segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Avaliação nutricional de remadores competitivos


Estudo sobre a nutriçao em atletas de remo

INTRODUÇÃO

O remo é constituído de um movimento cíclico no qual os membros inferiores e superiores trabalham sincronizados. A força e a cadência da remada podem variar de acordo com as características mecânicas do barco e a capacidade fisiológica do remador. As características biomecânicas do ritmo podem ser influenciadas pelo diâmetro muscular, tipo de fibra predominante, eficiência do trabalho e capacidade metabólica1.


A intensidade do exercício varia de acordo com a fase de treinamento, havendo treinos de baixa intensidade e longa duração e treinos de maior intensidade e curta duração. Na competição de remo olímpico, que compreende a distância de 2 mil metros, com duração de 6 a 7 minutos com atletas de elite, as provas podem durar entre 5' e 20" e 7,5', dependendo do tipo de barco. Essas competições são de alta intensidade, nas quais as capacidades anaeróbicas alática e lática, assim como aeróbica, são utilizadas no seu máximo. Tal esforço demanda altas capacidades metabólicas e grande massa muscular, da qual aproximadamente 70% são utilizados com uma média de potência de 450 a 550W, pois todas as extremidades e o tronco participam da propulsão do barco. O volume máximo de oxigênio (VO2 max) dos remadores é um dos mais altos já registrados, porém o VO2 max relativo dos remadores é menor que o de atletas de longa duração, devido à sua maior massa corporal.

Estudos referentes à fisiologia do remo, indicam que remadores de elite são capazes de realizar altas cargas de exercício ao extremo. Antes de campeonatos mundiais, o volume de treinamento pode atingir 190 minutos diários, dos quais aproximadamente 55% a 65% são realizados no barco, e o restante é composto de exercícios não específicos, tais como musculação e alongamento. O remo é um esporte cujo treinamento é de baixa e/ou moderada intensidade, com apenas 4% a 10% do tempo total despendido no treinamento em alta intensidade, podendo explicar por que os músculos de remadores de elite apresentam 70% a 85% de fibras de contração lenta, porém ambas as fibras de contração lenta e rápida têm suas atividades aumentadas.



Quando as condições ambientais não favorecem a prática do remo ao ar livre, utiliza-se um ergômetro específico, o remoergômetro, no qual o atleta pode treinar in door, com a vantagem de informar a força mecânica (em watts) desenvolvida e controlar mais precisamente o ritmo (voga remadas por minuto) da remada. O remoergômetro, além de auxiliar na melhora do condicionamento aeróbico e manutenção do peso corporal, também é utilizado para avaliar o condicionamento físico do atleta por meio de um teste que simula a distância da regata.
Muitas pesquisas têm descrito que hormônios de estresse, como, por exemplo, o cortisol, estão significativamente elevados após o treinamento de remo, uma conseqüência que é primariamente atribuída à grande quantidade de massa muscular utilizada. Pelo fato de o cortisol ser conhecido por influenciar as respostas imunes e de citocinas pró e antiinflamatórias, provavelmente remadores de elite possam sofrer alterações cíclicas e de estresse nos processos inflamatórios e imunitários.


As diferentes categorias do remo são divididas em função da faixa etária: júnior (atletas até 17 anos), sênior B (atletas de 18 a 22 anos), sênior A (atletas acima de 22 anos) e máster (acima de 27 anos). 


Entretanto, para os atletas seniores (B e A) existem duas categorias de peso para ambos os sexos, a leve e a pesada ou aberta. Os remadores pesos leves têm sua massa corporal (MC) restrita, no dia da competição, a 70kg para homens e 57kg para mulheres. A média da MC da classe aberta (peso-pesada) em campeonatos internacionais é de 92kg e 79kg para homens e mulheres, respectivamente. A divisão por MC acarreta diferenças antropométricas, que podem ocasionar características dietéticas divergentes entre elas, e distúrbio de imagem corporal e distúrbios alimentares, principalmente na categoria peso leve.

A avaliação nutricional desses atletas é de suma importância, visto que muitos pontos ainda permanecem sem resposta na relação nutrição versus esporte, sobretudo no tocante às necessidades dos micronutrientes.

Não há muitas pesquisas sobre a avaliação nutricional em remadores. 

Logo, ressalta-se a necessidade de mais estudos para que a ciência da nutrição esportiva possa obter dados para uma melhor orientação nutricional desses atletas. Portanto, o objetivo desta revisão é apontar características antropométricas, dietéticas e bioquímicas de remadores internacionais para a otimização dessas orientações. 


Nutrição
O remo é descrito como um dos esportes de maior demanda fisiológica, promovendo um elevado gasto energético. Estima-se que em uma regata de 2 mil metros, com duração de 6 a 8 minutos, sejam gastas em torno de 200 a 250kcal, e em 1 a 2 horas de treinamento diário sejam requeridas de 1 mil a 2 mil kcal11. No entanto, são poucas as pesquisas que detalham as necessidades e/ou as ingestões energéticas dos praticantes desse esporte.
Entre os poucos dados disponíveis, Steen et al.12 mensuraram registros alimentares de cinco dias de 16 remadoras colegiais pesos leves, encontrando uma média de 2.633kcal consumidas diariamente, aparentemente baixa, frente ao elevado gasto energético de competição e de treinamento diário. Remadoras pesos pesados têm uma ingestão maior, em torno de 3.169kcal/dia, atendendo ao gasto de 3.177kcal/dia calculado a partir do VO2max11.

Em geral, um esporte que utilize grande quantidade de massa muscular parece ocasionar maior demanda metabólica que outro exercício que requeira menor massa muscular. Porém, existem outros fatores que influenciam o gasto energético durante o exercício, haja vista a pesquisa que, ao comparar vários tipos de ergômetro, encontrou um maior gasto durante a corrida na esteira do que durante o exercício no remo ergômetro.

Desde os tempos mais remotos dos Jogos Olímpicos da Grécia, atletas competitivos se preocupavam com a ingestão protéica, pois acreditavam que o elevado consumo de proteína era a chave para o sucesso do rendimento atlético. As razões desse entusiasmo quanto à nutrição protéica vêm sofrendo diversas mudanças com o decorrer do tempo, pois estudos subseqüentes indicaram que os carboidratos e as gorduras fornecem o maior aporte energético utilizado durante o exercício.


O treinamento, associado ao elevado gasto energético e ao consumo inadequado de carboidratos, pode acarretar prejuízo no armazenamento de glicogênio muscular e hepático, diminuindo a capacidade de treinamento e o desempenho do atleta. Com o intuito de evitar esse efeito indesejável, é sugerido o aumento dos estoques de glicogênio muscular antes de iniciar o treinamento, retardando, dessa forma, a fadiga muscular em treinos superiores a 90 minutos. Mesmo havendo outros fatores relacionados, reservas de glicogênio muscular limitam o desempenho em exercícios de intensidades entre 65% e 85% do VO2máx. Há uma importante correlação positiva entre a concentração de glicogênio muscular pré-exercício e a duração da atividade física18. Esse fato é de grande relevância para os remadores, pois grande parte de seus treinamentos é realizada nessas intensidades.
Um aporte inadequado de carboidratos pode ocasionar overtraining com enorme degradação muscular. 

Durante o processo de overtraining em exercícios de endurance, alterações nesses metabolismos acarretam uma maior utilização de aminoácidos, os quais, provavelmente, resultariam do catabolismo protéico.
Atualmente, o assunto em voga quanto ao tipo de carboidrato a ser ingerido não versa apenas sobre a classificação do carboidrato (simples ou composto) frente à sua velocidade de absorção, mas principalmente sobre o índice glicêmico (IG) não só do alimento, mas da refeição ingerida. O consumo de carboidrato e/ou alimentos precedente ao treino deve respeitar a ingestão de alimentos de baixo IG (pão integral, laranja, maçã) a moderado IG (mistura de cereais tipo musli, sacarose, suco de laranja, manga, banana madura)22, prevenindo, assim, a hiperinsulinemia decorrente do súbito aumento da concentração de glicose na corrente sangüínea, podendo acarretar uma hipoglicemia de rebote; já após o treino, deve-se dar preferência a alimentos com alto IG (glicose, bebidas esportivas, arroz branco, batata assada, cereais de milho).

Obviamente, todas as alterações decorrentes da desidratação podem levar a uma queda no rendimento dos atletas: os remadores desidratados apresentaram uma diferença de até 22 segundos para completar a simulação de uma prova de 2 mil metros.

Portanto, os micronutrientes não devem ser esquecidos, principalmente em dietas restritivas, como é o caso dos atletas pesos leves, que costumam consumir um aporte energético reduzido, principalmente próximo às competições.

Muitos autores têm atentado para as restrições alimentares feitas pelos atletas da categoria peso leve nos meses próximos à competição, fazendo com que eles possam ser incluídos no grupo de risco para desordens alimentares. 

A dieta deveria oferecer a recomendação diária de micronutrientes, mas quando isso não é possível, em caso de dietas restritivas realizadas por alguns atletas, principalmente da categoria peso leve, sugere-se a necessidade do uso de um suplemento alimentar para que o rendimento atlético não seja prejudicado. 


Antropometria

O remo vem sendo extensivamente estudado e dados antropométricos de remadores de elite enfatizam a importância da massa e do tamanho corporal para o bom desempenho nessa modalidade esportiva, sendo um importante parâmetro na descoberta de futuros talentos.


Bioquímica do sangue
Treinamentos diários de elevado volume e intensidade são necessários para atletas que têm como objetivo participar de competições internacionais.
As reações metabólicas decorrentes da extenuação dos atletas podem ser avaliadas pelo aumento da concentração da uréia sérica, que reflete o metabolismo protéico. A uréia sérica também depende de fatores exógenos, tais como a dieta ou ingestão hídrica insuficiente.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
O remo é um dos esportes de maior demanda fisiológica, logo as necessidades dietéticas são muito elevadas para esse grupo de atletas. 
A educação nutricional dos remadores se mostra de suma importância, principalmente no que se refere à categoria peso leve, com um melhor monitoramento frente aos métodos utilizados de perda ponderal, evitando danos à saúde, bem como queda no rendimento.
Mesmo frente à grande importância da adequada ingestão de carboidratos, muitos atletas ainda hoje se privam ou reduzem seu consumo, devido à crendice de que esse nutriente levaria ao excesso da massa corporal. Esses indivíduos devem ser alertados quanto à importância desse nutriente, assim como do tipo adequado de glicídio para cada momento pré e pós-treinamento.
Indubitavelmente, a composição corporal e a bioquímica do sangue podem ser diretamente afetadas pelos hábitos alimentares. Considerando que as pesquisas disponíveis foram realizadas com remadores internacionais, há necessidade de estudos com atletas nacionais, pois as alterações culturais, principalmente referentes aos hábitos alimentares, podem ocasionar diferenças em relação aos dados descritos na literatura internacional.

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