quarta-feira, 30 de março de 2016

Oxford VS Cambridge - Um pouco sobre esta regata anual

Aposta, naufrágios, Dr. House e outras histórias da regata

A prova realizou-se este fim de semana no rio Tamisa com a vitória de Cambridge.

Nove episódios resumem a história de uma regata nascida de uma aposta entre dois amigos e que só no ano passado se rendeu por completo à igualdade de género.

Fica resolvida em menos de 20 minutos (em condições normais) mas tem por trás 187 anos de histórias. 

É a regata entre as universidades inglesas de Oxford e de Cambridge, provavelmente a prova de remo mais famosa do mundo. The Boat Race reeditou-se este fim de semana passado, em Londres.

Uma simples regata, ao longo de 6,8 quilómetros pelo rio Tamisa, entre Putney e Mortlake (Londres) é o palco do confronto entre as equipas das duas universidades mais conhecidas do Reino Unido. 

O passar dos anos (realizou-se a 162.ª edição da prova masculina e a 71.ª feminina) e a aclamação popular (dos milhares que assistem a tudo nas margens do rio e dos milhões que seguem pela televisão) ajudaram a engrandecer a lenda da competição. 

Em cada embarcação, oito remadores e um timoneiro (cox) tentam continuar essa história. Por cada um deles, aqui se recorda um momento lendário.

  
1829. Uma aposta na origem

De uma aposta entre amigos nasceu a mais emblemática prova de remo a nível mundial. Em março de 1829, Charles Merivale, estudante da Universidade de Cambridge, desafiou o amigo Charles Wordsworth, aluno da Universidade de Oxford, para um duelo de remo, entre as equipas de ambos, no rio Tamisa. Wordsworth aceitou e o confronto ficou marcado para 10 de junho desse ano. Oxford ganhou. E, entre avanços e recuos, a prova tornou-se um evento anual - realizado no início da primavera - a partir de 1856. 

Deste então, só não se realizou, a título oficial, nos anos da I e da II Guerras Mundiais (e mesmo aí foram promovidas regatas alternativas a nível oficioso).

1877. Um empate polémico

Os números são soberanos: 161 edições da regata masculina dividem-se entre 79 vitórias da Universidade de Oxford, 81 da de Cambridge... e um polémico empate, em 1877. Então, sem que existisse uma meta bem delineada como atualmente, o juiz da regata, John Phelps, não declarou o vencedor (dead heat), garantindo que ambas as embarcações tinham terminado ao mesmo tempo. A lenda - posta a circular pela equipa de Oxford, que se sentiu prejudicada - diz que Phelps, embriagado, teria adormecido atrás de um arbusto e perdido o final, optando então por um salomónico empate. 

Em 2003, os dois barcos também chegaram quase em simultâneo, mas não houve dúvidas: o sistema de photo finish, usado pela primeira vez, decretou o triunfo de Oxford.

1912. Um duplo naufrágio

Apesar da curta distância da regata - o percurso mantém-se desde finais do século XIX - nem sempre as duas embarcações conseguiram chegar ao fim. Todavia, a edição de 1912 foi única, pelos piores motivos: debaixo de péssimas condições climatéricas, ambos naufragaram e a corrida teve de ser repetida no dia seguinte - com o triunfo de Oxford. 

No total, The Boat Race já assistiu a seis naufrágios - o último foi de Cambridge, em 1978.

1924-36. Uma longa hegemonia

Hegemonia não rima necessariamente com monotonia. A Universidade de Cambridge lidera o contador de vitórias deste confronto especial, desde que conseguiu 13 triunfos consecutivos entre 1924 e 1936 (a mais longa de sucessos ininterruptos). No entanto, num trajeto tão curto, o triunfo é discutido quase sempre até ao fim. 

Os light blues detêm o recorde do percurso - 16.19 minutos, em 1998 - mas têm estado afastados do pódio: só venceram duas das últimas oito edições.

1938. Um fenómeno de massas

Originalmente, uma simples brincadeira entre rapazes adeptos de remo, The Boat Race acabou por se tornar um fenómeno de massas no Reino Unido. Desde a segunda década do século XX que a regata passou a ser acompanhada por multidões nas margens do rio Tamisa e transmitida por rádio pela BBC. No entanto, o início das transmissões televisivas transformou-se num fenómeno nacional, seguido por milhões de pessoas (6,2 no ano passado). 

É um caso raro, senão único, entre eventos de desporto amador.

1980. Quando Dr. House participou

Muitos nomes famosos do desporto passaram pela regata Oxford vs. Cambridge. Das artes e espetáculos, só um: Hugh Laurie, o ator mais conhecido como Dr. House (à conta da série televisiva homónima que protagonizou). Seguindo o exemplo do pai, antigo campeão olímpico de remo (1948) e três vezes vencedor da regata na década de 30, Hugh Laurie representou a seleção britânica de remo a nível júnior e competiu (e perdeu) por Cambridge em 1980. 

A corrida ficou marcada pelo quase desfalecimento de Steve Francis na embarcação de Oxford (que não tinha um médico a bordo...).

1987. Uma rebelião americana

A controvérsia que envolveu a edição de 1987 da regata dava um filme (e deu mesmo, chama-se True Blue). Os cinco estado-unidenses da equipa de Oxford - Chris Clark, Dan Lyons, Chris Huntington, Chris Penney e Jonathan Fish - recusaram-se a entrar em prova, em protesto com as decisões do treinador Dan Topolski, que queria excluir um deles da equipa. 

E, minados pela rebelião americana, os dark blues pareciam destinados a uma humilhação histórica. No entanto, contra todas as expectativas, ganharam a corrida, com uma equipa de reservas.

2012. Uma invasão das águas

Algo completamente diferente agitou - e levou à interrupção - a regata de há quatro anos. O australiano Trenton Oldfield lançou--se às águas do Tamisa e pôs-se a nadar entre as duas embarcações, para "protestar contra a cultura elitista" da sociedade britânica. Depois de Oldfield ser retirado à força das águas, a prova foi reatada, com a vitória de Oxford. 

E o australiano acabou condenado a seis meses de prisão, por perturbação da ordem pública.

2015. Por fim, igualdade de género

No ano passado, a mais emblemática prova de remo deu um grande passo no caminho da igualdade de género. Pela primeira vez, a regata feminina - que ocorre desde 1927 - realizou--se no mesmo dia e no mesmo percurso da prova masculina. 

E Oxford fez a festa a dobrar (os dark blues já tinham sobressaído em 1981, quando tiveram uma mulher, Sue Brown, como timoneira). 

No fim de semana, a corrida das mulheres (15.10) voltou a anteceder a dos homens (16.10), sendo a regata vencida por Oxford.

No dia anterior, houve também a regata dos veteranos, num percurso mais curto que a prova tradicional, e coube a vitória aos de Cambridge.

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