sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Como lidar com as distintas personalidades dos REMADORES de elite

Remadores de elite

Na conferência anual de treinadores da FISA realizada na Irlanda em novembro do ano passado, a Dra. Annelen Collatz da Alemanha realizou uma apresentação sobre a psicologia nos esportes de competição. Nesse artigo da World Rowing Magazine será abordado um dos elementos discutidos na apresentação, as características das distintas personalidades dos remadores de elite e os seus efeitos na performance.
“A performance no esporte é determinada por uma combinação de fatores: fatores psicológicos, conhecimento técnico, visão tática e estado de espírito , em resumo, personalidade”.

Existem seis atributos chaves que formam a personalidade dos remadores de elite: habilidade de relacionamento, comprometimento, disciplina, autoridade, estabilidade e cooperação.  As distintas doses de cada um desses seis elementos determinam em que categoria de personalidade o remador se encaixa.


A Dra. Annelen divide a personalidade dos remadores de elite em quatro categorias: o instável; o agregador; o individualista e o líder. Os remadores se encaixam em um desses quatro tipos de personalidade ou possuem uma combinação de atributos.
Os remadores categorizados como instáveis são atletas altamente disciplinados que terão maiores dificuldades em lidar com outros membros do time (colegas e treinadores). Eles também não suportam pressões, como por exemplo, nas seletivas ou durante as competições. A aplicação de técnicas de relaxamento, pensamentos positivos e a busca da causa da sua baixa estabilidade pode ajudar no ajuste do seu comportamento e melhorar a forma como esse tipo de atleta interage com os demais.

O agregador é uma personalidade chave para uma guarnição. Ele trabalha bem em uma estrutura de grupo e pode ser a “voz da razão” durante os momentos de conflito. Remadores com esse tipo de  personalidade são menos propensos a afirmar sua dominância.
Quando pensamos em um remador individualista, estereotipamos em nossa mente um singlista. Um individualista precisa de muita liberdade para funcionar na sua capacidade máxima. Frequentemente treina sozinho e sem a supervisão de um treinador. Essas são as razões pelas quais o individualista tende a causar problemas quando colocado em uma guarnição pois lhe falta a habilidade de cooperação.

Assim  como o individualista, o remador líder possui uma personalidade dominante porém esse remador irá usar o seu domínio para influenciar outros ao invés de motivá-los. Esses remadores querem ter o controle. Eles sempre pedirão a palavra nas reuniões do grupo e têm a capacidade de influenciar os que estão ao seu redor.  Porém, essa influência pode ir em várias direções.  Ter várias personalidades “líder” em uma guarnição pode se tornar algo crítico e levar ao conflito e à frustração, já que os remadores podem entender que a sua habilidade de liderar não está sendo alcançada.

As distintas personalidades no remo de elite contribuem direta ou indiretamente na performance do barco. Os traços de personalidade influenciam o estado psicológico de um remador na competição e consequentemente  influenciam na sua performance.  Porém, antes mesmo de um remador chegar numa competição de alto nível seus traços de personalidade já o ajudaram a chegar naquele nível. Na preparação para a competição a personalidade do remador influenciou o seu desenvolvimento  melhorou os seus conhecimentos técnicos e a sua adaptabilidade fisiológica. Durante a temporada o ânimo do remador influenciará diretamente a performance e a eficiência da aplicação dos conhecimentos técnicos aprendidos. O estado psicológico influencia também diretamente o estado físico do remador.

Para colocar toda essa teoria na prática, imagine um remador que tem um relacionamento difícil com o seu técnico. Esse conflito fez com que esse remador não confiasse mais nas instruções dadas pelo treinador.  Essa crise de relacionamento fez com que o remador faltasse a várias sessões de treinos. O atleta ficou mentalmente estressado e durante as competições é impossível que ele alcance o seu potencial  máximo tanto físico como técnico.
Compare essa situação anterior com um atleta que se sente parte de um time. Ele treina junto com os seus companheiros e a sua relação fora da água também é excelente. Todos têm um objetivo comum  e cada um entende exatamente o seu papel dentro do barco. Todos trabalham para maximizar cada sessão de treino e acatam os conselhos do treinador de forma construtiva. Esse atleta vai competir com um estado de espírito positivo e provavelmente conseguirá um rendimento máximo.

A predisposição genética de um remador sempre prevalecerá levando o atleta a ser rotulado em um tipo de personalidade? Segundo a Dra. Annelen a predisposição genética contribui apenas com 2 a 4% do traço de personalidade. O desenvolvimento da personalidade está praticamente formada no final da adolescência mas ela pode ser alterada a qualquer momento da vida se há um desejo de que isso ocorra.
Os atletas devem ter consciência de qual tipo de personalidade eles possuem. “Se você quer lidar com você memso na vida ou em uma equipe, o primeiro passo é conhecer a si mesmo’, confirma Annelen. É também importante que os técnicos conheçam as distintas personalidades de seus atletas. O treinador tem que conquistar a confiança e o respeito dos seus atletas já que ele terá que em muita situações de levá-los além ao seu limite físico. A Dra Annelen acredita que se um treinador entende cada personalidade dos seus atletas ele pode achar uma forma de obter o melhor rendimento de cada um.

O treinador também deve levar em conta as distintas personalidades de seus atletas na formação das guarnições. A Dra confirma: “Um equilíbrio de personalidades  melhora o rendimento do barco. Colocar muitos atletas do estilo instável ou líder não é recomendável nos barcos maiores”.  O técnico sempre irá priorizar o estado físico e a capacidade técnica dos seus atletas porém se houver algum elemento com algum traço de personalidade que possa atrapalhar o grupo e que tenha um nível técnico e físico excepcional, o técnico deverá se perguntar se não vale a pena um trabalho prévio para controlar a personalidade desse atleta antes de inseri-lo na guarnição.


A Dra. recomenda que remadores e treinadores trabalhem em conjunto para estimular os traços de personalidade positivos e controlar os negativos. O procedimento mais básico é criar a sensação de calma no remador. Técnicas de relaxamento como respiração controlada e relaxamento progressivo dos músculos podem ser utilizadas. A conversa na garagem também pode eliminar e controlar alguns traços negativos de personalidade encorajando uma regeneração mental e emocional. Incentivar a auto crítica com perguntas  do tipo: “O que aconteceu durante a prova? O que você estava sentindo e no que você estava pensando durante a prova? “O que pode ser mudado? e ainda “Como podemos implementar essas mudanças?”. Essa estratégia permitirá aos remadores reafirmar os pontos positivos da sua performance e isolar os pontos que causam problemas  e que poderão ser resolvidos posteriormente. Visualizar cenários futuros (melhor/pior cenário) servirá também para ampliar e  isolar as perspectivas removendo as barreiras de pensamento.
A psicologia do esporte está sendo cada vez mais considerada por atletas, treinadores e confederações. A Dra Annelen confirma: “É ainda um fator de performance subestimado e que será relevante no futuro. Sem dúvida será um dos fatores decisivos na determinação do sucesso ou do fracasso”.

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