quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Timoneiro - elemento essencial


RECRUTANDO O TIMONEIRO

Como recrutar um timoneiro? Procure vencedores! Procure pessoas que tenham o tamanho certo e uma aparência de confiança e de sucesso. Alguém que tenha o olhar inteligente. As exigências psicológicas do timonear são muito fortes para se esperar que alguém que não demonstre auto-confiança seja a pessoa que você quer.

Pessoas tímidas e introvertidas podem tirar uma boa reta e dizer à guarnição todas as coisas que o técnico deseja, mas nunca serão timoneiros de fato.
Esta capacidade é inerente,derivada da própria personalidade.O técnico deve dar mais valor à personalidade do que à silhueta do candidato a timoneiro.
Ao tentar convencer o recruta a comparecer à garagem, o técnico deve descrever o timonear de tal maneira que ele ache uma coisa excitante: o timoneiro como um estrategista, tomador de decisões, líder e substituto do técnico. Se a missão for descrita dessa forma e a personalidade do recruta lhe permite ver-se nesses papéis, então o trabalho estará concluído e o recruta "no laço".
É interessante usar os próprios timoneiros para fazerem o recrutamento, já que eles poderão argumentar melhor que o técnico, devido à sua experiência na posição, além de servirem (às vezes) como futuro modelo para o novato.



A POSIÇÃO PSICOLÓGICA DO TIMONEIRO

O timoneiro é um "nanico" no meio de "cavalões". É um ser de metro e meio em uma selva de criaturas de 1,90m prá cima.
Ele é a única pessoa na garagem que não está lá para aprender a remar.O técnico está voltado para o recrutamento e treinamento de pessoas grandes. A garagem pode ser um lugar de solidão para uma pessoa pequena que não foi lá para remar.
O timoneiro, como qualquer pessoa, precisa sentir-se útil. Muitos que dariam bons timoneiros não porão mais os pés na garagem, se o técnico der atenção só aos remadores.


O TIMONEIRO E O EQUIPAMENTO

Ele é responsável pelo equipamento, enquanto a guarnição está treinando. Deve estar sempre vigilante, para pressentir os perigos invisíveis que rondam cada guarnição. Não é difícil o timoneiro concentrar-se demais na guarnição a ponto de não ver uma bóia, um pedaço de madeira e até mesmo outro barco.
Se o barco estiver parado e o técnico falando, o timoneiro deve estar de olho nas margens, nas pontes ou em quaisquer outros obstáculos ao redor.
O técnico deve instruir os timoneiros para interrompê-lo a qualquer momento, sempre que pressentirem perigo. Ambos devem ter presente que o timoneiro poderá modificar ou interromper qualquer treino, se o equipamento correr o risco de ser prejudicado.
A atracação do barco é uma tarefa que exige do timoneiro cuidados especiais. Muitos gostam de atracar com o barco em velocidade, passando a poucos centímetros da rampa.Isso não se faz. O barco deve parar antes de chegar na rampa e encostar por meio de manobras de um ou mais remadores.
Um dos problemas com que o timoneiro terá que lidar é o vento. Ele precisa saber que um forte vento de proa pode afundar um barco, se a guarnição não tomar cuidado. Soprando tal vento, o timoneiro deve mudar de direção, de modo a pegá-lo de ré. Se dois barcos estão treinando juntos, ambos devem virar na mesma direção e simultaneamente, para evitar que um seja jogado sobre o outro.
Mas o timoneiro deseja ser muito mais que um mero responsável pela segurança de barcos e remos, embora essa seja a primeira atribuição que lhe é conferida. Ele deseja ser o estrategista, o líder, o substituto do técnico. É depois do segundo ou terceiro treino que ele desejará fazer uma incursão por essas novas funções. Caberá ao técnico dar-lhe essa oportunidade.


O TIMONEIRO E O TÉCNICO

Desde o primeiro contato com o candidato, o técnico deveria dizer-lhe que espera que ele venha a fazer muito mais do que por a guarnição na água, ou tirar retas, ou prevenir acidentes. Deve dizer-lhe, isso sim, que dentro de certo tempo ele assumirá o duplo papel de atleta-treinador. É preciso dizer-lhe também que esse processo é demorado e que ele não deve se impacientar, pois, se começar a dar ordens à guarnição sem saber o que está falando, perderá o respeito.
Depois que aprender a conduzir o barco e a tirar a reta, a primeira coisa a fazer é conhecer a técnica da remada. Para isso,é importante que o timoneiro já tenha remado em tanque, saído em barco e obtido domínio dos movimentos da remada.

Ainda mais importante: o técnico deve lembrá-lo de que ele aprenderá, primeiro, observando e ouvindo.O timoneiro deve estar alerta a tudo o que o técnico diz, pois ele, sentado no barco, apenas vê um remador, várias cabeças e quatro ou oito remos. Além do mais, até que o timoneiro aprenda o que representam os vários movimentos do remo, terá que memorizar os comentários do técnico sobre os vários remadores.

Aliás, o técnico deveria estimular o timoneiro - novato ou veterano - a memorizar os principais comentários feitos sobre cada remador, dia a dia. Após o treino, ele deve gastar uns 10 minutos com o timoneiro, revisando os principais problemas apresentados por cada atleta. Isso proveria o timoneiro com uma lista do que corrigir(ou lembrar) em cada remador. Desse modo, dentro de uma semana o timoneiro será capaz de fazer comentários específicos sobre cada atleta, em vez dos já batidos "vamos!", "pega", etc.,que frustram tanto as guarnições.
É importante que a guarnição veja o técnico delegando atribuições ao timoneiro. O fato do atleta ouvir o treinador instruir o timoneiro no sentido de criticar certos pontos da sua remada dá autoridade a este e legitima-a aos olhos da guarnição.

Todas as vezes que um remador é chamado à atenção pelo técnico, por um erro cometido, isso deve ser mencionado simultaneamente ao timoneiro. Ele deve ser usado, freqüentemente, como "caixa de som" do técnico.
O timoneiro deve ser encorajado a fazer perguntas. Uma das experiências mais benéficas que se lhe pode proporcionar é assistir ao treino, na lancha. Os aprendizes de timoneiro devem sair uns dias na lancha, antes de saírem no barco.


O técnico deve gastar alguns minutos, antes de cada treino, explicando a sua natureza e o seu objetivo. Depois, ao fim do treino, deve passar outros minutos ouvindo as impressões do timoneiro sobre o que ocorreu no treino. A importância do que este acha talvez seja mínima, porém, será um tempo bem gasto, se o técnico crer que está investindo sua atenção num timoneiro que, no futuro, poderá ser a extensão de seus olhos e ouvidos.

O timoneiro não é um empregado. Ele não deve ser solicitado a pintar remos, carregar uniformes, lavar as meias dos remadores, etc. Se ele perceber que é olhado como um escravo ignorante, inútil, ou como forma de vida inferior no sistema atlético-ecológico, não desenvolverá suas potencialidades. Com certeza, tratará de encontrar uma função mais agradável em outro lugar. E se não o fizer, é porque vale muito pouco para que se invista tempo e conversa nele.


O TIMONEIRO E A GUARNIÇÃO

Há um grande perigo do timoneiro tornar-se um chato. Muitos se tornam repetitivos, apesar de haver infinitas maneiras de dizer a mesma coisa. O técnico deve incentivá-lo a fazer uma lista dos diversos modos de dizer a mesma coisa. E porque o timoneiro geralmente repete os jargões do técnico, este faria bem em variar o que diz.

Outra coisa que faz o timoneiro parecer um chato é a chamada "presunção do remador", segundo a qual este presume que está remando perfeitamente bem e que os erros que o barco acusa são causados pelos seus companheiros, nunca por ele. Para acabar com isso, o timoneiro deve, primeiro, chamar a atenção do remador para o erro, especificando. Comentários do tipo "como é que é, pessoal!", ou "vamos melhorar" de nada adiantam. Por que alguém ouviria um timoneiro que usa as mesmas frases vazias de significado para as mais diversas situações?


Ao chamar a atenção de cada um, o timoneiro deve dizer, primeiro, o nome do remador e depois dizer do que se trata. Se disser: "afaste as mãos mais rápido,João! ", este ouvirá apenas seu nome. Mas se o nome ou a posição do remador for citada primeiro, então seu "transe" será rompido, o timoneiro receberá atenção e poderá fazer seu comentário.
Já o voga, que passa a temporada inteira sentado a menos de 1 metro do timoneiro, faz-lhe outras exigências de ordem psicológica.
O voga, para si próprio, é mais importante que a vida, preocupado apenas com sua auto-destruição e muito pouco interessado nos problemas do timoneiro. Este, para o voga, é um mero instrumento através do qual ele pode falar à guarnição. O técnico deve explicar ao timoneiro que vogas são, por natureza, tipos muito estranhos, o que fará com que ele se proteja instintivamente.

A arte de timonear repousa em saber o que faz a guarnição reagir. O tempo despendido com os remadores, na água e fora dela, é o germe dessa percepção. Um timoneiro que sabe porque um individuo rema, ou porque ele quer ganhar, pode fazer a observação perfeita quando for necessário. O timoneiro que pode penetrar as profundezas psicológicas de um remador ou da guarnição pode descobrir a diferença entre ganhar e perder.

O TIMONEIRO NA PRÁTICA

O técnico deve falar ao timoneiro sobre a fadiga física e psicológica dos remadores. O timoneiro deve respeitar o esforço dos remadores e elogiá-lo, bem como condenar sua falta. Ele deve limitar suas palavras durante o treino, quando os remadores estão concentrados no que estão fazendo. Se falar muito, será ineficiente quando for mais necessário, ou seja, quando a exaustão física e psicológica começar a enfraquecer a performance dos remadores.
Uma das coisas mais importantes da arte de timonear é saber contar. Qualquer guarnição odeia ter que dar 41 remadas, em vez de 40. Quando isso acontece, a guarnição acha que pouco estão ligando para o sofrimento que custa cada remada à plena força.
Outra habilidade importante é saber estimar corretamente as distâncias. O timoneiro que pede "mais trinta!" que acabam sendo cinqüenta ganha o ódio da guarnição e perde a credibilidade. Somente depois que o timoneiro tiver desenvolvido um acurado sentido de distância é que ele poderá pedir "mais trinta!".

Se a luta estiver "mano a mano" e o timoneiro tem fama de calcular mal as distâncias, a guarnição não acreditará em nada do que ele disse quanto ao número de remadas. Isso evitará que eles dêem tudo em um pique.

O TIMONEIRO NO DIA DA CORRIDA

O mais importante é ter calma. O timoneiro deve saber que, nesse dia, os remadores e até o técnico podem tornar-se irracionais. O que mais precisam é de um timoneiro sem medo, com nervos de aço.
Se a guarnição vê que o timoneiro tem auto-controle, acreditarão que ele executará suas tarefas com perfeição. As exigências físicas da corrida já são mais que suficientes, para que ainda tenham que se preocupar com a possibilidade do timoneiro falhar.

O timoneiro deve pesar o mínimo permitido, mas o técnico deve alertá-lo uma semana antes da prova, para dar-lhe tempo de reduzir seu peso sem grande sacrifício.
Não importa quão rigorosa tenha sido sua dieta, o timoneiro deve tomar um bom café da manhã, no dia da regata. Nenhuma guarnição, por melhor que seja, poderá conseguir muito, se o timoneiro tiver alucinações durante a corrida, causada pela fome.

A CORRIDA

No dia da corrida, tudo deve ser feito como nos treinos, com as mesmas rotinas, os mesmos comandos, o mesmo aquecimento. Assim que este estiver completo, o timoneiro levará o barco para alinhar, tão rápido quanto possível. É necessário, fisiologicamente, que os remadores tenham suado bem e que estejam com a pulsação em torno de 160 bat/min, quando encostarem no pontão. O esforço na prova, para levar suas funções de um estado predominantemente aeróbico para o steady-state será maior se eles não estiverem bem aquecidos.



Muitos timoneiros aquecem bem a guarnição, mas acabam perdendo as vantagens fisiológicas por demorarem para alinhar, fazendo "guerra fria" com os adversários.

Outra vantagem em alinhar rapidamente: se a última saída foi muito boa, a confiança da guarnição estará no auge.
Entretanto, outros técnicos recomendam prolongar o aquecimento até o último instante, alinhando por último, enquanto os adversários, já alinhados, esfriam.
A última parte do aquecimento deve ser uma saída dada na direção da prova e atrás do pontão, de modo que o barco possa deslizar ou remar suavemente, até sua posição de partida.



Na partida, talvez seja preferível o timoneiro ficar calado. Não há muito valor em recitar, ritmicamente, "meia", "meia", "três quartos", "inteira", etc., porque a guarnição já treinou muito isso e sabe como se faz. Em vez de gritar, o timoneiro deve concentrar-se na reta, pois há grande chance do barco perder a direção, nas primeiras quatro remadas.
As duas coisas que precisam ser lembradas ao remador são: remar longo e respirar. A tensão da partida freqüentemente impede a guarnição de respirar eficientemente e por isso ela deve ser lembrada repetidamente, com voz calma.

Ao relatar a situação da prova, o timoneiro deve fazê-lo de modo a não causar preocupação, correria ou pânico no barco.
Quando a guarnição começa a "entrar" sobre os adversários, o timoneiro deve descrever esse movimento de tal maneira que garanta sua continuidade. Em outras palavras: se a guarnição começa a se impor e a "andar", é óbvio que ela está remando bem, em relação ao seu adversário, e o timoneiro deve ajudá-la a continuar fazendo isso. 


Mas alguns timoneiros têm a capacidade de "cortar esse embalo", deixando a guarnição tão excitada a ponto de perder a noção de ritmo de percurso e começar um pique.
O timoneiro deve dar mini-estímulos, que dêem idéia de um avanço crescente, como: "já pegamos o nº 5 deles, agora estamos pegando o nº 4, vamos buscar o nº 3", etc., de modo que a guarnição fique querendo sempre mais.

Quando um barco adversário começa a "entrar", a obrigação do timoneiro é detectar os problemas que estão fazendo ele perder terreno e evitar que sua guarnição perca a cabeça. Exortar a guarnição a lutar é apenas parte da receita. Quanto a isso, há uma regra inviolável: o timoneiro nunca deve mentir à guarnição sobre sua real posição na corrida e como ela está remando. É perigoso pintar um quadro irreal da situação, porque o timoneiro pode perder a credibilidade.



Se o timoneiro aceita perder terreno ou mesmo a derrota, sem mentir, então, quando a guarnição reagir e começar a "entrar", seja nesse dia ou em outro, saberá que ele está dizendo a verdade e se empolgará mais.
O timoneiro não deve se empolgar tanto com a corrida, a ponto de esquecer a reta. Ninguém aceitará suas desculpas, se o barco perder por um metro mas tiver deixado atrás de si uma esteira em forma de S.


Obviamente, o timoneiro deve executar a tática de corrida formulada pelo técnico, mas, numa corrida duríssima, "mano a mano", ele poderá ter que alterá-la de um momento para outro. Ao executar a tática planejada, é preciso estar seguro de que a guarnição sabe bem o que fazer, no momento certo. E quando este chegar, o timoneiro apenas avisará: "AGORA!", de preferência no final de uma remada, quando vai começar a ida à proa.

Uma dica: através de um megafone, que possa ser ouvido pelo adversário, o timoneiro pode dar "ordens frias" à sua guarnição (que não as cumprirá, evidentemente), mas que levarão o adversário a distrair-se e a fazer o que não deve.
Ao aproximar-se o fim da luta o timoneiro deve resistir à tentação de acabar com a dor e o sofrimento da guarnição antes do tempo. É comum timoneiros mandarem "arvorar" antes da linha de chegada, seja por erro de cálculo da distância, por ficarem impressionados com o estado físico da guarnição, ou porque pediram "trinta!" a quarenta remadas atrás, ou ainda, porque nem fazem idéia de onde fica a linha de chegada.



Segundo Stewart MacDonald(USA)
Traduçao luso-brasileira VRL Vet

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