sábado, 29 de novembro de 2014

A sobrevivência dos clubes de remo

A sobrevivência dos clubes de remo


Introduçao


Sobre a estrutura de suporte e apoio, no caso, os clubes de remo e suas instalaçoes.
Penso ser do senso comum e igual opiniao que a actual geraçao de remadores tem uma qualidade estrutural que nao havia há 30/40 anos atrás.


Os antigos remadores, gozam na actualidade dessa mesma qualidade que a geraçao mais nova, na sua categoria como veteranos.
Lembram-se dos nossos antigos clubes? 
Falo um pouco do antigo Arco e do antigo Nautico de Viana cujas instalaçoes estao agora a serem demolidas e em comparaçao estes 2 clubes deram origem ao Viana Remadores do Lima que recentemente comemorou 1 ano e tem actualmente uma (se nao a melhor) das melhores instalaçoes que um clube de remo pode ter.



Vi este texto e achei interessante partilha-lo, pois retrata uma realidade da modalidade a nivel mundial.
Ao longo do texto que aqui postei, revi muito do que de bom está a ser feito precisamente no VRL e que desde já saludo e que espero que siga a ser um exemplo nacional.




Assim:
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DE Walter Martindale
O autor é canadense, trabalhando há 20 anos como técnico de remo. Foi instrutor do Coach Education Program (níveis 1 a 5), da Coaching Association of Canada. Está há 4 anos na Nova Zelândia, contratado como técnico regional de Otago-Southland.


Considero a divulgação deste artigo muito oportuna, diante do processo de reabilitaçao que passa o remo português, no seu esforço para superar suas atuais dificuldades.

Um dos assuntos que tem sido discutido nas reuniões da Federação de Remo da Nova Zelandia e da Associação de Remo de Ontago é o número de participantes neste desporto. Aqui, só se ouve falar em números declinantes.

Acredita-se que para ter uma forte equipe de remadores de elite, é preciso uma ampla base. Embora um “treinamento esperto” possa funcionar para pequenos grupos, é preferível escolher uma guarnição dentre 100 remadores que tenham treinado duro, do que dentre 8 que entrarão no barco porque não tem mais ninguém.

Quando muita gente treina e compete duro em todos os níveis, os que vencerem uma eliminatória de Senior A certamente serão os mais rápidos.



Se o número de participantes nos principais campeonatos nacionais puder ser considerado um indicador confiável, o remo na Nova Zelandia está encolhendo.

Para aumentar a participação, os clubes precisam oferecer alguma coisa que as pessoas queiram fazer, em um ambiente que elas queiram frequentar. 

Profissionalismo (na atitude, não necessariamente significando remuneração) nos serviços prestados ao cliente (que muitas vezes são os sócios do clube) deve ser uma obrigação (grifo do tradutor).

Imagine que alguém interessado em remar apareça no seu clube (talvez acompanhado dos seus filhos). Como é que você o recebe?
- Olá! Posso tirar suas dúvidas?
- Olá! Você está interessado em remar? Em que posso ajudá-lo?
- Olá! ... claro que você pode remar. Aqui está o folheto com as datas e os horários das aulas. Quer conhecer a garagem?
- Lamento, mas não temos nenhum programa para pessoas dessa idade.
- Sinto muito, mas seu filho (a) é muito jovem. Volte daqui a uns dois anos.
- Lamento, você está muito velho para começar a remar.
- Tudo bem! Primeiro você ficará dois anos remando neste barco ( e mostra-lhe um barco de madeira, já preto de tão encharcado, e os metais verdes, de tanto azinhavre). Foi nele que o pessoal treinou para a Olimpíada de 1936.


Muitos clubes de remo que conheci aqui na Nova Zelandia e no Canada são empoeirados, o chão frequentemente molhado, cheios de sucatas que não são usadas há muitos anos. Vestiários, quando existem, são frios, húmidos, escuros e fedorentos, e chuveiros, quando há, funcionam mal. É comum não haver um lugar onde sentar e relaxar enquanto se espera o filho(a), ou seja quem for, terminar o treino, ou para fazer uma reunião. É claro que alguns clubes são melhores em algumas coisas do que outros. Mas se o ambiente fosse prioritário na minha lista, provavelmente eu nunca teria começado a remar. O clube onde me iniciei tinha buracos no assoalho, o equipamento era ruim e a garagem apenas servia de abrigo contra os elementos (quatro anos depois, foi condenada e submetida a uma reforma que custou 1 milhão de dólares). 



Mesmo clubes mais novos têm seu estoque de quinquilharias jogadas nos cantos, que não servem para nada, mas são guardadas “porque um dia podem servir para consertar um carrinho quebrado”, mesmo quando não há na garagem mais nenhum barco com aquele tipo de carrinho.

E já esqueceram de como são tratados os iniciantes? Tanto nas regatas como nos clubes, eles são a escória. Todos riem quando os vêem lutando para aprender a remar num barco jurássico, que nem dá para regular. E tem gente que ainda fica surpresa com o alto índice de desistências.

Se um clube quer crescer, pessoas com esse tipo de atitude têm que se ajustar, mudar seu enfoque, ou então deixar o clube, a fim de que este se torne um lugar agradável.

Aqui vai minha proposta para clubes que estão interessados em atrair sócios de todos os níveis, o que pode significar mais voluntários para os trabalhos administrativos, bem como para levantar fundos e para tornar o clube um lugar gostoso de frequentar.

1. LIMPE O LOCAL
Barcos velhos que não são mais usados: Você quer guardar a proa, porque lá está escrito o nome do doador? Serre-a e pendure-a na parede. Ou então limpe o barco e venda-o para algum bar ou loja pendurá-lo no teto, a fim de dar-lhe um “ar” diferente. Se surgir algum clube que está iniciando as atividades e precisa de barcos, ou alguém cujo hobby seja restaurar barcos velhos, doe-o, senão use-o para acender sua lareira.

Peças velhas: Transforme algumas pás velhas em troféus e doe, venda ou use-as em comemorações da velha guarda. Porque não tentar vendê-las para remadores aposentados, a fim de conseguir algum dinheiro? Transforme aqueles finca-pés de 30 anos em cavacos e as braçadeiras enferrujadas em sucata. Velhas peças em latão (forquetas e eixos de carrinhos, por exemplo) podem ser vendidas como souvenirs ou para o ferro-velho. Embora isso não renda muito dinheiro, será preferível a ter que pagar alguém para retirar o entulho.

Garagem: Deve ser varrida regularmente. O que estiver largado no chão deve ser posto em armários, prateleiras ou posto no lixo. Latas com restos de cola e de verniz secos, pincéis duros, etc. não servem mais para nada. Embora o pessoal do remo, historicamente, adore guardar essas porcarias, é preciso livrar-se delas.

Pintura: Escolha uma cor clara, de modo a poder economizar luz elétrica.

Iluminação: É preciso iluminação suficiente para você enxergar bem o que está fazendo. As lâmpadas fluorescentes são mais eficientes que as incandescentes.

Vestiários: Isso é mais caro. Luminárias, bancos, pisos de fácil manutenção, aquecimento, instalações sanitárias que funcionem e não vivam cheirando mal, chuveiros que funcionen e que sejam sempre limpos, etc.

Segurança: Sempre deverá haver uma lancha na água quando adolescentes ou mesmo adultos aprendendo a remar estiverem treinando. Quem estiver na lancha deve ter conhecimento de primeiros socorros.




2. ORGANIZE UMA ESCOLINHA
- Fixe taxas que cubram os custos do curso e garantam um pequeno lucro.
- Elabore um currículo que habilite o aluno a executar o remo básico em pouco tempo.
- Divulgue sua escolinha na comunidade. Aceite apenas inscrições com o respectivo pagamento adiantado. Confirme as inscrições.
- Assegure-se de que os barcos que a escolinha usará funcionam bem. Nada expulsará mais rapidamente um aluno da escolinha do que um equipamento que não funcione a contento.


- Os barcos da escolinha devem estar disponíveis na hora da aula começar e seus instrutores devem ter prioridade no uso da(s) lancha(s).
- Use pessoal do próprio clube para dar aulas (técnicos e atletas). Pague para eles fazerem isso (com dinheiro da escolinha) e exija deles uma instrução de qualidade, cumprimento de horários e um padrão de comportamento. Se o clube cobrar 120 dólares de cada aluno (numa turma de 8 ou 16 alunos) por um curso de 4 semanas de duração, serão 960 ou 1.920 dólares no mês, dando para pagar 10 dólares ou mais por hora para os instrutores. Pode não ser um monte de dinheiro, mas um instrutor não tem o salário de um técnico-chefe. Se algum instrutor não quiser receber, o dinheiro deverá ser destinado a um fundo para compra de equipamentos (ou para dar bolsas a alunos pobres).
- Ao final do curso, organize uma mini-regata e um churrasco, para comemorar.
- Se os alunos da escolinha participaram de 8 ou 12 treinos no período de 4 semanas (2 a 3 treinos por semana) eles terão condições de decidir se querem ou não continuar remando. O clube, então, poderá oferecer-lhes programas mais avançados, introduzindo-os no remo recreativo ou até competitivo. Pode também convidá-los a se associarem ao clube, pagando uma taxa menor. Os que se destacarem poderão ser convidados para fazer parte da equipe. Os demais deverão poder remar recreativamente, apenas para seu prazer.
- A escolinha pode ter uma turma às segundas, quartas e sextas (opcional) e outra às terças, quintas e sextas (opcional). Pode haver uma turma de manhã e duas à tarde. Ou até mais, dependendo da procura e da disponibilidade do clube.

- Use parte do lucro para dar bolsas ao pessoal carente (isso é bom para a imagem do clube junto à comunidade) e para comprar barcos e outros equipamentos (ergômetros, pesos, etc. para serem usados nos dias em que for impossível remar). Tente adquirir um barco novo todo ano. Sempre que o fizer, desfaça-se de um barco velho. Essas providências ajudarão a manter o pessoal no clube e longe das academias.
- A taxa da escolinha deve refletir a realidade (quanto o clube precisa para mantê-la funcionando). É bom também não esquecer que quando uma coisa é muito barata, as pessoas acham que não presta.
- É importante que a escolinha tenha um coordenador (pode ser um profissional contratado em tempo parcial), para, entre outras coisas, evitar que os alunos fiquem embromando, e que o pessoal da equipe fique gozando-os.

Estas sugestões provavelmente vão gerar reclamações de alguns. Por alguma razão, certas pessoas se ligam a um barco ou a um remo que já não usados há 15 anos. Ora, se é apenas um barco que não é mais usado, porque guardá-lo? Muitos defendem que iniciantes devem remar em velhas catraias “irreguláveis” porque foi assim que eles começaram e os novos devem passar pelo mesmo sacrifício. Creio que esta é uma forma de frustar os iniciantes e de expulsá-los do clube.



Dêem-lhes um bom equipamento, que funcione e possa ser regulado para que remem bem. De preferência, um equipamento tão bom que a equipe do clube possa usá-lo, se for preciso. Se a equipe do clube não rema num barco porque ele sempre quebra ou porque não pode ser regulado para remar bem, porque alguém pode achar que um iniciante será capaz de aprender a remar bem nele?

Ouvi falar de um estudo feito na Alemanha, há alguns anos, onde deram a um grupo de iniciantes um barco sem condições de regulagem e um técnico em tempo integral, e ao outro grupo um barco adequadamente regulado e nenhum técnico. Após um período de treinamento, o pessoal do barco bom, mas sem técnico, andava mais rápido do que o pessoal do barco ruim, com técnico. 

Então, porque não dar aos iniciantes um barco bom e um técnico, para que possam andar rápido mais cedo?


Com bons barcos e bons treinadores um remador é capaz de parecer um senior experiente após uma ou duas temporadas, se demorar tanto. Sei que isso é possível, pois eu mesmo já treinei atletas que integraram a equipe nacional B após somente uma ou duas temporadas e, depois, a equipe nacional A Uma das razões é que eles não precisaram retroceder, remando velhas catraias. 

Nem lhes foi dito que teriam que treinar durante décadas, antes que alcançassem nível internacional. Em alguns casos, os barcos eram velhos, mas em bom estado e remáveis.

O livro Rudern, de Ernest Herberger, afirma que alguém com um treinamento generalizado, que comece a remar aos 18 anos de idade, poderá estar apto a subir no pódio no prazo de quatro anos. Eu creio que isso é verdadeiro - difícil, mas verdadeiro."






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