terça-feira, 18 de novembro de 2014

Sessao de ergo - como nos sentimos?


"O atleta que é forte mentalmente separa aqueles que vivem em montanhas dos que vivem em vilas."

Frase forte para começar uma sessao...

"Assim, vamos à sala principal do ginásio e começamos a alongar e movimentar o corpo para distribuir sangue quente a todos os músculos e evitar algumas câimbras durante a prova de hoje, neste momento os dois rostos estão mais sérios sem muitas palavras, é aquele momento que sabes que vai doer, reconheces que vai ser muito difícil, mas precisa ser feito, precisa ser enfrentado. Não estou sendo dramático, mas quando vives esse tipo de zona de desconforto todos os dias, aprendes a preparar-te para não desistir quando a constante dor apertar.
Sentamos no ergometro, a maquina preferida dos grandes remadores que treinam dentro das academias quando o inverno esta pesado, como nos não possuíamos barcos de verdade, sentamos no simulador.

Ao sentar os dois no ergometro, começamos a colocar a distancia, cinco mil metros, estimativa de tempo para o andamento, vinte e dois minutos quando colocas a distancia na maquina, porem ela ainda não sabe quanto vai ser o nosso ritmo de remo, então por um instante, troco minha respiração de auto-controle para aquela controlada por mim, varias vezes inspirando por um bom tempo e colocando o ar para fora um pouco rápido e lento.
Neste momento não existe contato no olho, eu e meu treinador estamos na nossa própria zona, o nosso mundo de crenças e determinações, é aquele momento que sabes o que estar por vir, e ainda não sabes o que vai passar. 

Começamos a remar num passo de 1:55m/500m, respeitável para uma distancia de cinco mil metros, nos primeiros minutos parece que vai ser um pouco mais fácil do que eu particularmente estava imaginando, as pernas ainda estão em boas condições, recuperei bem desde ontem, sinto os braços e respiração controlada, olho no relógio, batimentos cardíacos ainda baixos e concentro-me totalmente no ritmo, na explosão e recuperação, respirar, remar, tudo sob controle neste estagio, porem ao olhar o display da maquina verifico que de cinco mil metros passaram se apenas setecentos metros.
Nesta parte inicial é fácil manter o ritmo, tudo esta sob controle, existe uma zona de desconforto grande mas ainda aceitável, escuto somente o barulho do ventilador rápido e suave, rápido e suave, os meus batimentos cardíacos já estão na zona de capacidade de oxigênio, penso que fiz bem até aquele ponto, que a dor é passageira e é preciso completar a tarefa. 

Começo a sentir já um pouco mais de dificuldade de controlar minha respiração e as pernas começam a ficar pesadas.


Esta é a zona que eu tinha receio de chegar, olho para o display, estamos na metade do curso, esta fase é a mais dolorosa.
Ao chegar a metade, o cérebro sem pedir autorização faz o calculo de que toda a dor que passou até ali e vai se repetir por mais uma vez, rapidamente ele sabe que já estás muito mais cansado, e que o marcador de passo começa a alterar entre 1.57m/500m e 1:53m/500m, rapidamente o cérebro calcula que o ritmo já não esta mais linear ou constante, estás perdendo força e eficiência. 

Neste momento a melhor defesa é atacar, começo a fechar os olhos e concentrar em cada passo, em cada remada, neste momento, percebo que estou indo bem, ao abrir os olhos, passaram-se cinquenta metros, é como se fosse um alarme de desistência para a cabeça.
Os pensamentos como : Não precisas fazer isso; isso não vai te levar a nada; já fizeste demais até aqui; isso aqui não vale a dor que passas. 

São todos pensamentos de proteção que o cérebro inventa para proteger o corpo e fazer com que desistas do teu objetivo, a dor neste momento é intensa e muito, mas muito desconfortável, porem precisas só me segurar-te ali, preciso provar para mim mesmo que é preciso vencer estas batalhas com a mente e nada mais. Se te matar, pois....., mas é preciso ser feito se um dia quiseres ser um campeão na vida.
Depois de tantas conversas dentro da mente enquanto colocas tremendo esforço para manter o ritmo, ao olhar ao display, uma surpresa, só faltam mil metros, para baixo de quatro números e estamos já aos três números, mas quando estamos perto de conseguir algo, mesmo que doe bastante, achamos uma força extra, uma motivação para acabar de uma vez por toda aquela agonia.
Faltando quinhentos metros decido tentar fazer o mais rápido que posso, se eu cair, vomitar ou desmaiar, pelo menos tentei, não posso deixar a duvida de não saber qual é o meu máximo me atormentar depois do treino, faço das minhas palavras ações, até os últimos metros satisfatórios e de muita gratificação, quando acabo, desgarro meus pês do apoio e caio no chão, minha respiração esta freneticamente acelerada, mas ainda estou lucido, somente em uma agonia absurda."

Pequena descriçao de uma sessao ergo a full power/ testing mode......



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