cardiaca de recuperacao;
- Garantir que a analise da frequencia cardiaca de recuperacao e feita sempre no mesmo intervalo de tempo apos cada exercicio;
 - Garantir que o periodo de recuperacao seja passivo.
 
Apos o exercicio, nos primeiros dois minutos, a frequencia cardiaca reduz cerca de 40 a 60 bpm, depois dos dois minutos o decrescimo e muito menor, levando muito tempo ate se atingir a frequencia cardiaca de repouso.
 
No que diz respeito a recuperacao passiva, esta provoca uma diminuicao rapida da frequencia cardiaca, mas no entanto provoca a acumulacao do acido lactico, uma vez que este e removido muito lentamente.
 
A investigacao ainda nao estabeleceu um porque do treino causar uma rapida recuperacao da frequencia cardiaca para valores desta em repouso apos os exercicios, somente sao apresentadas algumas razoes nao inteiramente comprovadas.
 
A utilizaçao de um aparelho de verificaçao da frequencia cardica é totalmente aconselhável para o atleta durante a fase do seu treino habitual.
Aprende a conhecer os seus limites, conhecendo pelo ritmo cardiaco as fases de maior cansaço / stress fisico.

Ajuda na preparaçao do seu treino durante uma época desportiva.
 
 
 


 
 


 

 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 




 












 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Momentos críticos em competição

Como combater os momentos críticos em competição


 

Todos os atletas já viveram momentos críticos em competição. Seja por maus momentos de forma física, por imprevistos, por incapacidade de gerir a pressão, por instabilidade emocional, por falta de confiança ou por não conseguir a concentração necessária para se superar. Estes atletas viram a sua performance afectada e ficaram aquém dos resultados. Quando isto acontece de forma repetida, o problema vai aumentado até chegar a ser crítico, destruindo a confiança, eficácia e a esperança de voltar a recuperar o seu nível ótimo de competição. Uma boa preparação mental por parte do atleta, torna-se numa vantagem competitiva, evitando percalços e aumentando a capacidade de gerir a pressão e tensão negativa nos momentos críticos.
 

DA INCONSISTÊNCIA AO PROBLEMA CRÍTICO

Quando a inconsistência competitiva começa a ser a regra, quando o atleta faz todos os esforços ao seu alcance para tentar combater os maus resultados e não é bem sucedido, o problema cresce até ao ponto de deixar marcas profundas de descredibilização da capacidade do atleta. Gera-se um ciclo negativo de crença sobre a capacidade de ultrapassar o problema, gerando como que um “trauma” à competição.
 
As estratégias psicológicas e a tenacidade mental são fatores cruciais durante períodos competitivos específicos e explicam porque razão a incapacidade de gerir estas estratégias mentais têm um impacto negativo na performance. Conhecer o perfil psicológico esportivo do atleta é uma mais valia para perceber como é que este funciona em situações em que a aplicação das capacidades esportivas mais contam. Isto quer dizer que a performance esportiva deve ser vista no contexto da interacção entre significação da personalidade, comportamentos e as variáveis psicofisiológicas, levando ainda em consideração os resultados esportivos derivados da análise dos momentos críticos em competição.

O QUE SÃO MOMENTOS CRÍTICOS

Momentos críticos podem ser definidos como casos ou situações que são fundamentais para o sucesso de uma competição. Estes momentos testem a habilidade dos atletas para terem o melhor desempenho quando é mais importante, exigindo um controlo extraordinário sobre os processos que ocorrem entre o corpo e a mente. Num jogo de ténis, um momento crítico pode ser uma oportunidade de quebra de serviço contra um jogador com um excelente serviço. No golfe, um momento crítico pode envolver a execução de uma tacada para atingir o green e ter a hipótese de fazer um birdie.

TRAÇOS PSICOLÓGICOS

Alguns atletas apresentam um constelação de traços de perfil psicológico em competição, que podemos chamar de constelação de fatores de risco. No Modelo de Elevado Risco de Percepção de Ameaça (MERPA) desenvolvido pelo Professor Dr. Roland A. Carlstedt. Este modelo tem por objectivo prever os riscos específicos das interacções entre corpo e mente que contribuem para o desenvolvimento dos sintomas físicos e psicológicos. Ele isolou alguns comportamentos primários de 1ª ordem:
  • Habilidade hipnótica, baixa ou elevada
  • Neuroticismo elevado/efeito negativo
  • Coping repressivo, baixo ou elevado.
De acordo com cada constelação particular derivada destas três variáveis de traços, assim também será proposta uma intervenção especifica para cada atleta de acordo com o seu perfil psicológico e dos comportamentos apresentados em competição.
A abordagem do MERPA, veio trazer um importante contributo no campo da intervenção e elaboração de Programas de Preparação Mental específicos para atletas. Este protocolo não assume que todos os atletas beneficiam necessariamente do mesmo tipo de intervenção e demonstrou que uma abordagem baseada na individualização para a melhoria é mais efectiva que uma aplicação de intervenção em massa. Erradamente, existe a tendência para se pensar que todos os atletas beneficiam da mesma abordagem, mas uma aplicação de um possível programa de preparação mental específico como a abordagem MERPA, irá trazer mais vantagens a atletas e treinadores.
 


AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO

Para a avaliação da problemática observada em competição e diagnóstico do perfil psicológico competitivo do atleta, podem ser utilizados vários instrumentos de medida, como por exemplo:
  • Inventário Psicológico de Execução Desportiva
  • POMS (Questionário do Perfil dos Estados de Humor)
  • Escala de Ansiedade de Zung
  • Escala Beck de Auto-avaliação da Depressão
  • Avaliações psicofisiológicas com aparelho de Biofeedback
  • Entrevista Estruturada de Diagnóstico
Será com base na triangulação das várias avaliações que se construirá o programa de preparação mental individual para o atleta.

PASSOS PARA A ACÇÃO

O que apresento em seguida e de acordo com o esclarecimento anterior não pretende ser a solução para todos os atletas que se encontrem numa situação problemática face aos resultados em competição. Descrevo um conjunto de passos que visam exemplificar algumas das estratégias mentais, que poderiam estar presentes para combater os momentos críticos que possam estar a impedir o atleta de expressar todo o seu potencial em competição. São passos generalistas que visam a exemplificação, ainda assim, pode ser útil para os atletas que se identifiquem com o exposto:
Passo 1: Percepção de receio/incapacidade, sempre que o atleta sentir receio ou incómodo face a uma competição futura, um sentimento de que não irá conseguir algo que espera alcançar, esse mesmo sentimento deverá funcionar como um alerta (ou seja esse mesmo receio irá funcionar como um marcador que lembrará o atleta para accionar as estratégias mentais aprendidas).
 

 
Passo 2: Alteração de crenças, o atleta deve ser informado acerca da alteração de algumas crenças inadequadas e mudá-las: vejamos, as limitações ou os sentimentos de incapacidade são temporários, ou seja, não duram para sempre – desta forma depende do atleta o tempo que irá permanecer com essa percepção de receio. Pode sempre transformar o receio em capacidade. Se pegarmos na palavra transformar e a levarmos à letra para o campo esportivo, é exatamente isso que acontece, o atleta pode conseguir transformar o seu estado de “incapacidade” para um estado de capacidade através da aprendizagem do treino de auto-regulação.
Esclarecimento: Cientistas Americanos e soviéticos ligados à psicologia esportiva demonstraram que os “humanos poderiam utilizar processos mentais para exercitar um grau de controlo sobre as suas funções autónomas.” É o denominado “treino de auto-regulação”.
A capacidade que o ser humano possui para controlar até um determinado grau o seu Sistema Nervoso Autónomo, permite que os atletas consigam controlar e reverter alguns sintomas fisiológicos associados ao medo e à instabilidade emocional. Podemos constatar que, por acção da força de vontade é possível aos atletas colocarem-se num estado facilitador de máximo rendimento, accionando os mecanismos fisiológicos e motores necessários para a realização dos movimentos utilizados para uma boa execução esportiva. Na verdade, o corpo transforma as suas estruturas internas de forma a que constituam um “estado de ser” compatível com a exigência competitiva.
O atleta que se encontra num estado de inconsistência competitiva beneficiará de um processo de aprendizagem de controlo das estratégias que irão conduzi-lo ao sucesso, e que este processo é como o treino, temos de experimentar e ir melhorando até alcançar o êxito. Na atualidade as vantagens da auto-hipnose nos esportes são inúmeras, pelo que apresentam-se como mais uma ferramenta ao dispor de atletas e treinadores para reprogramar atitudes, comportamentos e pensamentos capacitadores para a melhoria do máximo rendimento.
Passo 3: Alteração de comportamentos e pensamentos, Ao identificar algumas sensações que impediram o atleta de ter uma boa prestação (isso é construtivo se aprender com a situação) deverá fazer o seguinte:
  • imaginar a situação de competição como se estivesse lá, depois disso fechar os olhos e imaginar-se a alterar alguns comportamentos e/ou pensamentos que acha que lhe iriam servir para ter um melhor desempenho. E depois disso deverá “gravar” o que disse para si próprio e como isso o fez sentir-se.
  • Em seguida o atleta deverá descrever as situações, sensações, estados de humor, tais como energia/confiança/respiração/postura: Exemplo, “senti confiança nas minhas capacidades.”
  • Depois o atleta deverá comparar com aquilo que aconteceu exactamente na competição. Analisar as diferenças encontradas entre a situação imaginada e a real e reestruturar as estratégias de intervenção para a competição futura (aplicar isto no passo 5).
Passo 4: Constatação dos acontecimentos: Provavelmente aconteceu exactamente aquilo que receava…vejamos o paradoxo…ao pensar num receio ele materializa-se, isto é caricato, ao pensar no que se receia o corpo transforma o seu estado interno para dar a resposta de medo e incapacidade. O atleta sente perda de energia, perda de concentração, perda de confiança, confusão, irritabilidade, entre outros. Tudo aquilo que o atleta sente é o resultado da transformação interna do seu organismo por acção do pensamento.
Passo 5: Reestruturação da atitude, para reestruturar o processo mental o atleta deverá fazer o seguinte:
  • Sempre que se sinta receoso face a algo em competição, o atleta deverá colocar em acção o seguinte exercício: de forma imaginada deverá pensar na consequência daquilo que receia, depois para eliminar o receio e transformá-lo em algo construtivo, deverá pensar naquilo que é importante para a competição (estratégia competitiva, bom aquecimento, regulação do estado de humor, visualização da técnica, mobilização da energia) e dizer para si próprio que se continuar a pensar da forma inicial está a fazer sabotagem aos seus resultados – a partir daqui o atleta pode conseguir assumir o controlo e mudar para um estado de capacidade e facilitador (estás em controlo), alcançar a sua Zona ótima de Funcionamento.
 
ESCLARECIMENTO
Todos os atletas passam por momentos críticos em competição, só que uns conseguem controlar isso e sair desse estado, outros não. O receio não é o problema, o que se torna no problema é a incapacidade de alterar os estados do atleta. É aqui que o atleta tem de tomar consciência e investir algum do seu tempo e dedicação. Investir num programa de treino mental é importante para uma eficaz reprogramação mental para o êxito.
A reter: “ O corpo está à escuta da mente.”
É preciso ir aperfeiçoando a forma como o atleta comunica consigo próprio. O atleta deverá aprender a identificar algumas das coisas que o prejudicavam, e é a partir delas que tem de ir ganhando confiança (ou seja, tem de ir ajustando e aferindo as estratégias, até que estas funcionem) sem que se sinta diminuído, quando por vezes ainda não são suficientemente eficazes. Este é um trabalho continuo que acredito dar frutos quando aplicado de uma forma sistematizada.

PORQUE É QUE O ATLETA FICA RECEOSO

Aquilo que o atleta pensa e faz a seguir a ter identificado uma situação critica ou um receio, é exactamente aquilo que o faz evitar ou não esse próprio receio ou a sua consequência (que por vezes são exactamente a mesma coisa). A sensação de receio irá funcionar como um marcador/identificador que dá um alerta. Se a percepção lida for de ameaça, a partir deste alerta, irá activar o perfil psicológico competitivo do atleta, irá accionar o conjunto de traços que fazem o atleta ficar fora da sua Zona de Ótimo Funcionamento. Se o atleta pensa que não irá conseguir um bom desempenho porque se está a sentir receoso ou com falta de confiança (porque no passado assim aconteceu) e diz para si, que provavelmente desta vez também se irá sair mal, então sair-se-á mal mesmo.
Analogia: O seu corpo irá encolher os ombros e dirá: “Quem sou eu para argumentar os pensamentos e mensagens que tu estás a transmitir para mim.” Isto é a descrição perfeita da sabotagem! – isto é o que o atleta não deverá mais deixar acontecer.

DESMITIFICANDO O PROCESSO

O passado é isso mesmo, passado, o atleta deverá encarar o futuro com uma nova visão das suas capacidades – a capacidade para tomar na sua mão aquilo que quer fazer, pois estará a treinar o processo para chegar onde acredita que chegará. Porque o atleta quer, e não porque alguém acha que deverá. Os insucessos consecutivos em competição, vão pouco a pouco diminuindo a eficácia do atleta. Relacionado com esta situação acontece um fenómeno, que é a percepção de incapacidade face à tarefa que pretende realizar (por exemplo: nadar rápido; um melhor serviço no ténis).
Na grande maioria das vezes os atletas têm uma boa atitude, têm uma atitude positiva face à situação que se encontram. Tentam por todos os meios voltar a ser eficazes em competição, no entanto se não conseguem alterar a situação, muito provavelmente é porque a estratégia que estão a utilizar não é a mais correta e adequada às circunstancias e à sua forma de ser. Existe sempre uma grande probabilidade do atleta conseguir resolver o seu problema de baixo rendimento competitivo, através da aplicação de um programa de preparação mental individualizado e adequado às suas características, tal como tenho vindo a referenciar. É importante que o atleta entenda que o seu problema não é fixo e estático. O atleta deve tentar não se confundir com o seu problema, e entender, que tal como necessita de desenvolver alguns aspetos da sua preparação física, também necessita de desenvolver e treinar alguns aspetos psicológicos da sua preparação mental.
 
 


O PROCESSO DE COMBATE AOS MOMENTOS CRÍTICOS:


  • Acreditar que não consegue. Ao Acreditar que não consegue controlar a situação, o atleta faz uma antecipação de consequências negativas geradoras de ansiedade, ao que liga também o medo de não conseguir mais uma vez vir a ser bem sucedido. Tal como já referenciei, quando accionamos o medo, ao mesmo tempo no corpo sente-se um conjunto de sensações (batimento cardíaco acelerado, aumento da frequência respiratória, transpiração, tensão muscular, mau estar no estômago) ao interpretarmos estes sintomas como incapacitantes, accionamos uma reacção no corpo – MEDO: “eu estou com medo de falhar.” Diminuímos assim a percepção de eficácia. Quando o atleta se percepciona como pouco eficaz, o seu corpo vai reagir a esses pensamentos e desmobiliza-se, ou seja perde energia e diminui a confiança. Um atleta sem confiança diminui drasticamente a sua probabilidade de ser bem sucedido. O atleta entra num ciclo negativo que gera insucesso.
  • Reverter a situação. É possível reverter isto se o atleta aprender as estratégias mentais para ajudar a reestruturar os pensamentos e passar a construir um ciclo positivo que o levará ao sucesso (Ciclo de Sucesso).
  • Orientar os pensamentos. Ao aprender a orientar os pensamentos através de auto-verbalizações (é aquilo que o atleta diz ou pensas para si próprio). Isto é muito simples – Já sabemos que podemos controlar aquilo que queremos pensar e o que pensar (normalmente devemos pensar aquilo que queremos, nos processos que nos conduzam ao êxito – como por exemplo, pensar na técnica, em palavras de incentivo, visualização de boas execução. O atleta não deverá pensar naquilo que não quer que aconteça, mesmo que pontualmente alguns pensamentos incapacitantes lhe passem na cabeça. Uma estratégia facilitadora é o atleta relembrar-se daquilo que é importante pensar para que aumente a probabilidade de ser bem sucedido. O atleta tem sempre opção de escolha, e deverá escolher os pensamentos que lhe servem para vir a ser bem sucedido. É claro que também isto requer algum treino.
  • Passo a passo. O atleta deverá começar com pequenas tentativas durante o treino (como por exemplo, algumas palavras de incentivo a si próprio – “Vou conseguir, sou capaz, para ser capaz foco-me mais na minha técnica, imagino-me a nadar mais rápido, consigo nadar em esforço.”
  • Mudança de crenças. O atleta deverá mudar algumas crenças negativas (crenças é aquilo em que se acredita. Por exemplo o atleta poderá dizer para si:
“O facto de até agora não ter melhorado não quer dizer que não venha a melhorar. Afinal não existe nada de errado comigo, apenas não estava a utilizar as melhores estratégias.”
“A minha falta de confiança não tem a ver com o facto de não ter capacidade, mas sim porque tenho interpretado mal algumas coisas que se têm passado.”
“Com esforço e dedicação vou conseguir obter bons resultados. Eu consigo motivar-me através de palavras de incentivo.
“Eu consigo orientar os meus pensamentos e fazer aquilo que estou a pensar.”
“Vou tentar até conseguir.”
O atleta deverá começar a reparar em coisas que consegue fazer e como as conseguiu alcançar. Tem de tentar perceber como se sente quando faz algumas coisas bem. No fundo tem de tentar perceber que sensações, imagens, pensamentos e comportamentos acontecem quando fica no seu melhor estado de recursos (facilidade em fazer as coisas). Estas estratégias mentais para potenciar o treino esportivo devem ser implementadas nas rotinas pré-competitivas. Deverão ser aplicadas durante o treino como forma de treino mental. As estratégias mentais de êxito funcionam como uma boneca russa matrioska (esquema 1) onde encaixamos os conceitos uns nos outros.
 
 
A Vontade está relacionada com muitos factores, quando os resultados competitivos não são os desejados, o atleta pode perder alguma da sua vontade e ímpeto para treinar. No entanto o atleta deve relembrar-se que a implementação do treino mental é um processo que funciona como o treino físico – é preciso praticar, por isso é necessária paciência e persistência.
A vontade ou a perda desta, está directamente relacionado com 3 factores importantes:
  • 1- Percepção de capacidade face à tarefa ou situação (resultados satisfatórios em competição). O que face a um atleta que apresente inconsistência competitiva, podemos dizer que a sua percepção de capacidade é reduzida, certo? Mas não está relacionada com as suas habilidades físicas, do género, “Eu não consigo nadar rápido.” Aquilo que acontece é que o atleta percepciona-se como incapaz de expressar o seu potencial em competição (existe algo, uma barreira que lhe afecta o resultado). Ainda assim, a grande maioria dos atletas nesta situação, acredita ter potencial.
  • 2- Expectativa de resultado. ” Consigo realizar uma boa competição e ser bem sucedido.” O atleta que não consegue gerir os momentos críticos em competição e não consegue pensar desta forma, tem uma percepção que a sua expectativa de resultado é baixa. isto verifica-se porque ao avaliar as ultimas competições, a percepção daí retirada é a de que não pode esperar grande coisa, dado que apesar de tentar não tem conseguido ser bem sucedido. A expectativa de resultado influência o próprio resultado.
  • 3- Significação da prática do desporto e da competição. Ou seja, se treinar é significativo para o atleta, o acto de esforçar-se para atingir um resultado que o faça sentir-se bem, orgulhoso e realizado é algo de muito positivo. Apesar de o atleta não estar a atingir o que pretende, sentindo-se afectado, ainda assim continua a ter um grau de significação elevado face à importância de continuar a competir.
Se algumas de destas áreas estiverem afectadas, muito provavelmente o atleta percepciona-se como tendo pouca força de vontade . Então como vamos trabalhar isto?
Em relação ao 1ª ponto (Percepção de capacidade face à tarefa ou situação), o atleta deverá tentar conseguir separar a percepção que tem das suas habilidades físicas, das emoções negativas que tem face à sua percepção de incapacidade, pois esta refere-se às competições e resultados e não às suas capacidades, pelo que deve continuar a treinar os aspectos físicos e mentais no treino. Deverá deixar de pensar de forma depreciativa acerca de si (que gera emoções negativas) – como: “Eu não vou conseguir, eu não valho nada, os outros é que são bons, o melhor é desistir.” Aqui está a ser sabotar, relembro que o objectivo é o atleta transformar-se em facilitador. Tem de começar em treino a reverter isto e a dizer para si próprio palavras de motivação e capacidade. O atleta deverá orientar o seu pensamento para aquilo que pretende alcançar e não para aquilo que receia.
A tarefa a desenvolver é arranjar uma palavra que dê motivação e capacidade, e ao verbalizar a palavra deverá sentir energia no corpo e confiança (o atleta deverá experimentar algumas palavras, até perceber qual é que funciona melhor para si). A palavra funcionará como uma âncora ou gatilho que acciona o estado ótimo de performance.
Em relação ao 2º ponto (expectativa de resultado), nas próximas competições esta situação deve ser remetida para segundo plano, ou seja, o principal objectivo é colocar em prática na competição aquilo que vai aprendendo, e não estar centrado no resultado. Deverá centrar-te no processo e não no resultado. O processo é tudo aquilo que se aprende em treino. O que aconteceu no passado não tem necessariamente de acontecer no futuro.
“Eu tenho capacidade para mudar as coisas, desta vez vou conseguir pois estou empenhado.”
Em relação 3º ponto (significação da prática do desporto e da competição), o atleta deverá acreditar que com esforço, trabalho e dedicação conseguirá atingir aquilo que pretende. Uma estratégia que pode ajudar é estar centrado neste facto, relembrando-se que o corpo está à escuta da mente, pelo que deverá praticar a disciplina mental através da concentração e das auto-verbalizações, dar indicações ao corpo e a si próprio (tal como se o treinador desse indicações para determinada técnica). É como se imaginasse outra pessoa a falar para si.
Dica: O corpo está à escuta da mente, pelo que o atleta deverá escolher bem aquilo que diz para si, deverá escolher aquilo que lhe transmite capacidade e abandonar tudo o que o coloca em baixo.
A concentração tem conteúdo, o atleta deverá intencionalmente dirigir a sua atenção para aquilo que acha importante para atingir o objectivo. Por exemplo, se tiver a ficar nervoso, deverá dirigir a atenção para a respiração e relaxamento muscular. Se começar a ficar com medo, deverá dirigir a sua atenção para palavras de incentivo e motivação.
 


Apresento em seguida alguns exemplos das estratégias mentais a usar nas rotinas pré-competitivas :

  • Respiração (inspirações e expirações profundas) o facto de dirigir a atenção para a respiração e para o ritmo da respiração, permite ganhar percepção de controlo sobre si próprio , o que é bom pois desta forma evita que os estímulos aleatórios vindos do exterior (ambiente competitivo) perturbem ou incomodem.
  • Dirigir a atenção:
    - Nesta técnica deverás dirigir a atenção para estímulos ou situações que percepcione como benéficas para si. Ou pode dirigir a atenção para si próprio, para o seu corpo ou partes do corpo (induzindo sensações de relaxamento de tensão, energéticas, entre outras).- Pode ainda dirigir a atenção para imagens, imagens de boa execução de movimentos técnicos do seu esporte, imagens de superação, imagens de experiências positivas de outras competições bem sucedidas, imagens de eficácia, de visualização do treinador e amigos a dar os cumprimentos pelos bons resultados.- Pode ainda dirigir a atenção para os seus pensamentos, aqui os pensamentos podem tomar a forma de palavras, chama-se auto-verbalizações silencioasas, estas auto-verbalizações devem ser orientadoras face ao seu objectivo, do género: “Força, acredita, vamos lá, garra, sou capaz.”
  • Visualização e verbalização. Emparelham-se auto-verbalizações com imagens da competição: Exemplo na natação - sair rápido ao tiro, nadar descontraído, voltar e empurrar forte, respirar …., braçadas longas e rápidas, resistir à dor.
  • Concentração. A concentração tem conteúdo, ou seja, durante o aquecimento e a competição a concentração é contínua, nós estamos sempre concentrados em alguma coisa. Desta forma deveremos ser nós, de forma intencional a orientar aquilo em que nos queremos concentrar (assunto, coisa ou situação) e depois orientar o processo face ao objectivo (o que pensar, dizer, ou sentir) necessário para obter um ótimo resultado. O conteúdo é um conjunto de indicações que damos a nós próprios e que acreditamos que nos servem para facilitar a obtenção daquilo que desejamos.
  • Crenças adaptativas. O atleta deverá trabalhar as crenças que tem em si próprio. Se o atleta acredita que todos os outros atletas são melhores que ele, logo esta é uma crença negativa e incapacitante que vai sabotar tudo o que fizer para cumprir o seu objectivo. O atleta coloca-se num estado de descrença face àquilo para o qual tem treinado. Isto era apenas um exemplo, não quer dizer que aconteça com todos os atletas que passam por momentos críticos em competição. Mas se isto acontece, tem de se erradicar esta crença, pois ela não corresponde à realidade. Tal como esta crença existem outras, o atleta deverá tentar perceber que crenças tem que possam prejudicá-lo face ao seu objectivo. A sua tarefa será identificar o que acha que o pode prejudicar.
  • Confiança. O atleta deverá investir na reestruturação daquilo que pensa acerca de si, e acerca das suas habilidades. Deverá adoptar a perspectiva de que com esforço e trabalho conseguirá melhorar. Os resultados constroem-se com o treino e a dedicação, com a experiência de derrotas e vitórias. Não existem derrotas, existem resultados que nos servem, para deles retirarmos informação para melhorar. Esta informação chama-se feedback, o feedback é sempre construtivo. Mesmo perante resultados menos bons, se tivermos uma atitude positiva poderemos sempre retirar informação que nos vai servir para melhorarmos o desempenho. Se experimentamos algo que não funcionou (em termos de resultado é negativo) mas em termos de aprendizagem é sempre positivo, desde que se retire informação (porque razão não funcionou?) que nos permite ir emendar, alterar ou acrescentar alguma coisa, para que na próxima oportunidade possa funcionar e aumentar a probabilidade de ser bem sucedido.
 


CONCLUINDO

A psicologia esportiva tem contribuído com um vasto número de estudos, práticas e estratégias que devidamente aplicadas podem contribuir para o aumento de rendimento esportivo e igualmente contribuir com uma resposta eficaz para alguns dos problemas apresentados pelos atletas, que lhes diminui o seu desempenho competitivo. Eu acredito na hipótese que os mecanismos do corpo/mente que levam à hiper-reatividade fisiológica, resultando nas queixas dos atletas, prejudicam o desempenho esportivo. Os atletas que conseguem controlar alguns aspetos mentais significativos, tais como o foco atencional, atividade cognitiva, intensidade da excitação, mobilização energética e estratégias de lidar com situações desfavoráveis, são mais capazes de expressar todo o seu potencial competitivo. Os atletas que não conseguem combater os momentos críticos em competição, sabotando a sua habilidade para ter uma performance de acordo com o seu potencial, muito provavelmente são afetados pelos aspetos negativos dos sintomas fisiológicos e das cognições disfuncionais dos seus processos de raciocínio inconsciente.
 
Retirado de : Escola Psicologia

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sobre a alta competiçao ou simplesmente pela prática desportiva com objetivos de sucesso

Um estudo feito numa outra modalidade (adaptado ao remo)
 
 
Sem dúvida, que o desporto e a atividade física em geral são uma das principais atividades da nossa sociedade que captam a atenção de milhares de pessoas seja através da sua prática ou simplesmente como espetadores das mesmas.
 
Porém, quando a prática desportiva se inicia em idades muito jovens, o atleta passa a ter no seu quotidiano duas atividades de grande exigência que, quando desempenhadas em simultâneo, podem colocar-lhe bastantes dificuldades, nomeadamente na conciliação dos estudos com os treinos.
 
O remo é uma das modalidades mais rigorosas, diria até das mais exigentes, onde a tentativa de ir mais longe, de atingir um nível de excelência desportiva, implica um processo de muitos anos de treino, de muita dedicação e sacrifício.
 
 

 

O que para um jovem atleta, cuja rotina implica sair da escola, ir treinar, chegar tarde a casa e ainda ter de estudar, se pode tornar bastante desgastante e consequentemente levar ao abandono escolar ou da própria modalidade.
 
Assim, a presente investigação procurou perceber se os atletas conseguem conciliar o sucesso desportivo com o sucesso escolar, expondo as dificuldades e os apoios sentidos pelos mesmos ao longo da sua carreira desportiva, bem como analisar e comparar o percurso desportivos de atletas de diferentes níveis de performance.
 
Entre atletas entre os 15 e 30 anos, sendo simultaneamente estudantes, verifica-se:
 
Quanto aos apoios e dificuldades sentidas pelos atletas na conciliação do desporto com os estudos, as principais conclusões apontam que:
1) os atletas afirmam ter dificuldades em conciliar o sucesso nos estudos com o desporto de alto rendimento;
2) as maiores dificuldades sentidas para conciliar os estudos com o desporto, são a conciliação dos horários, a falta de tempo e ainda o esgotamento físico e psicológico;
3) a família, comparando-a com as outras instituições (escola/clube/federação), é a que mais apoia os jovens atletas, fornecendo segundo os atletas um apoio incondicional (apoio financeiro, emocional, médico e logístico);
4) mais de metade dos elementos da amostra declararam não ter qualquer conhecimento das medidas de apoio existentes para atletas de alto rendimento e poucos usufruem das mesmas;
5) consideram que não seriam melhores atletas se não estudassem, havendo no entanto uma tendência para sentirem que seriam melhores alunos se não competissem.


 
Relativamente ao estudo da carreira desportiva, verificou-se que:
1) não existiu qualquer influência dos pais quer no início da carreira desportiva, quer na escolha desportiva dos filhos, estes envolveram-se no desporto por vontade própria;
2) a eleição dos atletas para início da prática desportiva dividiu-se pelo clube e a escola, tendo a maioria praticado apenas uma modalidade ao longo da sua carreira desportiva;
3) existe uma relação entre o tempo dedicado ao treino e o rendimento alcançado quando considerado para a análise a idade dos atletas, os anos de prática desportiva, o número de treinos e o número de horas de treino semanais;
4) verificou-se um aumento gradual da frequência semanal de treino proporcional ao aumento da idade dos atletas;
5) quanto aos fatores que contribuíram para o seu sucesso desportivo os atletas atribuíram maior importância à predisposição para treinar, à motivação para ganhar e à ajuda do treinador.
 
Em termos genéricos, podemos concluir que a exigência desportiva verificada nos atletas de alta competição pode de facto influenciar a sua prestação escolar.
 
No entanto, não podemos apontar o desporto como causador de insucesso escolar, pois verificamos que, para que os atletas consigam conciliar as duas atividades, é importante e necessário que as instituições coloquem em prática as medidas regulamentadas, cumprindo assim o que está estabelecido na lei para estes jovens atletas, e consequentemente ajudando-os na sua formação académica.


 
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Quanto a atletas/trabalhadores, também pouco haverá a dizer em termos de apoio.
 
As empresas que tem nos seus quadros atletas de alta competiçao, nao dao qualquer tipo de ajuda ou muito pouca na prática desportiva do atleta.
Seja em termos de patrocinios ou no simples facilitar de horários para o treino do atleta.
 
A conclusao é que a prática desportiva ao mais alto nível, quando inserida num contexto profissional é quase incompativel, tendo o atleta a ser ele a buscar os seus horários para treinar.
 
A opçao terá que ser feita pelo atleta, ou mantém se na sua modalidade e tenta encontar as formas necessárias de apoio financeiro para a prolongar ao mais alto nivel e durante o maior tempo possivel a competiçao ou opta pelo abandono e consequente escolha da sua profissao, o habitual.....