Alberto Demiddi foi o maior remador da história do remo argentino, mas sempre lamentou ter perdido a prova da sua vida.
Foi campeão argentino, sulamericano, panamericano e mundial, mas chegou em segundo na prova que não podia perder, a do ouro olímpico. E sempre sofreu com essa perda.
Não era fácil o relacionamento com Demiddi e ele mesmo admitia ter um temperamento difícil.
E esse pavio curto era suficiente para, por exemplo, atravessar a rua quando esbarrava com algum dirigente indesejado, para evitar o assédio dos jornalistas ou simplesmente para brigar quando havia, segundo ele, razão para tal atitude.
Quando jovem o seu destino parecia ser a natação.
O seu pai era treinador em Newell´s e Demiddi chegou a dar umas braçadas. Uma briga com o pai o afastou das piscinas e o aproximou do remo.
Em 1960 o Clube de Regatas de Rosário o recebeu. O seu temperamento obrigava o a remar sozinho no skiff.
Logo vieram os títulos nacionais e a projeção sul-americana.
Participou dos Jogos Olímpicos de Tóquio e terminou em quarto. Winnipeg testemunhou o ouro panameriano em 1967.
Nas Olimpíadas no México, em 1968, levou o bronze, uma das duas medalhas que a Argentina ganhou nesses jogos.
As regatas européias conheceram o seu talento em 1969, quando Demiddi sagrou-se campeão continental na Áustria.
No ano seguinte, em Saint Catherine no Canadá, alcançou aquilo que estava predestinado, parte do curso natural da sua carreira de atleta: o campeonato mundial de skiff.
Isso aconteceu no dia 6 de setembro de 1970:
"Era o meu grande objetivo, preparei me como sempre o fazia, com um treinamento progressivo. Nas provas classificativas fui bem, mas Malishev fez um tempo melhor. Na final tinha que enfrentar os outros cinco rivais e um adicional: o calor. Fazia uns 40 graus!!!
Saí na frente mantendo uma pequena distância até aos 1200 mts. Depois ganhei com uma certa margem. Sufocado pelo calor, Malishev cruzou em quinto lugar".
Não parecia haver barreiras para Demiddi.
Depois de ter ficado em segundo em duas ocasiões na Regata Real de Henley na Inglaterra, em 1971 venceu o norte-americano Jim Dietz para ficar com o prêmio mais tradicional do mundo do remo.
Depois vieram os títulos panamericano e europeu nessa temporada.
Demiddi agora perseguia o seu objetivo maior. A medalha de ouro olímpica.
Demiddi chegou facilmente a final dos Jogos de Munique no dia 2 de setembro de 1972. O russo Malishev também o fez.
O pai de Demiddi - Alberto também - viajou em segredo para a Alemanha para acompanhar a regata. Mas não teve coragem de aparecer na frente do filho.
Ele temia trazer má sorte já que Demiddi era muito supersticioso.
Era a primeira vez que uma regata de Demidi era televisionada para a Argentina.
"Malishev foi para a frente e surpreendeu-me. Como eu não estava acostumado a ver barcos na minha frente e muito menos logo na largada, pensei que a minha saída tinha sido lenta e tentei alcancá-lo antes dos 1000 mts. Mas não conseguia... Então diminuí um pouco o ritmo para dar um bom sprint no final e tentar ganhar a prova. No sprint final coloquei uma voga de 35 remadas por minuto. Queria reagir em cada remada e até o momento final tinha certeza que o alcançaria, mas quando escutei o sinal da chegada não entendi nada pois eu achava que ainda tinha tempo para reagir..." comentou Demiddi.
Nunca houve uma chance de vingança. Malishev não competiu mais contra Demiddi e o argentino sentia que a "reforma" no remo como atleta se aproximava.
Ele então iniciou a carreira de técnico no clube La Marina, no Tigre, e ali fez remadores como Ricardo Ibarra e Sergio Fernandez.
Continuou lutando pelo que ele acreditava que era justo para o desporto, como quando veio de Rosario até Ezeiza (cidade onde está localizado o aeroporto internacional de Buenos Aires) para viajar para Munique no seu próprio carro, um velho Citroën, trazendo os seus próprios remos, porque não acreditava nos dirigentes da época.
Uma frase talvez resuma o que era Demiddi: "Irritava me muito perder e por isso não desfrutava muito dos triunfos".
Após uma luta de três meses contra um câncer no estômago, Demiddi faleceu no dia 25/10/2000 no hospital Uninor em São Fernando (cidade entre Buenos Aires e o Tigre).
Ele foi sepultado no Parque Memorial de Pilar. Estava com 56 anos e era casado com Silvia Sivieri e tinha cinco filhos, Alberto (27), Alejandro (24), Andrés (18), Alexis (17) e Alvaro (12) - idades na época do falecimento de Demiddi.
Desde 1974 até novembro de 1999 foi o treinador do Clube de Regatas La Marina, que sob o seu comando ganhou mais de 1500 regatas.
Demiddi foi um dos três argentinos na história dos jogos olímpicos a conquistar uma medalha olimpica.
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