A polêmica universalização olímpica colocou um nigeriano na regata de Eton Dorney
4-fevereiro-2013 - Certamente, a ocasiao de um nigeriano se tornar um remador olímpico é mínima.
Uma boa parte do país é um deserto e as secas são comuns. Como uma das nações mais pobres do mundo a Nigéria possui, ao mesmo tempo, a maior taxa de natalidade e também a maior taxa de mortalidade infantil. Para completar esse cenário desolador, a expectativa de vida não chega a 55 anos.
Hamadou Djibo Issaka, um jardineiro de 35 anos, é um dos raros nigerianos que conseguiu se tornar um atleta competitivo na natação.
Porém, quando o Comitê Olímpico Nigeriano procurou Issaka para participar nos jogos olimpicos de Londres, o desporto não era a natação e sim o remo.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) reserva um número limitado das vagas olímpicas dentro da chamada “Universalidade” prevista na carta olímpica.
A comissão tripartida do COI convida os países que participaram com seis ou menos atletas nas duas edições de jogos anteriores a concorrer a uma vaga.
O melhor atleta do país no desporto escolhido é então indicado. Essa política gerou muita polêmica.
Steve Redgrave, o inglês pentacampeão olímpico, discorda: "Existem skifistas melhores de outros países que perderam a chance de competir nos jogos".
Matt Smith, secretário geral da FISA rebateu: "É importante entender o contexto destas vagas olímpicas. A importãncia de participar de um evento desta magnitude é enorme para esses países e atletas. As vagas não foram tomadas de outros remadores mais competitivos, elas foram adicionadas ao programa".
Como membro do COI, a Nigéria propôs Issaka como candidato no remo depois do Comitê ter aberto quatro vagas no skiff. Paraguai, Mianmar e Mônaco também conseguiram estas vagas.
A partir daí, começou o desafio para treinar Issaka. Na Nigéria não existem clubes de remo nem águas abrigadas.
A primeira experiência de Issaka foi em um barco a remo no mar. Com a ajuda do programa olímpico solidário do COI, da FISA e da Confederação Tunisiana de Remo, Issaka foi primeiro para o Egito e depois para a Tunísia para um campo de treinamento.
Finalmente, ele viajou para Hazewinkel (local dos proximos masters em Setembro de 2015) na Bélgica onde começou a treinar pela primeira vez numa manga balizada de 2000 mts.
Quando Issaka chegou a Londres ele tinha três meses de intensos treinos e um objetivo: completar os 2000 mts. no skiff abaixo de 9 minutos.
Na sua primeira prova, a prova de classificação 4, Issaka cruzou a linha de chegada com o tempo de 8:25.
Apesar de ser 1 minuto mais lento que o medalhista de ouro Mahe Drysdale, Issaka foi o remador mais comemorado pelo publico nas bancadas. Foi um momento marcante dos jogos.
Ele competiu mais três vezes. Na segunda vez, na repescagem, Issaka já era uma sensação olímpica com toda a imprensa mundial querendo entrevistá-lo.
Quando perguntaram o que ele achava do fato de chegar tão atrás dos outros competidores, o calado Issaka respondeu: “Eu já estou acostumado. Eu estou a disfrutar tudo isto. O apoio do publico dá-me ânimo para chegar até a linha de chegada”.
Agora que ele tomou o gosto do remo, Issaka quer seguir até os jogos no Rio em 2016. “Muitas pessoas na Nigéria querem começar a remar depois eu ter ido aos jogos. Agora basta aguardar a chegada dos barcos”. Alguns barcos de fibra estão sendo enviados para a Nigéria e a esperança é que seja plantada a semente para que o país consiga popularizar o remo.
O skifista nigeriano Hamadou Djibo Issaka na regata de Eton Dorney nos jogos de Londres 2012
A seguir....
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