sábado, 29 de novembro de 2014

A sobrevivência dos clubes de remo

A sobrevivência dos clubes de remo


Introduçao


Sobre a estrutura de suporte e apoio, no caso, os clubes de remo e suas instalaçoes.
Penso ser do senso comum e igual opiniao que a actual geraçao de remadores tem uma qualidade estrutural que nao havia há 30/40 anos atrás.


Os antigos remadores, gozam na actualidade dessa mesma qualidade que a geraçao mais nova, na sua categoria como veteranos.
Lembram-se dos nossos antigos clubes? 
Falo um pouco do antigo Arco e do antigo Nautico de Viana cujas instalaçoes estao agora a serem demolidas e em comparaçao estes 2 clubes deram origem ao Viana Remadores do Lima que recentemente comemorou 1 ano e tem actualmente uma (se nao a melhor) das melhores instalaçoes que um clube de remo pode ter.



Vi este texto e achei interessante partilha-lo, pois retrata uma realidade da modalidade a nivel mundial.
Ao longo do texto que aqui postei, revi muito do que de bom está a ser feito precisamente no VRL e que desde já saludo e que espero que siga a ser um exemplo nacional.




Assim:
"
DE Walter Martindale
O autor é canadense, trabalhando há 20 anos como técnico de remo. Foi instrutor do Coach Education Program (níveis 1 a 5), da Coaching Association of Canada. Está há 4 anos na Nova Zelândia, contratado como técnico regional de Otago-Southland.


Considero a divulgação deste artigo muito oportuna, diante do processo de reabilitaçao que passa o remo português, no seu esforço para superar suas atuais dificuldades.

Um dos assuntos que tem sido discutido nas reuniões da Federação de Remo da Nova Zelandia e da Associação de Remo de Ontago é o número de participantes neste desporto. Aqui, só se ouve falar em números declinantes.

Acredita-se que para ter uma forte equipe de remadores de elite, é preciso uma ampla base. Embora um “treinamento esperto” possa funcionar para pequenos grupos, é preferível escolher uma guarnição dentre 100 remadores que tenham treinado duro, do que dentre 8 que entrarão no barco porque não tem mais ninguém.

Quando muita gente treina e compete duro em todos os níveis, os que vencerem uma eliminatória de Senior A certamente serão os mais rápidos.



Se o número de participantes nos principais campeonatos nacionais puder ser considerado um indicador confiável, o remo na Nova Zelandia está encolhendo.

Para aumentar a participação, os clubes precisam oferecer alguma coisa que as pessoas queiram fazer, em um ambiente que elas queiram frequentar. 

Profissionalismo (na atitude, não necessariamente significando remuneração) nos serviços prestados ao cliente (que muitas vezes são os sócios do clube) deve ser uma obrigação (grifo do tradutor).

Imagine que alguém interessado em remar apareça no seu clube (talvez acompanhado dos seus filhos). Como é que você o recebe?
- Olá! Posso tirar suas dúvidas?
- Olá! Você está interessado em remar? Em que posso ajudá-lo?
- Olá! ... claro que você pode remar. Aqui está o folheto com as datas e os horários das aulas. Quer conhecer a garagem?
- Lamento, mas não temos nenhum programa para pessoas dessa idade.
- Sinto muito, mas seu filho (a) é muito jovem. Volte daqui a uns dois anos.
- Lamento, você está muito velho para começar a remar.
- Tudo bem! Primeiro você ficará dois anos remando neste barco ( e mostra-lhe um barco de madeira, já preto de tão encharcado, e os metais verdes, de tanto azinhavre). Foi nele que o pessoal treinou para a Olimpíada de 1936.


Muitos clubes de remo que conheci aqui na Nova Zelandia e no Canada são empoeirados, o chão frequentemente molhado, cheios de sucatas que não são usadas há muitos anos. Vestiários, quando existem, são frios, húmidos, escuros e fedorentos, e chuveiros, quando há, funcionam mal. É comum não haver um lugar onde sentar e relaxar enquanto se espera o filho(a), ou seja quem for, terminar o treino, ou para fazer uma reunião. É claro que alguns clubes são melhores em algumas coisas do que outros. Mas se o ambiente fosse prioritário na minha lista, provavelmente eu nunca teria começado a remar. O clube onde me iniciei tinha buracos no assoalho, o equipamento era ruim e a garagem apenas servia de abrigo contra os elementos (quatro anos depois, foi condenada e submetida a uma reforma que custou 1 milhão de dólares). 



Mesmo clubes mais novos têm seu estoque de quinquilharias jogadas nos cantos, que não servem para nada, mas são guardadas “porque um dia podem servir para consertar um carrinho quebrado”, mesmo quando não há na garagem mais nenhum barco com aquele tipo de carrinho.

E já esqueceram de como são tratados os iniciantes? Tanto nas regatas como nos clubes, eles são a escória. Todos riem quando os vêem lutando para aprender a remar num barco jurássico, que nem dá para regular. E tem gente que ainda fica surpresa com o alto índice de desistências.

Se um clube quer crescer, pessoas com esse tipo de atitude têm que se ajustar, mudar seu enfoque, ou então deixar o clube, a fim de que este se torne um lugar agradável.

Aqui vai minha proposta para clubes que estão interessados em atrair sócios de todos os níveis, o que pode significar mais voluntários para os trabalhos administrativos, bem como para levantar fundos e para tornar o clube um lugar gostoso de frequentar.

1. LIMPE O LOCAL
Barcos velhos que não são mais usados: Você quer guardar a proa, porque lá está escrito o nome do doador? Serre-a e pendure-a na parede. Ou então limpe o barco e venda-o para algum bar ou loja pendurá-lo no teto, a fim de dar-lhe um “ar” diferente. Se surgir algum clube que está iniciando as atividades e precisa de barcos, ou alguém cujo hobby seja restaurar barcos velhos, doe-o, senão use-o para acender sua lareira.

Peças velhas: Transforme algumas pás velhas em troféus e doe, venda ou use-as em comemorações da velha guarda. Porque não tentar vendê-las para remadores aposentados, a fim de conseguir algum dinheiro? Transforme aqueles finca-pés de 30 anos em cavacos e as braçadeiras enferrujadas em sucata. Velhas peças em latão (forquetas e eixos de carrinhos, por exemplo) podem ser vendidas como souvenirs ou para o ferro-velho. Embora isso não renda muito dinheiro, será preferível a ter que pagar alguém para retirar o entulho.

Garagem: Deve ser varrida regularmente. O que estiver largado no chão deve ser posto em armários, prateleiras ou posto no lixo. Latas com restos de cola e de verniz secos, pincéis duros, etc. não servem mais para nada. Embora o pessoal do remo, historicamente, adore guardar essas porcarias, é preciso livrar-se delas.

Pintura: Escolha uma cor clara, de modo a poder economizar luz elétrica.

Iluminação: É preciso iluminação suficiente para você enxergar bem o que está fazendo. As lâmpadas fluorescentes são mais eficientes que as incandescentes.

Vestiários: Isso é mais caro. Luminárias, bancos, pisos de fácil manutenção, aquecimento, instalações sanitárias que funcionem e não vivam cheirando mal, chuveiros que funcionen e que sejam sempre limpos, etc.

Segurança: Sempre deverá haver uma lancha na água quando adolescentes ou mesmo adultos aprendendo a remar estiverem treinando. Quem estiver na lancha deve ter conhecimento de primeiros socorros.




2. ORGANIZE UMA ESCOLINHA
- Fixe taxas que cubram os custos do curso e garantam um pequeno lucro.
- Elabore um currículo que habilite o aluno a executar o remo básico em pouco tempo.
- Divulgue sua escolinha na comunidade. Aceite apenas inscrições com o respectivo pagamento adiantado. Confirme as inscrições.
- Assegure-se de que os barcos que a escolinha usará funcionam bem. Nada expulsará mais rapidamente um aluno da escolinha do que um equipamento que não funcione a contento.


- Os barcos da escolinha devem estar disponíveis na hora da aula começar e seus instrutores devem ter prioridade no uso da(s) lancha(s).
- Use pessoal do próprio clube para dar aulas (técnicos e atletas). Pague para eles fazerem isso (com dinheiro da escolinha) e exija deles uma instrução de qualidade, cumprimento de horários e um padrão de comportamento. Se o clube cobrar 120 dólares de cada aluno (numa turma de 8 ou 16 alunos) por um curso de 4 semanas de duração, serão 960 ou 1.920 dólares no mês, dando para pagar 10 dólares ou mais por hora para os instrutores. Pode não ser um monte de dinheiro, mas um instrutor não tem o salário de um técnico-chefe. Se algum instrutor não quiser receber, o dinheiro deverá ser destinado a um fundo para compra de equipamentos (ou para dar bolsas a alunos pobres).
- Ao final do curso, organize uma mini-regata e um churrasco, para comemorar.
- Se os alunos da escolinha participaram de 8 ou 12 treinos no período de 4 semanas (2 a 3 treinos por semana) eles terão condições de decidir se querem ou não continuar remando. O clube, então, poderá oferecer-lhes programas mais avançados, introduzindo-os no remo recreativo ou até competitivo. Pode também convidá-los a se associarem ao clube, pagando uma taxa menor. Os que se destacarem poderão ser convidados para fazer parte da equipe. Os demais deverão poder remar recreativamente, apenas para seu prazer.
- A escolinha pode ter uma turma às segundas, quartas e sextas (opcional) e outra às terças, quintas e sextas (opcional). Pode haver uma turma de manhã e duas à tarde. Ou até mais, dependendo da procura e da disponibilidade do clube.

- Use parte do lucro para dar bolsas ao pessoal carente (isso é bom para a imagem do clube junto à comunidade) e para comprar barcos e outros equipamentos (ergômetros, pesos, etc. para serem usados nos dias em que for impossível remar). Tente adquirir um barco novo todo ano. Sempre que o fizer, desfaça-se de um barco velho. Essas providências ajudarão a manter o pessoal no clube e longe das academias.
- A taxa da escolinha deve refletir a realidade (quanto o clube precisa para mantê-la funcionando). É bom também não esquecer que quando uma coisa é muito barata, as pessoas acham que não presta.
- É importante que a escolinha tenha um coordenador (pode ser um profissional contratado em tempo parcial), para, entre outras coisas, evitar que os alunos fiquem embromando, e que o pessoal da equipe fique gozando-os.

Estas sugestões provavelmente vão gerar reclamações de alguns. Por alguma razão, certas pessoas se ligam a um barco ou a um remo que já não usados há 15 anos. Ora, se é apenas um barco que não é mais usado, porque guardá-lo? Muitos defendem que iniciantes devem remar em velhas catraias “irreguláveis” porque foi assim que eles começaram e os novos devem passar pelo mesmo sacrifício. Creio que esta é uma forma de frustar os iniciantes e de expulsá-los do clube.



Dêem-lhes um bom equipamento, que funcione e possa ser regulado para que remem bem. De preferência, um equipamento tão bom que a equipe do clube possa usá-lo, se for preciso. Se a equipe do clube não rema num barco porque ele sempre quebra ou porque não pode ser regulado para remar bem, porque alguém pode achar que um iniciante será capaz de aprender a remar bem nele?

Ouvi falar de um estudo feito na Alemanha, há alguns anos, onde deram a um grupo de iniciantes um barco sem condições de regulagem e um técnico em tempo integral, e ao outro grupo um barco adequadamente regulado e nenhum técnico. Após um período de treinamento, o pessoal do barco bom, mas sem técnico, andava mais rápido do que o pessoal do barco ruim, com técnico. 

Então, porque não dar aos iniciantes um barco bom e um técnico, para que possam andar rápido mais cedo?


Com bons barcos e bons treinadores um remador é capaz de parecer um senior experiente após uma ou duas temporadas, se demorar tanto. Sei que isso é possível, pois eu mesmo já treinei atletas que integraram a equipe nacional B após somente uma ou duas temporadas e, depois, a equipe nacional A Uma das razões é que eles não precisaram retroceder, remando velhas catraias. 

Nem lhes foi dito que teriam que treinar durante décadas, antes que alcançassem nível internacional. Em alguns casos, os barcos eram velhos, mas em bom estado e remáveis.

O livro Rudern, de Ernest Herberger, afirma que alguém com um treinamento generalizado, que comece a remar aos 18 anos de idade, poderá estar apto a subir no pódio no prazo de quatro anos. Eu creio que isso é verdadeiro - difícil, mas verdadeiro."






sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Pequeno estudo sobre a intensidade do treino em remo

ESGOTADOS ANTES DE COMPETIREM


De Wilson Reeberg
:

INTRODUÇÃO


Até pouco tempo, não eram raros os desencontros entre a opinião dos treinadores e a dos cientistas esportivos. Os primeiros eram o motor da evolução, pois trabalhando diariamente com seus atletas eles experimentavam, erravam ou acertavam, e geravam hipóteses. Os segundos confirmavam ou invalidavam os processos usados pelos treinadores.
Porém, é preciso reconhecer que nos dias atuais, embora o treinador continue com seu papel desbravador, o cientista esportivo é chamado cada vez mais a participar, não mais para somente confirmar ou invalidar os processos, mas para orientar e até para prescrever o treinamento, sem falar que às vezes ele mesmo é o treinador.

Sempre existiu a tendência de imitar os vencedores. De modo geral, acredita-se que eles vencem porque fazem a coisa certa. Nunca se pergunta que resultado obteriam, se fizessem coisas diferentes.
No que respeita ao volume de treinamento, em remo, a tendência geral sempre foi no sentido de aumentá-lo. Por isso chama a atenção quando cientistas renomados defendem um menor volume, e mais ainda, quando grandes resultados internacionais são obtidos com pequenos volumes.
Este artigo é para que você, treinador, possa avaliar se está ou não caminhando na contramão da ciência.

UM POUCO DE HISTÓRIA

É PRECISO TREINAR MAIS! Esta é uma frase pronunciada rotineiramente por treinadores e atletas, seja após uma derrota, seja quando visam resultados mais expressivos, como uma final olímpica.
Esta idéia ganhou força nos tempos da Cortina de Ferro, quando atletas do Leste Europeu, mantidos pelo Estado, dedicavam-se ao treinamento em tempo integral. O sucesso desses desportistas levava atletas de outros países a aumentar o volume de treinamento, sem conhecer a realidade por trás da informação , ou seja, quem eram esses atletas (idade, dados biológicos, nível de vida, anos de treino, suporte científico, etc); que tipo de atividade compunham esses treinos e seu grau de intensidade; como faziam para recuperar-se do desgaste, etc.


Durante os anos 70, o volume de treinamento quase que dobrou, acompanhado também do aumento da intensidade, adotando-se de 2 a 3 treinos por dia, alcançando 32 a 38 horas semanais de trabalho. Comentava-se que remadores da Alemanha Oriental remavam até 70 km diários. O oito da Nova Zelândia, campeão olímpico em 1972, totalizava 100 km nos treinos de sábado e domingo (dois treinos diários de 25 km). Em certos dias, chegava a fazer 10 X 1.000m com 1 minuto de intervalo entre cada tiro. Em 1975, a direção técnica da Alemanha Ocidental recomendou aos remadores candidatos à Olimpíada de Montreal (1976) que treinassem, no mínimo, duas vezes por dia, sendo que o ideal seriam 3 treinos, totalizando 50 km diários, assim distribuídos: 10 km antes do café da manhã, 20 km antes do almoço e mais 20 km antes do jantar.

Dentro dessa tendência, esportes como o decatlo, onde é grande o número de processos de treinamento necessários a uma boa performance, teriam que chegar a 5 treinos diários, já não cabendo mais falar em periodização anual.
Mas nem todos concordavam com essa tendência.


Treinadores de nações capitalistas logo viram que não poderiam seguir por este caminho, pois viviam em países que não subsidiavam os atletas e estes tinham que trabalhar e estudar para sobreviver. Num esporte predominante de resistência, como o remo, um volume muito grande de trabalho nessa área poderia conduzir a um estado de fadiga física e psíquica tal, que impediria outras qualidades físicas e motoras de se exprimirem com eficiência.

Já em 1966, em artigo intitulado Oxygen uptake, heart rate and lactate during endurance training in top class rowers (1), Ulrich Hartmann e Alois Mader, dois dos mais destacados cientistas esportivos alemães, após observarem 12 remadores alemães de elite, alertavam que 3 horas de remo por dia só podiam ser completadas com um nível de intensidade muito baixo, com algumas poucas cargas de alta intensidade, resultando daí que 55-60% do treino total, ou 85-94% do treino na água, teriam intensidade inferior a 2 mmol/l de lactato, não produzindo adaptações aeróbicas específicas para a competição (grifo nosso).



Os treinadores passaram então a buscar formas alternativas de treinamento, que não consumissem muito tempo. Optaram pela qualidade do trabalho, em vez da quantidade. No livro Rudertraining (2), Karl Adam, Karl-Heinz Bantle, Manfred Rullfs e Peter Schmidt, da Alemanha Ocidental, defenderam outras formas de treinamento aeróbico, com base nos seguintes argumentos:
•  a monotonia das longas quilometragens usadas pela Alemanha Oriental acabava influindo na sua duração;
•  com uma combinação de Intervall-Training, Tempo-Training e treinamento de força obtinham-se resultados próximos dos métodos usados pela Alemanha Oriental;
•  elevando-se a intensidade do treinamento, podia-se reduzir sua duração.
Outro passo em busca da qualidade de treinamento foi a identificação de formas de trabalho com alto grau de correlação com o resultado em 2.000m. 

Em 1977, o Institut National des Sports, da França, publicou o trabalho Utilization de la metode d'análise (modelage) dans la determination objective des processus d'entreinament em aviron (3) dos romenos Vasilei Dimitvesci, Dimitru Popa e Cornelia Radut, no qual eles testaram 19 tipos de treino usados na época e ao final identificaram os 7 (sete) que melhor se correlacionavam com o resultado em 2.000m, segundo os tempos alcançados em nível internacional.

QUANTO É PRECISO TREINAR?

Não existe uma resposta única para esta pergunta, já que tudo depende do atleta: sua idade, anos de treinamento, forma física, condição psíquica, hábitos de vida, tempo para recuperação... mas existe a crença generalizada de que quanto mais treinar, melhor.
Os fatos relatados e as opiniões transcritas a seguir, emitidas por técnicos e fisiologistas conceituados internacionalmente, apontam numa direção inversa àquela que popularmente se difundiu como certa, qual seja, quanto mais treino, melhor.

O OITO DA CALIFORNIA

Em 2001, travamos nosso primeiro contato com o técnico Steve Gladstone, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. O treino do oito por ele dirigido consistia de 90 minutos/dia de remo (um único treino na água). Ele pedia que, além disso, os remadores fizessem pelo menos mais 40 minutos no remo ergômetro (em outro horário), se fosse possível. Quem quisesse treinar força, podia fazê-lo por conta própria. Como se vê, uma carga de trabalho como a de qualquer remador brasileiro.
Naquele ano, cinco desses remadores sagraram-se campeões mundiais sub-23 e um sexto remador integrou o oito dos EUA, 4º colocado no Mundial de Elite.
Em 2002, a guarnição da California venceu o campeonato universitário dos EUA pela quarta vez consecutiva, com o tempo de 5:26:81 (tempo de finalista mundial), sendo que o recorde da raia (Camden, NJ) já era dela: 5:23:60, em 1999 (tempo de medalhista mundial).

O OITO DOS EUA


Eis como treinava o oito dos Estados Unidos, segundo as palavras de seu técnico Mike Teti a José Luiz Emerim e Wilson Reeberg, em abril de 2001 (4) :
“No inverno e no início da primavera, realizamos um total de cinco a sete treinos por semana. Depois passamos para nove a dez. Nunca, e eu friso nunca, remamos mais do que 90 min. Vamos para a água às 7 h e encostamos às 8h30min, porque todos trabalham das 9 h às 17 h. Às 18 h iniciamos uma segunda sessão até às 19h15min.”


P - Se os atletas trabalham ou estudam em tempo integral e treinam, quando descansam?
“Boa pergunta. Alguns descansam mais do que outros. Uns são casados, portanto ainda têm compromissos familiares, filhos... Por isto é necessário equilibrar o plano de treinamento. Não posso apenas dizer: 'Este é o treinamento ideal'. Preciso sempre considerar o fator fadiga pessoal extra-treino, seja da família, seja do emprego. O voga do oito de Sydney, por exemplo, iniciou uma firma de biotecnologia, abriu-a a investidores, trabalhava 14 horas por dia e treinava para a Olimpíada. Por razões como esta, não posso escrever um plano de treinamento. Se noto que estão cansados, até cancelo o treino.”

P - Isto significa que o treino é adaptado diariamente às condições gerais do grupo?
“Exatamente. Os princípios gerais do treinamento são aqueles que todos conhecem. Na segunda-feira a intensidade é baixa ou média; na terça, baixa ou média; na quarta, alta; na quinta, média; na sexta, baixa; e no sábado, alta. Basicamente, dois dias de alta intensidade na semana.”
“O domingo é sempre livre, porque eles precisam de um dia para fazer nada, estar com a família, descansar, estudar, ficar longe dos compromissos, inclusive do remo. Se eu aproveitasse o domingo para treinar duas vezes e desse folga durante a semana, eles ainda teriam o estresse de trabalhar ou estudar.”

Seguindo essa filosofia, o oito de Teti foi campeão mundial em 1997-98-99.

QUATRO SEM DA DINAMARCA


Há poucos meses, o Canadá anunciou a contratação do técnico Bent Jensen, Técnico do Ano FISA em 2005, responsável pelo treinamento do quatro-sem peso-leve da Dinamarca, guarnição dona de muitos títulos em Campeonatos Mundiais e Copas do Mundo. Jensen informou que os remadores da seleção dinamarquesa treinam somente duas vezes ao dia, pois trabalham ou estudam, além de remar. Disse ainda que é possível ser campeão mundial de várias formas, sendo que ele prefere menos quilometragem e mais intensidade.

O TREINO DE PINSENT E CRACKNELL

Em abril de 2004, Matthew Pinsent, em artigo para a revista Rowing News (5) , descreveu uma semana típica do treinamento que ele e James Cracknell faziam para a Olimpíada de Atenas, informações essas confirmadas posteriormente em entrevista concedida à BBC, em 19/10/2005, após conquistar sua quarta medalha de ouro olímpica.
Acordavam às 7h e iam para o clube, onde se encontravam uma hora depois. Aqueciam por 10 – 15 minutos (podia ser alongamento, remoergômetro ou trotar). O primeiro treino era sempre no barco, remando entre 16-20 km (cerca de 90 min. ). A intensidade dependia da pulsação que queriam alcançar, ou da velocidade do barco que desejavam atingir, mas era basicamente treinamento de endurance.
Às 9,30 – 10h paravam, para um descanso de uma hora. Reidratavam e às vezes lanchavam, para repor as energias (cereais, torradas, geléia e ovos mexidos)
Duas a três vezes na semana, faziam um segundo treino no ginásio, que podia ser trabalho com pesos pesados, para adquirir potência (séries de 5-6 rep.), ou um circuito com cerca de 15 estações ( 3-4 circuitos). Em qualquer dos casos, esse treino durava cerca de 1h15min (compreendendo aquecimento, levantamentos, Pilates e alongamento).

Às 11h15min estavam liberados para almoçar.


Três vezes por semana, faziam um treino leve após o almoço, no barco ou no remoergômetro, com duração entre 45 min e uma hora, encerrando o dia de treino às 14 – 14,30h. O resto da tarde e a noite eram livres.
Ao dar um exemplo de como era seu treinamento anual, Pinsent disse : “Tome uma semana, acrescente-lhe outras 45 e repita por 4 anos”.

A SELEÇÃO FRANCESA

Em janeiro de 2005, chamou a atenção de treinadores brasileiros a informação passada pelo técnico francês Bruno Boucher, medalha de ouro olímpica, de que seus remadores treinam não mais que duas horas diárias, em média. Marcello Varriale, auxiliar técnico do Grêmio Nautico União, que logo depois estagiou na França com o citado técnico, escreveu os seguintes comentários:
“Os treinos aeróbios mais fortes (potencia aeróbia), com voga entre 19 e 20, não ultrapassam duas séries de 30 minutos, porém são realizados de maneira muito potente na água. A concentração dos remadores chama muito a atenção, e estes chegam realmente com a musculatura exaurida ao final da série. Esse treino é geralmente compatível, no mesmo dia, com outro treino aeróbio, porém de intensidade mais baixa, a voga máxima de 18, com duas séries de no máximo 40 minutos. Este é o volume máximo diário de treino efetivo, desconsiderando-se algo próximo de 4 km utilizados entre aquecimento e resfriamento, sempre realizados com educativos.”

NORUEGA

Fiskerstrand e Seiler (6) analisaram a evolução do treinamento de 27 remadores noruegueses de nível internacional, de 1970 a 2001. Nesse período, eles ganharam 11 medalhas de ouro, 15 de prata e 8 de bronze em Campeonatos Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos. O volume de treinamento anual era de 1.128 h/ano nos anos 90 (média de 3 h diárias). A maior parte do aumento de volume ocorreu no período de preparação.

MCNEELY E O VOLUME DE TREINAMENTO

No lançado livro Rowing Faster (7) , de Volker Nolte (2005), o fisiologista da seleção canadense, Ed McNeely, sugere um volume anual de treinamento entre 800 e 1200 horas, para remadores de nível internacional. Supondo-se que um atleta treine 350 dias/ano (sendo 15 dias reservado ao descanso, entre temporadas), isso dará um total de 137 a 205 minutos de treino diário.

QUANTO TREINAM OS CAMPEÕES, SEGUNDO STEINACKER


O Dr. Jurgen Steinacker, atual fisiologista da seleção alemã de remo, divulgou informações muito importantes, no trabalho Treinamento de Remadores Antes de Campeonatos Mundiais (8) , publicado na revista Medicine and Science in Sports and Exercise, em julho de 1998, e apresentado também na reunião anual do Colégio Americano de Ciência do Esporte, realizado em 2003, em São Francisco, Califórnia. Eis as suas conclusões, baseadas em dados das seleções da Alemanha, Holanda, Noruega e Dinamarca (grifos nossos):

1 - Em média, a máxima quilometragem diária remada é de 23 km, ou 115 minutos. Embora, desde 1989, o volume de treinamento total tenha aumentado cerca de 20%, isso decorre de mais treinamento semi-específico (ex.: treinamento de força ) e não- específico (ex.: alongamento e treinamento atlético geral).

No decorrer do ano, a percentagem do volume total de treinamento gasto com trabalho específico (remo na água) é de 52 a 55% para atletas de 18 anos de idade, 55 a 60% para os de 21 anos, e até 65% para os mais adultos. O treino de força representa cerca de 20% para os de 18 anos de idade, e 16% para os atletas adultos, enquanto o treinamento atlético geral vai de 26% a 23%, respectivamente. Isso significa que o treinamento específico (remo) aumenta à medida que o remador se torna mais experiente .

2 - Antes de Campeonatos Mundiais, em fases de altas cargas de treinamento, o volume médio de treinamento alcança 190 minutos diários, dos quais 55 a 65% é feito em forma de remo e o restante em treinamento semi-específico e não-específico . O trabalho em remo é feito principalmente em forma de treinamento de endurance, remando-se de 120 a 150 km – ou 12 horas – semanais, em média. O remo em intensidades mais fortes ocupa 4 a 10% do tempo total remado.



E atenção para a informação que segue:

3 - Segundo Mader e Hollmann, a razão para que a máxima quilometragem diária remada seja, em média, de 23 km, ou 115 minutos, pode ser principalmente energética, já que o fornecimento de energia tem que igualar o consumo. Se um remador altamente treinado (VO2 max de 6 litros/min.) treina no limiar anaeróbico (75% do VO2 max.) isso significa um VO2 real de 4,5 litros/min, o que dá 1.350 kcal/h. Se considerarmos 6.000 kcal/dia como a ingestão calórica média de um remador, significa cerca de 4.200 kcal sendo usadas para treinamento, o que dá para 3,1 horas de treino. Se reduzirmos a intensidade, esse tempo poderá ser aumentado. Se a intensidade aumentar, o tempo de treinamento terá que ser reduzido ( no remo, o consumo de energia aumenta com a raiz cúbica da velocidade do barco, significando que maior velocidade do barco requer maior VO2). A reposição dos depósitos energéticos, especialmente do glicogênio muscular, é muito importante para o remador. Há correlação entre uma dieta rica em carboidratos e o aumento da capacidade de trabalho.

4 - O limite critico para atingir o supertreinamento em atletas adaptados parece estar em 3 horas de treinamento diário intenso, prolongado por 2 a 3 semanas.

5 - Embora esteja demonstrado que maior quilometragem tem relação positiva com o resultado em competições, o risco de supertreinamento aumenta com o tempo diário de treinamento e a sua monotonia. O uso de vários métodos de treinamento, cross training, variação da carga em curtos períodos de sobrecarga seguidos da necessária regeneração, reduzem o risco de supertreinamento. No cross training, diferentes grupos musculares são recrutados, permitindo a recuperação parcial de outros grupos. Suas vantagens parecem ser os efeitos “periféricos”, melhorando ou mantendo a força (no treinamento de força), sem depletar os estoques de energia e o glicogênio muscular, e efeitos “centrais”, diminuindo a monotonia do treinamento. O treinamento não-específico (de fraca intensidade) é “recuperação ativa”, melhora a recuperação de treinos extenuantes, principalmente por aumentar a circulação periférica. Ginástica e alongamento restauram especialmente a flexibilidade e reduzem a tensão muscular.


O QUE PENSA HAGERMAN

Frederic Hagerman, o renomado fisiologista da seleção de remo dos EUA, presidente da Comissão Médica da FISA por 10 anos e há mais de 30 anos trabalhando com remadores, em seu excelente trabalho Training the Energy Systems (9) , referindo-se às formas de treinamento aeróbico (feito sob a forma de trabalho contínuo ou intermitente ) escreveu:

“Embora ambas as formas permitam ao remador alcançar e manter uma base aeróbica, não interprete o valor do treinamento aeróbico apenas em termos quantitativos. Cada treino, mesmo se de fraca intensidade, deve sempre terqualidade , e à medida que a condição física do remador melhora, tanto a intensidade do exercício quanto o nível de habilidade precisa ser aumentado. Muitos técnicos e atletas estão convencidos que 60 – 120 minutos de remo contínuo de baixa intensidade ou em steady-state é parte importante do desenvolvimento e manutenção de uma base aeróbica adequada.Temos dados convincentes, incluindo biopsia muscular e indicadores histoquímicos e bioquímicos, que demonstram que remar continuamente em steady-state de fraca intensidade por 60 minutos ou mais, qualquer que seja o calibre do remador, é menos eficiente em manter a capacidade aeróbica do que 30 minutos de remo na mesma intensidade .

Esta constatação se aplica tanto a um único treino, quanto a 5, 10, 15 e 20 semanas de treino, em que os atletas completaram um total de 20, 40, 60 e 80 sessões, respectivamente .Além disso , realizar 2 X 30 minutos de trabalho aeróbico de intensidade relativamente alta (10 – 20% mais potência do que o trabalho de baixa intensidade), com intervalo de recuperação de 7 – 10 minutos entre cada período de 30 minutos, é um estímulo aeróbico muito mais forte do que remar continuamente com baixa intensidade por 60 minutos.”

Conclui Hagerman: “ Dados metabólicos, videotapes comparativos e avaliações feitas por treinadores confirmam que remadores que realizam treinos intermitentes de alta intensidade remam com mais eficiência em todas as diferentes intensidades, principalmente quando a voga e a potência ultrapassam o limiar anaeróbico, do que remadores que treinam por longos períodos em baixa intensidade”.

Falando sobre o mesmo tema à Rowing News (10) em janeiro de 2005, Hagerman foi mais incisivo “Isso de remar 90 minutos é ridículo. Prejudica, em vez de ajudar. Sou de opinião que ninguém deveria treinar mais que 40 minutos, a qualquer tempo. E dá sua receita “Para desenvolver o sistema aeróbico, o ritmo tem que ser em steady-state, que é difícil de manter por mais de 40 minutos. Se você precisa realmente aumentar o volume, faça 2 x 30 minutos, com voga relativamente alta e um bom intervalo de repouso entre eles.”

CONSEQUÊNCIAS DO EXCESSO DE TREINAMENTO



Com freqüência, ouvimos dizer que a seleção deste ou daquele país treina três ou até quatro vezes ao dia, e aceitamos isso como condição indispensável para se obter sucesso internacional, sem conhecer a realidade por trás da notícia. Também não fazemos uma crítica do que lemos, nem vamos conferir no futuro se aquela seleção alcançou os resultados que esperava. Na verdade, há casos em que alcança, e outros não. 

Às vezes, alcança o sucesso apenas no curto prazo, depois o organismo e a mente não agüentam a continuidade de volumes tão grandes, por períodos prolongados.
É fato que os alemães orientais remavam duas a três vezes por dia, chegando até a 70 km, mas apenas 1 (um) treino era forte. Os demais eram utilizados para aperfeiçoamento da técnica e desintoxicação e, embora as distâncias fossem longas, eram remadas com intensidade reduzida.


Também hoje existem seleções que treinam três vezes por dia. Mas não o ano todo, nem a semana toda. E nem todos os treinos são fortes. Geralmente, quando isso acontece, é feito num período de tempo especial (às vezes não mais que 15 dias), em que o técnico consegue reunir a equipe em condições ideais de treinamento, e quer aproveitar ao máximo, tal como aconteceu no Inverno do ano olímpico de 2004 com o oito dos Estados Unidos, por exemplo. Pela primeira vez, Mike Teti pode levar seus remadores para passar três meses no Centro Olímpico de Chula Vista, na Califórnia (com direito a folga nos fins-de-semana). “Se eu estivesse treinando três vezes ao dia nos últimos três anos, provavelmente já estaria saturado, agora”, declarou à Rowing News o remador Wolf Moser, que logo depois se sagraria campeão olímpico.

Treinamentos muito longos, em remo, aliados ao maior esforço exigidos pela pá Big Blade e pelos treinos no remoergômetro, sem o necessário período de recuperação, fizeram aumentar em grande proporção os casos de fratura de costelas por stress e hérnia de disco. Além destes casos, há outros muito importantes que técnicos e atletas não comentam, nem a mídia é informada: são os casos de supertreinamento e de Síndrome de Fadiga Crônica. 

O primeiro é caracterizado por cansaço constante, irritabilidade, sono agitado, rendimento físico declinante, apetite diminuído, perda de peso, etc. Muitos atletas não relatam sua ocorrência, às vezes para não perderem uma vaga na equipe. Já um técnico, para reconhecer a ocorrência de problemas como esses, teria de admitir que seu treinamento estava errado e que ultrapassou as possibilidades físicas do atleta. Entretanto, ignorar e prolongar um estado de supertreinamento pode levar a um estágio muito mais perigoso e incapacitante: a Síndrome de Fadiga Crônica.

Esta doença, também conhecida como Encefalomielite Miálgica, que acomete atletas de elite em períodos de treinamento pesado, é caracterizada por cansaço extremo, dores em todo o corpo e alterações mentais e emocionais. O cansaço pode ser de tal ordem a ponto de o simples ato de tomar um banho, por exemplo, se tornar extremamente penoso e quase impossível de realizar. A Síndrome de Fadiga Crônica pode ter conseqüências graves na vida social, familiar e profissional do atleta. Tem, entre suas prováveis causas, o stress e a debilidade do sistema imunológico, ambas comuns a atletas submetidos a treinamento pesado, sem tempo suficiente para regeneração. Há registros de sua ocorrência entre atletas de resistência de alto nível, inclusive remadores.

EXAUSTOS JÁ NA PARTIDA


Em 1989, um ano após a Olimpíada de Seul, a revista Rudersport, da Federação de Remo da Alemanha, publicou um artigo intitulado Completamente exaustos já na partida (11), do qual transcrevemos alguns trechos (os grifos são nossos):

“Muitos treinadores de esportes de alta performance ainda pensam que aumentar o desempenho em esportes de resistência só pode ser conseguido através de cargas de treinamento extremas. Entretanto, os cientistas esportivos de Colônia acreditam que a verdade é exatamente o oposto. Eles fizeram do seu jeito, para levar o oito ( alemão) à medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul (1988).  

O Dr. Ulrich Hartmann, da Universidade de Esportes de Colônia, fez uma palestra no Congresso Europeu de Medicina Esportiva, em Barcelona, sobre a performance de remadores. Sua apresentação foi considerada o melhor trabalho científico do congresso. Hartmann trabalha em Colônia com o Dr. Alois Mader, um dos mais reconhecidos especialista em Medicina Esportiva e treinamento científico. 

Eles enfatizam a necessidade de uma mudança radical de pensamento na ciência esportiva e nos esportes de rendimento .Eles particularmente observaram a equipe alemã de atletismo que teve fraco desempenho em 1988, apesar de ter treinado muito. Mader disse: “Dar mais pressão no treinamento para superar certo limite é fundamentalmente errado. Em algum momento, isso limitará a performance”. Para Hartmann, “ muitos atletas já estão exaustos mesmo antes da partida”.

Mader e Hartmann criticam o treinamento sem sentido:”Os atletas são submetidos a treinos excepcionalmente duros no ano olímpico. À medida que o treino se intensifica no longo prazo, porém, a regulação do treino e diagnósticos da performance devem ser incorporados ao plano de treinamento, a fim de aumentar as chances de sucesso”.

Mader diz: “ Um atleta experiente faz muitas coisas certas, instintivamente. Ele não se sobrecarrega no treino . Esta foi a receita do sucesso do sculler Peter Michael Kolbe”.
Durante um treino em altitude, os dois cientistas colheram amostras de sangue, com os remadores no barco, para testes de lactato. Foram encontrados níveis inexpressivos de ácido lático, indicando que os remadores estavam treinando na intensidade apropriada para obterem sucesso. “Se eles tivessem feito o que muitos treinadores pediam, eles teriam desempenhado miseravelmente em Seul, em conseqüência do supertreinamento.




Ambos os cientistas pregam o controle freqüente do desempenho, registros de treinamento exatos e diretrizes individuais de treinamento. “Não pode haver um programa de treinamento único para todos”, diz Mader. Cada atleta reage de modo diferente à carga de treinamento”.
A morte de Birgit Dressel, destacada heptatleta alemã ocidental, foi decorrente de supertreinamento e mau uso de remédios. Depois de crescentes aumentos na carga de treinamento e de não ter tempo para se recuperar de lesões, foram prescritos medicamentos que se acreditava ajudariam seu organismo a se recuperar. O resultado desse tipo de prática é bem conhecido agora.

Por anos, Mader tem observado que os mesmos erros continuam a ser praticados. Houve uma época em que os sprinters alemães ocidentais corriam abaixo de 10,5 segundos. Mas isso foi há muito tempo. Qualquer um pode ver que tem algo errado com o treinamento .”O problema é que o organismo pode tolerar cargas de treinamento muito maiores do que seja vantajoso para a performance”, diz Mader. Quando o resultado é supertreinamento, não há compensação possível” .

CONCLUSÕES


Nunca é demais reforçar a importância do Principio da Individualização do Treinamento. O volume ideal para um certo remador pode ser intolerável ou insuficiente para outro. É por isso que planos de treinamento não devem ser copiados.
Um técnico realmente competente conhece seus atletas, suas limitações e pontos fortes, e saberá prescrever um treinamento que explore todas as potencialidades, respeitando a capacidade de recuperação do remador.






BIBLIOGRAFIA
  1. Hartmann, U. e Mader, A (1966) – Oxygen uptake, heart rate and lactate during endurance training in top class rowers. Medicine and Science in Exercice and Sports, 28 (5), Supplement abstract 744.
  2. Adam, Karl; Lenk, Hans; Nowacki, Paul; Rulffs, Manfred; Schroder, Walter – Rudertraining. Limpert Verlag, Bad Homburg, Alemanha, 1977.
  3. Dimitvesci, Vasilei; Popa, Dimitru; Radut, Cornelia – Utilization de la methode d'analyse (modelage) dans la determination objective des processus d'entrainement em aviron – Document nº 853, Institut National des Sports, France, 1977.
  4. Emerim, José Luiz – A receita simples de Mike Teti – in www.crpiraque.com.br/miketeti.htm - 2001
  5. Pinsent, Matthew – A typical week in an atypical year – Rowing News volume 11 nº 2, pag. 68, USA, 2004.
  6. Fiskerstrand, A.; Seiler, K.S. – Training and performance characteristics among Norwegian international rowers 1970 – 2001 – Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports nº14 (2004), pag. 303 – 310.
  7. Nolte, Volker – Rowing Faster – Human Kinetics Publishers (www.HumanKinetics.com ) – USA, 2005.
  8. Steinacker, Juergen M.; Lormes, Werner; Lehmann, Manfred; Altenburg, Dieter – Training of rowers before world championships – Medicine & Science in Sports & Exercice vol. 30, nº 7, 1998.
  9. Hagerman, Frederic – Training the energy systems – in www.irow.com - USA, 2001.
  10. Hegerman, Frederic – Lower the volume? – Rowing News volume 11 nº 11, pag. 23, USA, 2005.
  11. Rudersport , órgão oficial da Federação de Remo da Alemanha nº 13.2, Junho de 1989, pág. 330.

Armaçao do barco / Sequencia das aranhas / Tipo de formaçao


"Momentos" no quatro e no oito


Um cosmologista John Barrow da Universidade de Cambridge, que tem como hobby simplificar a matemática para os leigos, provou que a tradicional distribuição das braçadeiras (aranhas) no shell no quatro e no shell oito pode muitas vezes não ser a ideal para o melhor rendimento do barco.



Montar as aranhas  num quatro ou oito na forma intercalada tradicional não ajuda o barco a andar numa linha reta. Essa é a conclusão do professor de Cambridge John D. Barrow.

No estudo sobre o posicionamento dos remadores no barco, Barrow utiliza cálculos matemáticos para determinar a melhor distribuição das aranhas em um quatro-sem e extrapola o estudo para o oito.



Inicialmente, Barrow mostra que a distribuição tradicional das aranhas de forma intercalada gera uma oscilação considerando que todos os remadores façam a mesma força.



Barrow estudou novas alternativas de distribuição das aranhas para evitar essa oscilação onde o barco tende para os lados buscando assim um "momento-zero".

Basicamente, segundo ele, a oscilação acontece porque nos dois momentos da remada, a pegada e a ida à proa, a força líquida não é a mesma. Barrow procurou determinar uma distribuição das aranhas onde essas forças tranversais se anulassem mutuamente.

A figura abaixo mostra as três opções possíveis de montagem das aranhas em um quatro-sem e apenas uma, a conhecida formação "Moto Guzzi" (na figura é a opção c), proporciona o momento-zero. Essa formação foi utilizada pela primeira vez pelo quatro-com italiano campeão olímpico nos jogos olímpicos de 1956 em Melbourne.

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Ao extrapolar os cálculos para o oito Barrow encontrou quatro alternativas com momento-zero. Para a surpresa de todos, duas dessas opções nunca foram testadas na água.
Na figura abaixo estão as quatro opções. A opção b é conhecida como a "Configuração Alemã". A opção c é a "Configuração Italiana" As opções a e d são totalmente novas.

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Barrow gasta o seu tempo livre estudando a aplicação da matemática no desporto. Ele esclarece que nunca remou. Esse estudo faz parte de um projeto educacional chamado de Projeto Matemático Millennium. Barrow também participa do projeto London 2012 Inspire voltado para os próximos jogos olímpicos e seguintes.



A resposta do mundo do remo aos estudos de Barrow superou as expectativas. O Dr. Valery Kleshnev ampliou as teorias de Barrow e confirmou os resultados no estudo apresentado na edição de novembro de 2009 da revista Rowing Biomechanics (ver link abaixo).

Barrow pretende ampliar seus testes colocando modelos em escala de barcos a remo em tanques para avaliar as melhores opções de armações das braçadeiras. Ele deverá também iniciar estudos envolvendo a canoagem. Barrow não pretende revolucionar o mundo da regulagem dos barcos a remo, mas está curioso para ver os resultados nos jogos de Londres 2012.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Curso de afinaçao de barco de remo - Shell ou Scull

Introdução



Uma parte importante do treinamento e do sucesso em uma regata é a regulagem e ajuste do barco.
Todos os remadores devem possuir as noções básicas de regulagem para poder transmitir ao treinador as correções necessárias visando a obtenção de um melhor aproveitamento das condições físicas e técnicas em concordância com as qualidades de construção e deslocamento do barco.
Ao final desse curso, dividido em quatro partes, você estará em condições de regular um barco a remo.
Não obstante, é recomendavel no início a supervisão de um técnico. Esses conhecimentos possibilitarão ao aluno-remador uma maior colaboração com o treinador e os companheiros.

Regulagem da altura

A altura indica a elevação que deve ter a forqueta em relação ao carrinho, ou em relação à água.
A altura se torna crítica no momento em que a pá sai d'agua. Pouca altura na saída irá produzir o 'travamento' da pá e o atrito dos remos com as pernas do remador. Uma altura elevada irá produzir uma posição anormal dos ombros que se elevam produzindo uma deformação biomecânica que não permitirá uma aplicação normal da força.
O peso, a altura, o desenvolvimento dos músculos e o tamanho do tronco, são fatores a ser considerados. Porém, uma forma prática de obter a altura ideal é observar o remador no final da remada. Os punhos devem ficar aproximadamente na altura das costelas.
Nos barcos de palamenta dupla, ao colocar os remos perpendiculares à agua (posicionados à ré), os mesmos se cruzam, ficando o punho do remo de bombordo por debaixo do punho do remo de boreste. Portanto, devemos lembrar de adicionar 15 mm ao remo de boreste.
Obtençao da altura:
.. Apoiar uma 'régua rigida' sobre a borda do barco, fazendo com que a mesma passe por debaixo da forqueta (FOTO 1)
.. Medir a altura desde o carrinho até a parte superior da régua (FOTO 1)
.. Depois, medir a altura desde a parte superior da régua até a base da forqueta (FOTO2)
.. Somando os dois valores obtemos a altura.

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....................FOTO 1 ...........................................................FOTO 2
Modificação da altura
.. Retirar o quinto braço;
.. Afrouxar as porcas superiores do pino
.. Retirar a forqueta e acrescentar ou retirar as arruelas conforme a necessidade (FOTO 3)
.......................................................FOTO 3
Alturas ideais
Remos de Palamenta dupla entre 14/15,5 cm e 15/16,5 cm

Remos de Palamenta Simples entre 14,5 e 17 cm.

Regulagem do avanço

O avanço é o deslocamento da forqueta em relação ao carrinho na posição da pegada em proa.
A regulagem do avanço permite que a pegada na proa bem como a devolução na ré sejam mais longas ou mais curtas.
A modificação do avanço possibilita também, nos barcos com mais de um remador, compensar as diferenças de estatura e alcançe dos atletas.
O gráfico abaixo mostra as duas distâncias (a e b) que podem ser alteradas para alongar ou encurtar a pegada na proa e a devolução na ré.
Obtençao do valor do avanço:
1 - Colocar o barco nos cavaletes;
2 - Apoiar o metro com o zero sobre o lado mais a popa do carrinho, que deverá estar encostado na extremidade, também mais a popa, dos trilhos (FOTO 1).
3 - Nos barcos de palamenta dupla, passar um fio de pino (bombordo) a pino (boreste). Para os barcos de palamenta simples, utilizar a régua rigida. Utilizar o prumo posicionando-o perpendicularmente ao fio (palamenta dupla) ou a régua rigida (palamenta simples).
....................................................................FOTO 1
Correçao do valor do avanço:
Para modificar o avanço, devemos correr os trilhos para frente ou para trás. O tamanho dos trilhos varia de 70 à 75 cm. Se os trilhos são ajustáveis, se colocam de tal maneira que haja aproximadamente 65 cm (no final encontram-se os valores sugeridos para cada tipo de barco) do fim dos trilhos até a altura em que se encontra a forqueta.
É possível também modificar a distância entre o carrinho e o fincapé, correndo o fincapé para frente ou para trás. Porém nao é recomendavel trabalhar com ângulos muito fechados em relação à pegada. O ideal é que o remador, na posição de pegada, forme um ângulo de 45º em relaçao à linha d'agua.(FOTO 2)
....................................................................FOTO 2
Podemos modificar as duas variáveis descritas acima, nos casos em que a panturrilha do remador faça atrito com os trilhos.
Alguns barcos possuem finca-pés com altura variável. Por uma questao de estabilidade é preferivel colocar o fincapé o mais baixo possivel.(FOTO 3)
Avanços sugeridos
Tipo de Barco
Avanço em cm
Skiff
0 a 4 cm
Double
3 a 8 cm
Four Skiff
4 a 10 cm
Dois com/sem
3 a 9 cm
Quatro com/sem
6 a 10 cm
Oito
8 a 12 cm

Abertura e Alavanca

Abertura
Nos barcos de palamenta dupla, é a distância entre os dois pinos (bombordo e boreste). FOTO 1
Nos barcos de palamenta simples é a distancia entre a forqueta e o centro do barco. FOTO 2
...
......FOTO 1

..
................ ..................................................FOTO 2

Medição da abertura (palamenta dupla)
Alavanca
É a distância entre o anel e a empunhadura do remo.
Uma alavanca exagerada não permite que o remador aplique a potência numa posição adequada.
O ideal é que nos barcos de palamenta simples a alavanca menos a abertura alcançe um resultado entre 29 - 30 cm.
Nos barcos de palamenta dupla a alavanca deve ser de 16 a 18 cm. superior à abertura.
Quando reduzimos essa distribuição provocamos um aumento no ângulo que o remo faz com a água, obrigando o remador a fazer mais força para manter o mesmo número de remadas.
Por outro lado, um remador com menos potência na água poderá compensar tal deficiência remando com uma abertura maior, conseguindo assim um maior número de remadas.
Medição da alavanca
Nos barcos de palamenta dupla devemos conferir também a simetria. Para comprovar a simetria tomamos um ponto na borda e medimos a distância deste com a forqueta. Depois, fazemos o mesmo no bordo contrário.
Outra forma de medir a simetria é utilizar a régua fixa e o prumo, determinando o centro do barco encontrando assim a distancia deste ponto com as duas forquetas.
Medição da simetria
Todas essas medidas são muito importantes para o andamento do barco. Se uma guarnição bem treinada não consegue manter um ritmo de remadas uniforme, talvez seja recomendável testar outras opções de aberturas e alavancas.
Aberturas e alavancas mais utilizadas (em cm)
Tipo de Barco
Abertura em cm
Alavanca em cm
4 com
84-85
114-115
4 sem
84-85
113-115
2 com
85-87
115-118
2 sem
85-86
115-116
oito
80-83
112-114
skiff
154-156
85-86
double
153-156
85-86
four
153-155
85-86

Regulagem das Inclinações

Preparação para a regulagem das inclinações (ou escapes)
Antes do início das medições, deve-se comprovar o nivelamento do barco, tanto longitudinal como transversalmente. Ou seja, deve-se usar o nível nas duas direções.
Inclinação Lateral
Por inclinação lateral entende-se a inclinação do eixo da forqueta para fora em relação à linha central do barco. Ela é necessária para poder-se controlar a inclinação do remo durante toda a remada.
Com um ajuste normal, o eixo fica na vertical e, se por exemplo, regulamos a pá com 8º (4º da forqueta e 4º do remo), ela se mantém com essa inclinação durante toda a remada. Normalmente se usa essa regulagem em equipes jovens.
Se desejarmos que a inclinação da pá varie de 8º no ataque a 6º na saída de ré, devemos regular o eixo da forqueta com 2º de inclinação lateral. Essa regulagem é normalmente usada em equipes mais experientes e tem a vantagem de facilitar a saída da ré.
.....
Medição do ângulo de ataque do remo com o prumo e o metro
Inclinação
A inclinação é o angulo que forma a pá com a vertical do barco; impede que o remo afunde durante a remada e produza um efeito estabilizante e de elevação da embarcação.
Devido a essa força, a inclinação deve ser a mesma em todas as bancadas, para não produzir um desequilíbiro de forças.
A inclinação se mede colocando o remo na mesma posição da remada n'água e deve medir-se no ataque (a) em ângulo reto com o barco (b) e na saída de ré (c).
Havendo variações, deve-se controlar a inclinação lateral. Nessa regulagem o punho do remo deve ser colocado a 25-27 cm por cima da borda do barco.
Não dispondo de instrumentos especiais, pode-se medir eficazmente a inclinação com ajuda de um prumo e um metro.
Tipo de Palamenta
Inclinações em mm
Simples
14-16
Dupla
13-15
Obs.: As forquetas atuais possuem peças encaixáveis de diferentes medidas que facilitam a correção da inclinação de uma maneira fácil e rápida.

Traduçao luso-brasileira VRL Vet