quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A pá do remo - pequeno historial


Formato da pá de remo

Quando os remos eram feitos de madeira, quase todos os técnicos tinham seu formato favorito e vários modelos diferentes eram vendidos nas lojas de construção de barcos. Desde os anos 60, a pá é conhecida popularmente como Macon (ou “standard”). Todos os construtores faziam seus remos com este tipo de pá e as únicas diferenças eram na largura, comprimento, curvatura, maior ou menor saliência da nervura central, mas o desenho e linhas mestres eram baseados no conhecido “Estilo Macon”.

Em 1984, a Companhia Concept II Inc. desenvolveu um novo tipo de pá, a Delta. Comparada com a pá “standard”, a Delta é mais triangular e larga na extremidade. Mulheres e equipes leves ou de pouca força decidiram usá-la. As razões ou bases deste novo desenho eram as mudanças na sensação de resistência de acordo com o ângulo da remada.

A sensação é mais leve e branda no ataque, ficando mais pesada a partir da metade da remada, igualando-se, então, a uma pá “standard”. Esta pá tem sido proposta  como melhor para ser utilizada em barcos curtos ou lentos (“skiff” e duplo “skiff”), e para barcos longos com guarnições fracas.

Em 1989, a Collard Ltd. desenvolveu uma pá de largura superior ao seu comprimento. Um dos argumentos ou bases fundamentais para justificar o novo “design” era que, durante a fase de apoio, o movimento da pá era mais lateral do que frontal. Além disso o ataque e a retirada seriam mais “limpos”, de forma a exigir um menor esforço e aproveitamento  por parte do remador. De toda maneira parece que a idéia não vingou e o projeto não seguiu adiante.


Em 1990, novamente a Concept II lançou no mercado um novo tipo de pá: a assimétrica. Seu manejo na retirada do remo da água e na recuperação são semelhantes a uma pá “standard”. Na propulsão, a sensação é intermediária entre a Delta e a “standard”. 

Em 1991, seguindo quase trinta anos de domínio do remo “standard”, a Concept II apresentou, nos Estados Unidos, um novo modelo de pá, o remo cutelo (ou remo de Dreissigacker), o qual possui formato assimétrico similar a um cutelo. Em questão de um ano após seu surgimento, quase todas as guarnições norte-americanas trocaram os remos tradicionais pelo novo modelo, mesmo as mais conservadoras, já que seus adversários as estavam vencendo nas competições.

Dreissigacker e Dreissigacker (1997) fazem uma pequena cronologia a respeito da mudança do “design” e construção dos remos.
Em 1986 foi introduzida a empunhadura construída de material ultraleve (fibra de carbono), com o intuito de diminuir o peso total do equipamento. Em 1988, surgiu a nova proteção tubular no cabo do remo.

A empunhadura de alumínio para remos duplos foi desenvolvida em 1991 e, em novembro do mesmo ano, surgiram os remos em forma de cutelo. Recentemente, em janeiro de 1996, foram introduzidas as empunhaduras de compósito, as quais podem ter seu comprimento ajustado e fixado.

A aparição de novos materiais, como os compostos de fibra de carbono, tornou possível a construção de pás com formas extremamente complexas. Como já é freqüente na história do desenvolvimento da técnica, no ano anterior aos Jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona, surgiram vários novos tipos de pás, desenvolvidas totalmente independentes umas das outras: na Inglaterra, pela Universidade de Bristol, nos Estados Unidos, pela Concept II, e na Alemanha, pela F.E.S. Berlin Company

Basicamente, cada projeto se apoiou no conceito de incrementar a eficácia mecânica reduzindo a quantidade de deslocamento da pá na água. As impressões básicas sobre este tema foram: 
(a) não houveram dificuldades de adaptação às novas pás, como era esperado para o ataque e retirada do remo da água e não ocorreu arrasto maior de água ao final da remada, do que com remos convencionais; 
(b) o progresso, indicado pela melhora nos tempos dos 2000 metros em competições, foi evidente, sobretudo com remadores jovens cuja prática está baseada na força (e nem tanto na técnica); 
(c) remadores mais experientes e com maior qualidade técnica precisaram de um tempo maior de adaptação, mas também obtiveram melhoras em seus tempos. 

O REMO “STANDARD”

Este tipo de remo também é conhecido como remo simétrico, tradicional ou Macon. Pode ser construído de madeira e/ou fibra de carbono. É constituído das seguintes partes: alavanca interna, alavanca externa, cabo (empunhadura), anel, manchete, haste e pá. Os eu comprimento total, para barcos “skiff”, pode variar de 296 a 302cm. 

O REMO CUTELO

Também conhecido por remo assimétrico ou remo de Dreissigacker. 




É construído de fibra de carbono. Tem as mesmas partes componentes do remo “standard”, porém, apresenta um desenho de pá diferenciado. Seu comprimento total para barcos “skiff”, pode variar de 285-295cm.


A pá tipo cutelo

Na primavera de 1991, nos Estados Unidos, os irmãos Dreissigacker, da Concept II, tomaram ciência de um novo projeto de desenho da pá, conduzido pela Durham Boat Company (também dos Estados Unidos) e de vários outros projetos de fabricantes europeus. No Campeonato Mundial de 1991, vários times da Inglaterra utilizaram remos com pá assimétrica fabricados pela companhia inglesa Hi-Lock.

Terminada a regata, os irmãos decidiram que, se um novo modelo de pá seria introduzido no mercado, que fosse o deles. Eles começaram a buscar formas com maior potencial de aplicação de força. Assim, experimentaram um formato de pá assimétrica e chegaram à conclusão de que, simultaneamente encurtando a alavanca externa do cabo de 6 a 10 cm e aumentando a área da pá de 15% a 17%, efetivamente iria ocorrer um aumento na velocidade do barco.

No final de 1991, a Concept II doou alguns pares de remo para “skiff” para a Dartmouth College e vários atletas os utilizaram na “Head of the Charles Regatta”, a maior competição de remo de um dia de duração do mundo. A equipe de Dartmouth remou o quatro com, mas não terminou a prova, pois bateu em uma ponte no exato instante em que um anunciante comentava sobre o estilo peculiar apresentado pela guarnição que fazia uso das pás cutelo. Apesar do infortúnio, os remos cutelo foram apresentados à comunidade.

A Concept II continuou a campanha de lançamento dos remos cutelo mandando amostras de remos à equipes de várias universidades em Boston. A maioria dos técnicos foi relutante em experimentar o novo formato pois este era notavelmente diferente dos remos “standard”. Além disso não havia acesso a instrumentos de medida precisos que pudesse comprovar a superioridade do remo cutelo. O lançamento oficial destes remos aconteceu em dezembro de 1991 na Convenção Norte-Americana de Remo, em Seattle. Poucas pessoas na comunidade do remo deram importância a este acontecimento.

Os remos cutelo retornaram no primeiro trimestre de 1992, pelo “Efeito Dartmouth”. 



A Dartmouth College teve sua temporada de treino antecipada, devido ao degelo dos lagos de New Hampshire, e acabaram obtendo excelentes resultados nos circuitos de regatas universitárias. Concept II, a cada segunda-feira, recebia mais ligações de técnicos encomendando remos cutelo para as competições dos próximos fins-de-semana. Aqueles treinadores mais conservadores rapidamente mudaram de opinião em virtude das derrotas sofridas por guarnições que já estavam usando as novas pás. Em maio de 1992, na Regata de Eastern Springs, o maior evento da região, a quase totalidade das equipes estava utilizando remos cutelo. Nos Jogos Olímpicos de Barcelona de 1992, metade das equipes estava equipada com o novo modelo, o qual acabou sendo difundido para o resto do mundo.

Em questão de um ano, o remo cutelo acabou dominando o mercado. No Campeonato Mundial de 1993, 63 das 69 medalhas, (incluindo todas as medalhas de ouro, em um total de 23) foram ganhas pelas guarnições que usaram pás da Concept II.
Conceito da pá de cutelo: suponha-se que seja encurtada a alavanca externa do remo e seja mantida a alavanca interna. Como conseqüência, haverá uma carga mais leve no cabo do remo. A partir disto, serão incrementadas as dimensões da pá até atingir a mesma carga no cabo que havia antes de cortar a alavanca externa.
Esta “maior força” resultante na pá deverá mover a embarcação mais velozmente. A menor velocidade da pá significa menos deslocamento desta na água. Em outras palavras, mais trabalho é aproveitado pelo barco e menos trabalho se dispersa na água; logo, tem-se uma remada mais eficiente, pelo menos, teoricamente.

Após vários testes iniciais, desenvolveu-se uma pá com a qual se buscou: 
(a) maximizar a largura sem dificultar sua empunhadura e manejo; 
(b) encurtar seu comprimento perdendo a mínima área possível;
(c) maximizar a área dentro da largura e comprimento definidos.

A partir do modelo experimental tentou-se: 
(a) individualizar a medida mais larga da pá e de alavanca externa mais curta possíveis; 
(b) efetuar testes na água mudando as medidas da pá e alavanca externa, até atingir a mesma carga no cabo do remo que com o remo “standard” (sem modificar o eixo nem a alavanca interna do remo); 
(c) efetuar séries cronometradas alternando os protótipos com as pás clássicas.

Assim se assistiu à implementaçao do tipo de pá usado hoje em dia.

Retirado de : ESTUDO COMPARATIVO DO RENDIMENTO DE DOIS TIPOS DE PÁS DE REMO E DA TÉCNICA DA REMADA EM BARCO “SKIFF”  





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